quinta-feira, 29 de julho de 2010

cinco

DOÇURA PERIGOSA


João gostava de dar umas palmadas e eu gostava de sentir a mão dele descer na minha bunda. Às vezes ele exagerava, e nunca reclamei ou pedi para parar, pois descobri que podia ser muito mais vibrante que um jantar à luz de velas. Assim fomos indo, sem freio nenhum. Ele me presenteava com sapatos altíssimos que eu deveria usar na hora do sexo para satisfazer sua tara. Com isso eu até consegui me acostumar. Os ciúmes é que me deixavam puta da vida. Aí terminava a exicitação. Ele agindo como meu dono... começou a perder a graça. Só por isso.

Desde o início ele sabia que eu trabalhava na noite e que era comum um ou outro cara vir me pedir o telefone ou dizer gracinhas à beira do palco. E daí? Se reparava que eu sorria para a plateia, vinha com interrogatório mais tarde e a desconfiança aumentava e discutíamos, às vezes na frente da banda. No outro dia estava ligando para Tom, o guitarrista. Desculpa pela cena, cara. João bebeu, mas tô bem. Nos falamos depois, tá?

E João não suportava me ver com Gabriel, mesmo que Karen ou nossos amigos estivessem por perto. Com este concordo que tinha certa razão de se preocupar. Existia atração entre nós, o que eu não admitiria nem sob tortura, pelo amor de Deus.

E Gabriel não saía lá de casa, eu escondia isso de João, não sou boba. Quarta, meu dia de folga, estava de pé na cozinha comendo brigadeiro na panela. Gabriel chegou sem fazer barulho:

- O que tem aí? – ganhei um beijo no ombro. Isso estava virando um costume excitante demais para que eu pudesse resistir.

Disfarcei:

- Como você entrou aqui, Gabo?

- Eu tenho a chave.

- Como assim? Você não mora mais aqui.

- Não te preocupa, a Susi avisou que hoje tem desfile e a Karen vai sair de lá bem tarde.

- Essa é uma péssima ideia, você sabe.

- Tô sabendo. Quer ajuda pra comer esse negócio? – me beijou na nuca.

Gabriel estava com o pau meio duro – senti quando se encostou. Mas já? E foi me confundindo, me pegando de jeito e enfiando a língua em minha boca. Me afastei sem a mínima vontade de me afastar, eu não queria me afastar, queria ficar entre as pernas dele.

- A Karen disse pra eu tomar cuidado com você, primo– continuei mexendo na panela para fugir. – Ela disse que você não fica com ninguém por muito tempo. Toma, experimenta!

Ele pegou a colher, me pegou pelo braço. Tentei resistir:

- Para com isso, Gabo. Eu tenho namorado!

- Namorado? Aquele cara não é teu namorado, vai. Podia ser teu tio, teu pai, qualquer coisa, menos namorado. Não entendo o que você viu nele.

Ele passou o dedo na massa pastosa e lambeu e me ofereceu o dedo lambuzado, a boca... Simplesmente não havia mais como me defender. Me imaginei coberta de brigadeiro morno, ele começando a me lamber inteira e me desnudar o corpo e me preparar para o sexo.

O beijo doce e melado afastou a culpa para um lugar bem distante e me fez aceitar a mão que saiu depressa do pescoço e foi parar no quadril, me segurando. Não sei como explicar, mas tiramos a roupa um do outro muito rápido, ávidos pelo contato que antes era só brincadeira entre primos. Não mais.

Ele me apoiou na beira na mesa, estava pronto. Que complicação poderia haver nisso? O olhar oscilando entre o pau e a boca suja de chocolate, o corpo todo quente, oferecido. Gabriel se aproximou, eu disse que era mais em cima, lambi os lábios com o resto do brigadeiro vendo-o entrar em mim sem pedir licença. O telefone tocou, senti Gabriel comigo, completo. O telefone tocou tantas vezes que me assustou. João?! Pressenti encrenca... Será que ele percebeu? Nós vamos jantar hoje? Tem certeza que você me avisou? Tá, tá, me visto num instante. Espera que eu já desço.

Encurtando a história, calcei os saltos, vesti o primeiro vestido que encontrei e corri para não dar tempo de João subir. Deixei Gabriel de pau na mão, no meio da cozinha. Durante o jantar eu daria um jeito de ir ao banheiro me lavar. Um homem deve sentir o cheiro de outro em seu território, não? Na dúvida, melhor não arriscar.



quarta-feira, 28 de julho de 2010

aconteceu, mas não comigo...

A moça aceita sair com o rapaz para tomar cerveja, os dois passam um tempo juntos e se divertem, se dão bem. Ele sente que há química e que os dois estão a fim. Quando vão se despedir, ele se aproxima para beijá-la - na boca, claro. Ela se afasta e diz que tem namorado e que no outro dia eles completarão 3 anos de relação. Quê?!

