terça-feira, 20 de julho de 2010

Edna Rosa

O circo estava na cidade havia dois dias e Edna roía o sabugo dos dedos enquanto esperava o domingo chegar. O vestido azul de florzinhas amarelas estava separado desde quarta-feira, com a pequena bolsa de crochê, o sapato preto da missa e até a calcinha, a mais nova.


E quando o domingo chegou? Que alegria! Não, estava de castigo pelas notas baixas no boletim, e teve que escapulir pela janela dos fundos quando a mãe e a irmã mais velha saíram para a igreja.

E lá foi Edna, pelo caminho de barro, atrás do circo.

Embaixo da lona tudo era colorido, surpreendente, estranho, deslumbrante e mágico como ela tinha imaginado, e Edna não parava de rir e tentar absorver o que via ao redor, sabendo que dali em diante não conseguiria mais ser a mesma. Quando voltou para casa, se esgueirando entre as roupas no varal, tinha os olhos cheios de encantamento e sonhos, e soube o que deveria fazer.

Era uma bela manhã de sol. Edna se vestiu para o colégio, tomou café com pão, colocou a mochila nas costas e saiu, seguindo o caminho de barro até chegar à estrada, que não levava ao colégio. Ela andava e sonhava com o amor do trapezista e a amizade do palhaço, uma vida com mais alegria, solta no mundo, vestida de malha rosa. Edna Rosa seria seu novo nome!

Dois quilômetros depois, o terreno onde ela conhecera o circo. Só o descampado, sem a lona armada, sem o trailer dos artistas, a barraca de doces, o carrinho de pipoca, a bilheteria, a gente toda, o riso. Edna piscou uma vez, outra e mais outra. Nada havia além de marcas no chão.

Edna chorou um pouco, mas não voltou para casa. Mirou o horizonte limpo e seguiu atrás da fantasia de menina, de dias cor-de-rosa que a aguardavam mais adiante.

7 comentários:

disse...

Que lindo...e triste!
Bjoo

Cayo Candido disse...

Bonito!

Luna Sanchez disse...

Ela não foi mais a mesma, de fato. Às vezes a gente não compreende que a mudança não se dá de forma direta, não consegue ler nas entrelinhas, né?

A Edna compreendeu, leu. E a Edna Rosa seguiu seu rumo.

Adorei, adorei! Só podia ser coisa tua, dona moça.

=)

Beijos, dois.

ℓυηα

Alline disse...

Cá:
Mas é justamente pra ser o contrário - a Edna vai atrás do seu sonho. ;)

Beeijo!

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Cayo:
Brigada!! =D

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Luna:
Ela viu o que precisava ver pra ir atrás dos seus sonhos. Quando rascunhei essa história no final ela voltava pra casa, pra vida que não era dela. Ontem pensei: Ah, quer saber? Ela não vai se conformar". E Mudei o rumo de tudo, afinal ali estão minhas crias. hehehe
Se queres saber, te acho uma moça muito gentil. Viuuuu?

Beeeeeeeijuu!

Eraldo Paulino disse...

Eu não achei triste, como comentário. Achei lindo e LINDO. Prefiro uma história que não seja a lá ursinhos carinhosos mas que seja real, mais do que verídica inclusive.

Bjs, querida!

Marco Henrique Strauss disse...

Talvez não tenha nada a ver, talvez tenha. Mas acontece igual no dia à dia. Às vezes as mudanças estão tão à cara, porém outras vezes são difíceis de encontrar, então basta 'seguirmos pelo horizonte' e nós a encontrarmos. É a história de ir a montanha, blablabla. hahahaha
Gostei do texto. Bem bom.

http://marcostrauss.blogspot.com/

M.M. disse...

Essa capacidade de acreditar e ir, literalmente ou não, atrás dos sonhos é encantadora! E dá para mantê-la, mesmo que de forma diferente...

beijo

MeninaMisteriosa