Essa moça:


a) estava a fim de companhia - sem sexo - e seu jeito sedutor acabou criando uma falsa impressão.
b) queria muito ficar com o rapaz, mas teve medo das consequências na hora agá.
c) ainda não sabe o que quer e as cervejas não a ajudaram a decidir.
d) cansou do namorado e quer arrumar outro, mas não sai beijando na boca no primeiro encontro.
e) n.d.a.

terça-feira, 27 de julho de 2010

papai do céu não gosta

Dudu, 5 anos, foi cutucar a saia da mãe na cozinha, durante um jantar:
- Mamãe, gente come bunda?
- Hein? De onde você tirou isso, garoto?
- O papai que disse.
- Ele disse isso?
- Eu juro!
- Diz pra mim o que foi que ele disse, meu filho.
- Ele tava dizendo pra tia Sandra lá na sala que queria comer a bunda dela.
- Ai, não! A Sandra não!
- Isso é ruim, mamãe?
- Hum... hããã... não, não, Dudu. Isso quer dizer que seu pai está querendo sair da dieta e pode passar mal.
- Ele pode morrer se comer a bunda da tia Sandra, mamãe?
- É, Dudu, é mais ou menos isso. Papai do céu não gosta de quem come bunda.

Dudu entendeu bem o recado e nunca se atreveu a cometer o pecado de comer uma bunda e morrer de indigestão. Namorou, casou, teve três filhos com Andréia e seguiu sua vida. Já Andréia tratou de saciar a curiosidade sobre bunda e afins com o vizinho da rua de baixo. Que papai do céu a perdoe!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

a semana começa,
meu bem.
e começa bem

Fui pra minha terceira semana de academia e conquistei com muito suor um exercício de glúteo que não atrapalha um princípio besta de hérnia de disco. Se me sinto bem? Me sinto ótima! A calcinha não entrou na bunda, o banho de endorfinas foi uma delícia e, mesmo que isso seja ilusão de ótica, acho que estou voltando à minha forma original. Porque eu não quero ter o corpo de ninguém, não, eu quero o meu mesmo, em versão melhorada. Pode ser? Pode. Vai ser. Escreve aí.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

bônus*

quatro

ABERTA PARA A VIDA

Ainda pensei em Bernardo enquanto tentava me ajeitar na cama e meu corpo todo doía e continuei querendo que ele viesse. Pensei em João. Poderia ser o jeito de deixar Bernardo para trás.

E foi João quem estranhou a ligação depois de uma semana e foi menos caloroso do que eu esperava. Vai ver que já me jogou no arquivo morto. E daí? Avisei que estava bem e queria agradecer pela ajuda. Ah, o meu dente? O dentista colocou outro no lugar. E com você, tudo bem? Ele ainda estava na produtora, ouvi vozes ao fundo. Àquela hora? João se desculpou, precisava terminar um trabalho. Não duvidei, apesar da decepção com o corte.

Para minha surpresa na noite seguinte ele retornou a ligação mais relaxado. Falamos daquele dia e rimos, o convite surgiu despretensiosamente. Um chopp? Era hora de enterrar Bernardo de vez.

João não demorou a aparecer na porta. Depois de ter as duas mãos beijadas de maneira sedutora vi que a noite prometia tudo, menos monotonia. Vou tomar um banho, se quiser tem cerveja na geladeira. Em seguida eu estava no chuveiro. Girls just want to have fun... Incluí por conta própria o sexo depois do chopp, não haveria de faltar sexo. Imaginei como seria a noite com um cinquentão como João e me deixei levar pelos devaneios. Ele me esperava na sala, ali do lado... Percorri os caminhos que bem conhecia com as mãos ensaboadas. Eu não tinha chuveirinho, usei os dedos,. Gostava desse contato, a água morna escorrendo, vapores, o vai-e-vem preguiçoso. Assim a vida seguiria normalmente sem o passado recente me aborrecendo. E quando eu me referia a passado estava falando de Bernardo.

Quarenta e cinco minutos depois voltei à sala. Depilação na medida. Saltos vertiginosos e dinheiro contado na bolsa, eu não precisava de mais nada. Mas João pediu que eu sentasse. E me olhou de um jeito que até perdi a vontade de sair. Ai, João. Ele elogiou minha sandália, aquela dourada de Karen. As tiras subiam pelas pernas e os olhos dele acompanhavam o couro dourado que me envolvia. João pediu com naturalidade que eu tirasse a roupa. Não as sandálias, deixou isso bem claro. É algum fetiche? Será que ele bebeu? Oh, meu Deus! Hesitei diante da novidade. Tem que ser já? Ele fez que sim, tão calmo que acabei relaxando.

Levantei, me pus sobre os saltos e comecei a tirar a blusa. Era a primeira vez que eu tirava a roupa assim, sendo observada. Tudo bem, no fundo era divertido ver as reações do cara ali na minha frente. Excitadíssimo, passando a mão no pau e encarando meus peitos como um tarado. A saia, joguei na cara dele querendo que viesse logo para cima. Eu queria. João queria? O estranho é que ele continuava com os olhos fixos em mim, ia dos pés aos peitos e esfregava o pau com mais força por cima da calça e eu não sabia mais o que fazer. Quando fui tirar a calcinha ele me puxou para seu colo. Caí desajeitada, de bruços, ele puxou a calcinha até a metade das coxas, alisou bem a bunda e depois me bateu. Que porra é essa? Me assustei, ele não se intimidou. Incrível foi que quase nem doeu, mas no começo me senti constrangida, sem saber como agir.

Fizemos no sofá, eu com os saltos virados para cima, pontiagudos e perigosos, a bunda pegando fogo, toda dormente. Não vi mais olhar de louco dele, aceitei e me entreguei como uma boa menina. Ele queria ficar no comando e eu dei todos os sinais de que estava aberta à proposta.


- Tem um cigarro aí?
- Não. Você ainda quer sair?
- Outro dia.
- Amanhã?
- Não, vou trabalhar. É minha estreia. Sou cantora, sabia?
- E nós?
- O que é que tem?
- Vamos nos ver de novo?
- Pode ser.
- Pode ser? Você é muito cínica.
- E você é muito tarado. Vem, hoje minha prima vai demorar. Dá pra você tirar essa camisa? Eu quero ficar por cima.

E fiquei.



* Ah, deu vontade, vai...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

três

ACIDENTES ACONTECEM



Fiz a matrícula no cursinho sem muito entusiasmo, não havia como escapar, e procurei a produtora para o teste de um comercial de perfume. Eles queriam uma garota jovem e de aparência romântica, o que pareceu distante da minha atual situação de garota sonolenta de cabelo sujo e olheiras.

Quando veio o aviso para esperar uma ligação me dei conta de que devia ter ficado na cama, cheirando os lençóis até babar e lembrando de Bernardo. As mãos na virilha... Ele sabia onde eu morava. A língua me molhando as costas de leve... Ele sabia como fazer! Acendi um cigarro, tinha que fumar mais um, só mais um... Que porra de dia! O que é que falta acontecer? A mulher da recepção me olhou com desdém, decerto era uma não fumante xiita que acenderia um incenso de patchuli assim que eu pusesse os pés na rua. Também não fui com a sua cara.

Liguei para Karen enquanto atravessava a rua. Guarda um pouco de macarrão para mim? Não vi o carro, estava mais atenta à tagarelice de Karen sobre uma festa logo mais. Pode deixar que eu vou. É na casa de quem? Quem é essa Rosana? Tarde demais. Fui arremessada sobre o capô do carro, o celular voou longe... meu celular novo! Escorreguei até bater a cabeça no vidro, aquilo doeu! E não vi mais nada até parar no chão.

Eu ia gritar com o filho da puta que me derrubou, a voz custou a sair. As pernas doeram quando fiz o primeiro movimento para levantar, o peito, os braços, podia sentir cada parte do corpo reclamando pelo baque repentino. Karen falava de uma festa. Como eu iria assim? Tentei apoiar o corpo no carro, queria achar o celular. Só paguei duas prestações dessa bosta... Não conseguia enxergá-lo ao redor. Só via o asfalto.

Um sinal de positivo foi tudo que fiz antes dele começar a berrar que eu não devia atravessar a rua falando ao celular, o que é que eu estava pensando da vida, blá-blá-blá. Estava pronta para dizer umas verdades a ele, mas só consegui cuspir sangue na roupa do homem e mais alguma coisa que na hora não percebi, foi hilário. Ele recuou. Meu dente! Passei a língua e senti o vazio e o gosto de sangue, era o da frente, que faria diferença numa entrevista de emprego. Merda! Isso é pior do que perder o celular!

O homem se apresentou como João e me acomodou no carro de capô amassado. Com os joelhos e cotovelos ralados, atordoada, a roupa suja e menos um dente, eu não tinha alternativa senão aceitar a carona. E foi só por insistência dele que passei pela emergência de um hospital particular para tirar radiografia. Eu não tenho grana pra pagar isso! O médico garantiu que eu estava bem e receitou um analgésico comum se tivesse dor. Os hematomas iriam desaparecer em sete dias, eu só tinha que procurar um dentista logo. Por conta do cartão de crédito da Karen. Ai, meu Deus, me ajuda!

João pagou a conta, ainda bem! E antes de abrir a porta do carro na frente do prédio, me entregou seu cartão. Tá fazendo isso por pena ou com segundas intenções? Eu não tinha como devolver o dinheiro e tinha gosto de sangue na boca, mas não me importei.
- Brigada.
- Você está bem mesmo?
- Eu vou ficar.

Eu quis dar o número do celular, mas não tinha mais um. Prometi ligar outro dia. E terminei nosso “encontro” com um beijo tímido no rosto, quase no canto dos lábios.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

se me pergunta

Ela vem me contar que soube que o marido da amiga fez festa em casa. Detalhe: a amiga está viajando. Ela me pergunta se deve ou não revelar à amiga. Respondo sem pestanejar que não, lógico que não. Ela acha que se jogar a história na conversa quando o casal estiver junto não terá problema. Eu insisto que não é uma atitude legal, pois dar uma festa não é sinônino de traição e ela ainda pode ficar com fama de fofoqueira ou criar uma situação constrangedora entre eles. Que papo brabo esse de "Eu vou te contar uma coisa que ouvi por aí". Já pensou se ouviu errado? Se a pessoa que contou estava de maldade e deu uma floreada no enredo? Um perigo essas pessoas que levam adiante o que ouviram dizer. Cuidado, viu?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Edna Rosa

O circo estava na cidade havia dois dias e Edna roía o sabugo dos dedos enquanto esperava o domingo chegar. O vestido azul de florzinhas amarelas estava separado desde quarta-feira, com a pequena bolsa de crochê, o sapato preto da missa e até a calcinha, a mais nova.


E quando o domingo chegou? Que alegria! Não, estava de castigo pelas notas baixas no boletim, e teve que escapulir pela janela dos fundos quando a mãe e a irmã mais velha saíram para a igreja.

E lá foi Edna, pelo caminho de barro, atrás do circo.

Embaixo da lona tudo era colorido, surpreendente, estranho, deslumbrante e mágico como ela tinha imaginado, e Edna não parava de rir e tentar absorver o que via ao redor, sabendo que dali em diante não conseguiria mais ser a mesma. Quando voltou para casa, se esgueirando entre as roupas no varal, tinha os olhos cheios de encantamento e sonhos, e soube o que deveria fazer.

Era uma bela manhã de sol. Edna se vestiu para o colégio, tomou café com pão, colocou a mochila nas costas e saiu, seguindo o caminho de barro até chegar à estrada, que não levava ao colégio. Ela andava e sonhava com o amor do trapezista e a amizade do palhaço, uma vida com mais alegria, solta no mundo, vestida de malha rosa. Edna Rosa seria seu novo nome!

Dois quilômetros depois, o terreno onde ela conhecera o circo. Só o descampado, sem a lona armada, sem o trailer dos artistas, a barraca de doces, o carrinho de pipoca, a bilheteria, a gente toda, o riso. Edna piscou uma vez, outra e mais outra. Nada havia além de marcas no chão.

Edna chorou um pouco, mas não voltou para casa. Mirou o horizonte limpo e seguiu atrás da fantasia de menina, de dias cor-de-rosa que a aguardavam mais adiante.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

tantas ausências

Não sei por que, mas nunca me interessei em usar o msn. O Skype tive que adotar como ferramenta de comunicação mais dinâmica - no trabalho. Do Orkut ando ausente no sentido literal da coisa, o Facebook continua uma incógnita para mim e fico louca comigo por saber que paguei um ano de conta no Flickr e não postei mais foto nenhuma. Sem falar no Twitter. Nesse eu entrei meio sem querer entrar, me senti pouco à vontade, não escrevi uma linha e fui embora.

Só daqui não saio.

domingo, 18 de julho de 2010

receita para tentar dormir nestes dias FRIUSSSSS

Ingredientes:

- meia de algodão
- meia de lã
- pantufa
- camiseta básica de manga comprida
- pijama de algodão comprido
- pijama de flanela comprido
- cachecol
- cama bem fornida de cobertores
- portas e janelas bem fechadas

Modus faciendi:

- Vestir toda a roupa recomendada e um pouco mais, se necessário, se jogar na cama o mais rápido possível, montar um casulo, observando se não ficou nenhum buraco que pode ser invadido pelo ar gelado da noite. Quando concluir que está enrolado/sufocado/espremido por todas as cobertas e não pode mais mexer os braços, esfregar os pés até sentir-se confortável e começar finalmente a relaxar, contando carneirinhos que pulam a cerca sem sentir frio em trajes de pura lã.

Boa noite, boa semana!
;)


sábado, 17 de julho de 2010

micro-ondas de lado

A tentativa de voltar no tempo e fazer pipoca na panela deu ni
sso:


pipocas revoltadas, enlouquecidas e espocantes se esparramando pelo fogão e muitas risadas minhas.
Tive que fotografar.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

dois

DEPOIS


Muitas vezes é melhor não levar um encontro a sério, incluindo aí o que tive com Bernardo. Aquilo não tinha a menor chance de ir além de uma noite de loucuras e a vida deveria seguir após o beijo, as carícias, as lambidas, a mão lá, a boca ali, o sexo maravilhoso que terminou com nossas pernas entrelaçadas no sofá-cama.

Ele acordou de madrugada tentando não fazer barulho, devia estar acostumado a sair assim, sem se despedir. Puto! Mas eu despertei assim que ele se mexeu sobre mim, senti que iria me esvaziar de sua presença e sem abrir os olhos tentei segurá-lo com pernas e mãos e todas as minhas forças. Puxei, agarrei, capturei o corpo quente de novo. Não vai, não. Ele me colocou de quatro, de costas para ele, em total expectativa, e me segurou, me apalpou e veio sem avisar. Não foi o que eu pedi? Gozei, posso dizer que gozei pela primeira vez nas mãos de um homem que não havia feito perguntas ou bebido comigo, que nada sabia de mim e ainda assim me tomava como se me conhecesse desde sempre. Isso me dava medo, mas também me excitava.

Não sei quanto tempo depois Bernardo se desgrudou de mim e vestiu a camisa xadrez e a calça e saiu. De propósito me fingi de bela profundamente adormecida e consegui enganá-lo, não queria cair na armadilha de perguntar se me ligaria um dia desses. Assim que a porta se fechou escorreguei da cama no escuro e fui fazer xixi. Bem que a Karen podia ter trocado a lâmpada do corredor. Voltei me arrastando, o corpo entregue, mas satisfeito. De manhã ia me matricular no cursinho e tinha um teste do outro lado da cidade. Que horas mesmo? Tapei a cabeça torcendo para que não existisse essa história de sair de casa e eu pudesse ficar na cama até tarde.

Onde andaria Karen que não tinha dormido em casa? Depois sou eu que não aviso... Caí no sono pensando em Bernardo e no que veio depois.

Karen me tirou dos devaneios matinais. Foi entrando e avisou da porta que havia ficado só encostada, um perigo. Já pensou se um engraçadinho entra aqui? Falou, me virei, falou mais e tapei os ouvidos, falou sem parar. Socorro! Abri um olho ainda meio dormindo. Como ela consegue falar tanto? Reclamei do horário, eu sempre reclamava de ter que acordar cedo e dizer bom-dia. Qualquer outra criatura me mandaria à merda.

Karen nem deu bola, me puxou pelo pé.
- Sinto cheiro de sexo aqui. Sexo barato. Mas acho que foi bom, não foi? Sei que não foi com o Gabriel, porque ele ligou atrás de você. Muito folgado esse meu irmão. Pior é que tô achando que ele tá a fim de você.
- Ele anda me rodeando, mas não é nada.
- Cuidado com ele.
- Tá.
- Agora me diz quem é esse outro aí.
- Depois que você fizer um café bem forte pra mim.
Ela não se mexeu. Levantei, ela riu:
- Ele teve que abrir caminho nesse matagal? – riu mais. – Dessa vez você foi má. Podia ter dado uma aparada na cabeleira, né?
- Não enche! Eu gosto assim.
- E ele? Gosta de desbravar florestas? Quem é o cara mesmo?
Abri o jogo sem rodeios enquanto entrava no banho:
- É o cara da vizinha do lado, aquela peituda barulhenta.
- A Helen? Ai, não...
- Ai, sim! Eles brigaram feio ontem, dava para ouvir daqui. Ela mandou o cara embora e sobrou pra mim. Você conhece os dois?
- Pouco. A Helen às vezes bate na porta para pedir um cigarro ou o jornal. O cara é que quase nunca vejo. Ela disse que ele é escritor e jornalista, escritor ou jornalista, alguma coisa assim.
- E ela, faz o quê?
- É filha do dono do jornal onde ele trabalha.
- Caralho!
- Já pensou se essa mulher sonha que você dormiu com o homem dela?

Rimos. Só engoli um café preto, não entrava mais nada, e quis dirigir, já que Karen não fazia questão. Liguei o som. Stones... Please to meet you, hope you guess my name. Ia começar a cantar, mas o toque estridente do celular me interrompeu. Ai, Gabriel de novo não! Fiz sinal para não atender e entrei no estacionamento do cursinho mais distraída do que nunca. Bernardo sobre mim. Bernardo me segurando pela cintura e me comendo no sofá-cama que mal dava para dois. A música dos Stones ainda ecoava em minha cabeça: But what's puzzling you is the nature of my game... Ele tinha a pele quente, a boca faminta, meu corpo se encaixava no dele, se deixava levar… Como esquecer e transformar a última noite em passado?



quarta-feira, 14 de julho de 2010

pra descontrair

Conta o dentista que quando estava em início de carreira um senhor entrou no consultório e se dirigiu à recepcionista:
- Eu trouxe a "prosta" pro doutor ver.
- Não é aqui, senhor, é em outro lugar.
Ele insistiu:
- É aqui, sim. Eu vim de longe pro doutor ver se minha "prosta" tá boa.
A recepcionista quase perdendo a paciência:
- Senhor, o nome do profissional que pode lhe ajudar é U-RO-LO-GIS-TA.
Ele não se conformou:
- Não, me disseram que é aqui mesmo, menina.
- Deve haver algum engano, senhor.
- Espera aí que eu vou te mostrar.
- Não, senhor! Aqui não é lugar...
Ele tirou do bolso uma caixa e, de dentro dela, uma prótese dentária novinha em folha.
- Tá aqui a "prosta", moça. O doutor não pode dar uma olhada rapidinho?
De tão aliviada a recepcionista começou a rir. E o senhor riu também, achando que tinha garantido um horário por sua simpatia e boa capacidade de argumentação.

terça-feira, 13 de julho de 2010

causos bizarros - e reais

I
A moça entrou no consultório do ginecologista para fazer um exame de rotina. Mesmo antes do exame, o médico percebeu um cheiro estranho, desagradável, nauseante... de podre. Fazer o quê? Já que não podia mais se livrar, pediu que a moça se colocasse naquela posição que todo mundo sabe qual é e iniciou o exame. Tchan-tchan! Ele achou um pedaço de carne lá dentro, na vagina dela!!! Chocado e com profundo mal-estar, tirou com pinça o corpo estranho, mandou a moça se lavar no banheiro e depois fez a pergunta que todos fariam: que diabo fazia um resto de bife justo ali? A moça não contou tempo para explicar que aquilo era uma simpatia que lhe fora ensinada por uma amiga. Bastava enrolar um bife e inserir na dita cuja, esperar três dias, fritar a carne "suculenta" e depois chamar o pretendente pro almoço. Era tiro e queda. Tiro e queda foi a infecção que ela arrumou, isso sim.


II
A moça, que não é mais a de cima, conheceu o moço numa festa. Beberam, dançaram, se divertiram juntos a noite toda. Sendo ele um espécime com carro de luxo e polpuda conta no banco, ela achou que não haveria problema - muito pelo contrário - em esticar a balada no apartamento dele. Ela disse sim e embarcou. O apartamento era tudo que ela tinha sonhado, e a moça sequer mostrou-se surpresa com a camisola fina sobre a cama. Pensou, toda convencida, que ele havia pressentido o encontro deles, e vestiu camisola sem hesitar enquanto ele ia um instante ao banheiro. Minutos depois, ele voltou. Trazia nas mãos uma bandeja de prata com o produto de sua ida ao sanitário e ofereceu-o graciosamente - com uma arma apontada para a cabeça da moça. Ou ela comia ou...
Ela comeu, e nunca mais se deixou levar pelos convites aparentemente inofensivos dos moços de boa família da cidade.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ela falou, a TV reproduziu

Disse uma das vaidosas concorrentes ao Mais Bela do Ticen - Terminal de Integração do Centro, lugar onde o povo pega ônibus:

Cada pessoa tem um padrão de beleza.

[Sim, nessa você tem toda razão, garota. Apoiada!
CLAP! CLAP! CLAP! - sou eu batendo palmas.]


Cada um tem que se confiar em si.

[Mas aí já não seria excesso de confiança, hein, moça? Ou excesso de faltas nas aulas de português?]

quinta-feira, 8 de julho de 2010

[CONTINUAÇÃO]

um


DO OUTRO LADO


Naquela noite não iria ter sexo com minha participação do outro lado. Que vergonha, tive a capacidade de colocar um copo na parede para ouvir melhor. No começo as vozes se confundiam, ela falava, ele falava, os dois ao mesmo tempo, era impossível bisbilhotar... Até que a voz dela, estridente e raivosa, se elevou:

- O que é que você tinha que falar com ela?!
- A menina estava cheia de sacolas e eu só apertei um botão.
- Eu vi como ela te olhou. Não, não, vi como vocês se olharam! De menina ela não tem nada!!!!
- Amanhã a gente conversa.
- Não tem amanhã! Não tem mais nada, eu tô de saco cheio disso tudo!
Hesitação. Quase parei de respirar. Ele não esperava por isso. Nem eu.
- Se você não quer conversar agora, tudo bem. Eu vou embora. Você tem meu telefone.

Não ouvi mais vozes. Alguma coisa se quebrou. Eu juro que não abro mais as pernas pra ele. E não ouço, não desejo... nada. Para! Ela não parou de jogar coisas no chão. E de vomitar palavrões. Acho que preferia quando ele metia e ela dava gritinhos afetados. Pelo menos eu tinha a chance de fantasiar sem interferências externas.

Se me restasse algum juízo teria me jogado na cama e tapado os ouvidos, esquecido tudo. “Nina, fica na tua”, Karen diria se estivesse em casa. Quem? Eu? A porta da vizinha se abriu e espiei pelo olho mágico. Bernardo saiu chutando a parede e chamou o elevador. Minha porta também se abriu. Por razões que as partes baixas explicariam é que o puxei para dentro.

A camisa xadrez nem de longe fazia meu gênero, ele parecia bem mais velho que eu, tinha rugas, mas o cheiro era bom. Cheiro de homem... Tão perto! Aposto que até lá embaixo era cheiroso. O perfume devia ser daqueles caros, que eu só compraria para um namorado no cartão, em dez vezes sem juros e muito bem embalado para presente. Perfeito.

Ele estava atônito, não sorria:
- Por que você fez isso? É louca também, é isso?
- Não sei.
- Você deve ter ouvido tudo – passou a mão pelos cabelos. – Helen não é muito discreta.
- É, as paredes são finas...
Desconforto mútuo.
- Então você sabe que agora não é uma boa hora pra gente se conhecer.
- Me desculpa – segurei-o pelo braço. - Se não fosse por mim vocês não teriam brigado. Posso falar com a sua namorada e dizer que a culpa foi minha. Porque a culpa foi minha.
Que solução estúpida! Era tudo que eu não queria – resolver o problema deles.
- Não. Ela só ia ficar mais irritada.
- Espera – o encarei. Ficamos tão próximos que nossa respiração se confundiu. Como não tinha mais palavras para convencê-lo, busquei impulsivamente o beijo que imaginava havia dias. Ele quis se afastar, resistiu... não por muito tempo e fomos nos envolvendo e eu procurei não pensar na vizinha. Ele tocou minha boca com a ponta dos dedos, me olhou. Eu não sabia se podia, mas avancei abrindo a camisa xadrez e me prendi a ele para fazer o que meu corpo pedia. Arrepio. O celular vibrou insistentemente e continuamos nos beijando sem nada dizer. Eu só saberia no outro dia que era Gabriel me chamando para sair. Se Bernardo me considerasse uma louca e só quisesse ficar uma única noite, eu estava pronta. Estava?

Aceitei a língua na minha, provei seu gosto, me deixei explorar. A mão dele entrou no jeans e me fez estremecer com a invasão. As pernas se dobraram involuntariamente e todo meu corpo amoleceu de uma vez. Acabamos no chão, amontoados num canto da sala. Rolei sobre os tacos de madeira para tomar fôlego. Era assim que ele fazia do outro lado...
Ele veio atrás de mim.
- Você é louca.
De novo tão perto. O hálito que era meu também, o meu gosto em sua boca.
- Eu nem sei quem você é.
- Você tá perdido!

Um roçar da língua ao redor da minha boca, que tremia e pedia baixinho para ele continuar. Bernardo começou a beijar e me mordiscar o pescoço e só parava para olhar minhas reações. Impossível disfarçar a excitação quando ele puxou sem paciência o jeans pelos joelhos junto com a calcinha e qualquer pudor que pudesse existir. Ai, vou gemer que nem a outra... Eu estava descoberta e dócil, eu era toda palpitação e quase implorei que me tocasse, me levasse, me possuísse. No primeiro contato cravei as unhas em seus braços. Senti que estava pronta, que era eu e que era outra, inundada de sensações inesperadas, e queria que acontecesse.

Bernardo se livrou do resto da roupa e se juntou a mim, tão íntimo, e nos movimentamos como velhos amantes, num mesmo ritmo. Não havia mais nenhuma barreira entre nós, só a respiração ofegante dele, meu deleite e o ar da noite, úmido, intenso, revelador.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

os três

Estou subindo a Álvaro de Carvalho para ir ao banco e de repente me sinto instigada a parar, mas não paro. Olho os três homens com curiosidade, reparo em tudo que posso até cruzar com eles, absorvo. São segundos, tão poucos! Eles também me olham, mas com olhares de estranhamento. Me recriminam? É que eu sou a mulher de cabelos curtos, unhas pretas, roupas justas e gloss nos lábios, e eles são três caras de túnicas de algodão cru até o tornozelo, cabelo e barba sem corte, sandálias de couro gastas e um acessório na cabeça semelhante ao quipá. Ou era o próprio? Fica a dúvida, entre outras. Teriam caído de paraquedas de um avião vindo do Oriente Médio e estariam perdidos na Ilha? Eu não sei e não fiquei para perguntar aos três. Com aquelas caras de sai daqui, pecadora!, acha que eu me arriscaria? Eu não.
vai que é tua, Freud!

A vizinha aqui de cima - aquela - enche o cachorro de lacinhos e enfeites, fala com ele como se estivesse adiante de uma criança e ainda se intitula mãe do animal.
Acabei de ouvir essa:

Ai, ai, ai, a mamãe já disse que é pra você ir dormir.

Freud, me socorre.
tenho visto coisa

Sabe aquelas meninas na faixa de um ano que ganham duas covinhas lindas quando sorriem e são tão fofas que dá vontade de amassar? O pai de uma delas demonstrou todo seu carinho de torcedor de futebol ao chamá-la:
- Vem cá, minha jabulani!
E a menina foi, meio que tropeçando nas pernas, toda sorrisos, abraçar o papaizinho engraçadinho.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

sessão OPS!

porque eu me engano, tu te enganas, ele se engana.
e porque a vida é uma diversão.

Ele chegou na hora marcada para fazer o exame periódico, aquele que em dez minutos são feitas perguntas de praxe, o sujeito diz o que quer, se quiser também dá uma floreada sobre seu atual estado de conservação, o médico toma nota de tudo com a BIC azul e monta um "superdossiê" de uma página que será enviado em duas vias para a empresa. Assinado e carimbado.

Então... ele sentou de frente para o médico e começou a responder tranquilamente ao que o homem do jaleco branco lia na lista: Fuma? Bebe? Já fez alguma cirurgia? Toma algum tipo de remédio? Tem histórico de doença cardíaca na família? Diabetes? Qual a data da sua primeira menstruação?

Hein?!

Ele, que usa cavanhaque e bigode e nada tem de feminino, entrou no clima:
- Até hoje ainda não menstruei.
O médico ficou intrigado:
- Como não?!
E ainda levou algum tempo até se dar conta de que tinha que variar o script dependendo do sexo de quem entrava no consultório.

Ops, doutor! Acorda!!! Helloooooo! O dia já começou, e era um rapaz aí do outro lado da mesa que estava esperando o laudo "tô bem e posso continuar trabalhando". Pode ser ou tá difícil?

domingo, 4 de julho de 2010

assim sendo

Não respeito
mais as noites.
Vivo
os sonhos,
a fantasia,
o arrebatamento
permeada
de escuridão
e suspiros.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

um

DO OUTRO LADO
E como pode acontecer com qualquer mortal, acabei caindo de amores pelo namorado da vizinha que uivava no apartamento ao lado e não me deixava dormir. A culpa obviamente era das paredes. Finas, não eram capazes de guardar segredos, palavras, sussurros. Ela gemia uma vez, um som curto e estridente, depois duas, três, sons mais longos. Dava uns gritinhos e continuava com a sequência até gozar. O barulho que ele fazia era mais abafado, num ritmo mais espaçado. Só no final o estardalhaço era tanto quanto o dela, eu prestava mais atenção no som que achava ser da respiração dele. Ofegante. Começava com ela. Um “ahhh” que ia aumentando devagar, eu o imaginava se movimentando sobre ela, ondulando o corpo para penetrá-la melhor. Ela não resistia. Vem, vem... E o pedido era atendido, porque os sons ficavam mais nítidos, mais altos, e a cama rangia e batia na parede, eu contava o número de batidas até cansar ou eles pararem. E adormecia quase sempre esquentando a mão entre as pernas, com a cabeça do outro lado.

Numa dessas noites ouvi o nome dele escapar nas preliminares. Bernardo. Aquele que entrava e saía de dentro da vizinha sem nunca ser visto. Não sabia se ele era loiro ou moreno, gordo ou magro, se tinha bigode ou usava óculos, mas conhecia a voz excitada, rouca. Depois de um tempo não me preocupava mais em estudar ou dormir. Encostava a cabeça na parede e esperava. Pelo silêncio deduzia que Bernardo estava tirando a roupa dela. E tirava a roupa também, passava a mão pelo corpo todo como se fosse ele me tocando. Será que faria desse jeito? O biquinho dos peitos ficava duro, em alerta, eu sorria e continuava a acariciá-los, fazia pequenos círculos, apertava, arranhava. Sentia uma quentura avassaladora que dizia para a mão descer mais abaixo do umbigo. E ela descia com afobação, fingindo ser a mão dele que em pensamento me derretia.

Esse foi o início da minha vida em São Paulo, dormindo no sofá-cama de Karen, fazendo pequenos trabalhos e sem nenhuma ideia da cara de Bernardo. Até que ele apareceu em carne, osso e tesão abrindo a porta do elevador quando eu chegava do supermercado. E é claro que a vizinha estava junto, esfregando os peitos descomunais no braço dele. Nós três no elevador... Eram os quadris DELA que se encaixavam nas pernas de Bernardo, as mãos DELA que passeavam pelo cinto dele... Ele me olhava com tranquilidade, eu olhava o princípio de ereção sem acreditar. Tô vendo coisas! Era sinal de que alguém teria sexo. Ainda bem que eu estava com as mãos ocupadas, senão me sentiria tentada a tocá-lo também e levar às últimas consequências a ideia de um ménage. Pensando bem, deixaria a outra de fora para que ele se concentrasse em mim.

Bernardo foi atencioso, quis saber meu andar. Sétimo, obrigada. Nem olhei. O botão se acendeu com o toque, a agitação da outra também.

- Você mora aqui?
Que gentil... E de pau duro. Fiz que sim com a cabeça e sorri:
- Como é seu nome?
A vizinha pigarreou e instintivamente grudou ainda mais o corpo no dele. Aquilo jamais seria uma coceirinha na garganta, parecia mais um aviso, ao qual ele não deu muita atenção:
- Bernardo.
Um sorriso. Todo para mim, aberto, convidativo. E a calça mostrando o volume além do normal. Pena que não era por minha causa, pelo menos por enquanto. Sorri também.
- O meu é Nina. Prazer.
Prazer mesmo seria encostar nele e... ohh... meus lábios entreabriram-se com a imagem que surgiu. Ele percebia meu desejo? A vizinha, sim. Ela apertou o braço dele, eu vi, e pude sentir no mesmo instante o olhar mortal que ela me dirigia. Por sorte o elevador parou. Nos olhamos, os três. Eu o olhei longamente. Descarada. Dessa vez a mulher teria razão de me odiar.
- Se precisar de alguma coisa... – provoquei.
- Eu chamo você.

Ele aceitou a provocação! Saí primeiro para não fazer parte do barraco que ajudei a armar. Eles vieram atrás num silêncio constrangedor, o que não era um bom sinal. A vizinha possessiva e peituda e o namorado de camisa xadrez e pinto já não muito duro, Bernardo. Entendi que a situação não era propícia ao desejo escancarado de momentos antes. Fechei a porta o mais rápido possível e os deixei para trás.



[CONTINUA]