quinta-feira, 1 de julho de 2010

um

DO OUTRO LADO
E como pode acontecer com qualquer mortal, acabei caindo de amores pelo namorado da vizinha que uivava no apartamento ao lado e não me deixava dormir. A culpa obviamente era das paredes. Finas, não eram capazes de guardar segredos, palavras, sussurros. Ela gemia uma vez, um som curto e estridente, depois duas, três, sons mais longos. Dava uns gritinhos e continuava com a sequência até gozar. O barulho que ele fazia era mais abafado, num ritmo mais espaçado. Só no final o estardalhaço era tanto quanto o dela, eu prestava mais atenção no som que achava ser da respiração dele. Ofegante. Começava com ela. Um “ahhh” que ia aumentando devagar, eu o imaginava se movimentando sobre ela, ondulando o corpo para penetrá-la melhor. Ela não resistia. Vem, vem... E o pedido era atendido, porque os sons ficavam mais nítidos, mais altos, e a cama rangia e batia na parede, eu contava o número de batidas até cansar ou eles pararem. E adormecia quase sempre esquentando a mão entre as pernas, com a cabeça do outro lado.

Numa dessas noites ouvi o nome dele escapar nas preliminares. Bernardo. Aquele que entrava e saía de dentro da vizinha sem nunca ser visto. Não sabia se ele era loiro ou moreno, gordo ou magro, se tinha bigode ou usava óculos, mas conhecia a voz excitada, rouca. Depois de um tempo não me preocupava mais em estudar ou dormir. Encostava a cabeça na parede e esperava. Pelo silêncio deduzia que Bernardo estava tirando a roupa dela. E tirava a roupa também, passava a mão pelo corpo todo como se fosse ele me tocando. Será que faria desse jeito? O biquinho dos peitos ficava duro, em alerta, eu sorria e continuava a acariciá-los, fazia pequenos círculos, apertava, arranhava. Sentia uma quentura avassaladora que dizia para a mão descer mais abaixo do umbigo. E ela descia com afobação, fingindo ser a mão dele que em pensamento me derretia.

Esse foi o início da minha vida em São Paulo, dormindo no sofá-cama de Karen, fazendo pequenos trabalhos e sem nenhuma ideia da cara de Bernardo. Até que ele apareceu em carne, osso e tesão abrindo a porta do elevador quando eu chegava do supermercado. E é claro que a vizinha estava junto, esfregando os peitos descomunais no braço dele. Nós três no elevador... Eram os quadris DELA que se encaixavam nas pernas de Bernardo, as mãos DELA que passeavam pelo cinto dele... Ele me olhava com tranquilidade, eu olhava o princípio de ereção sem acreditar. Tô vendo coisas! Era sinal de que alguém teria sexo. Ainda bem que eu estava com as mãos ocupadas, senão me sentiria tentada a tocá-lo também e levar às últimas consequências a ideia de um ménage. Pensando bem, deixaria a outra de fora para que ele se concentrasse em mim.

Bernardo foi atencioso, quis saber meu andar. Sétimo, obrigada. Nem olhei. O botão se acendeu com o toque, a agitação da outra também.

- Você mora aqui?
Que gentil... E de pau duro. Fiz que sim com a cabeça e sorri:
- Como é seu nome?
A vizinha pigarreou e instintivamente grudou ainda mais o corpo no dele. Aquilo jamais seria uma coceirinha na garganta, parecia mais um aviso, ao qual ele não deu muita atenção:
- Bernardo.
Um sorriso. Todo para mim, aberto, convidativo. E a calça mostrando o volume além do normal. Pena que não era por minha causa, pelo menos por enquanto. Sorri também.
- O meu é Nina. Prazer.
Prazer mesmo seria encostar nele e... ohh... meus lábios entreabriram-se com a imagem que surgiu. Ele percebia meu desejo? A vizinha, sim. Ela apertou o braço dele, eu vi, e pude sentir no mesmo instante o olhar mortal que ela me dirigia. Por sorte o elevador parou. Nos olhamos, os três. Eu o olhei longamente. Descarada. Dessa vez a mulher teria razão de me odiar.
- Se precisar de alguma coisa... – provoquei.
- Eu chamo você.

Ele aceitou a provocação! Saí primeiro para não fazer parte do barraco que ajudei a armar. Eles vieram atrás num silêncio constrangedor, o que não era um bom sinal. A vizinha possessiva e peituda e o namorado de camisa xadrez e pinto já não muito duro, Bernardo. Entendi que a situação não era propícia ao desejo escancarado de momentos antes. Fechei a porta o mais rápido possível e os deixei para trás.



[CONTINUA]

6 comentários:

Marco Henrique Strauss disse...

Hahahahahaha! O negócio tá bom. hasuhsushushsuh. Assim que tiver a sequência estarei aqui para lê-la. Tá muito bom, que continue assim ou melhor.

http://marcostrauss.blogspot.com/

Luna Sanchez disse...

De novo, mais uma vez e sempre, a mulherada tendo aquela postura previsível e deselegante, marcando território do jeito errado, o que só faz deixar o cara cheio de si, e a outra mulher se sentindo poderosa...Putz, será que vamos ter que ensinar tudo, para as menos favorecidas de esperteza, Li?

Ehehehehehe

Como a Nina é a minha heroína, quero mais é que a vizinha passe logo a exibir um belo par de chifres, e dos grandes, pra combinar com os peitões.

* Gostoso esse Bernardo, hein?

Beijo, beijo.

ℓυηα

Bàka disse...

Vizinhança divertida, não?! kkk' Espero que venha logo a continuação.

Patrícia Gonçalves disse...

Atiçou o nosso interesse!!!! Parabéns pelo texto! Muito bom!

bj

Alline disse...

Marco:
A sequência não será uma nova parte, mas o final desta, que era muito grande. E tudo acaba bem. Ufa! rsrs

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Luna:
É sentimento de posse, essas garras sobre o homem que estragam tudo. Coisa mais feia, né?
Também torço pela Nina. É uma criatura torta, livre, despirocada.

Bernardo é aquele tipo não exatamente bonito, mas gostoso. Tipo perfeito! Aiiii... rsrs

Beeeeeeeeeeeeeeeijo!

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Rômulo:
Vizinhos sempre dão boas histórias... essa deu. ;)
Tem mais na quinta, OK?

Sylvia Araujo disse...

Ai, ai... nada nas como um Bernardo nossas vidas. hahaha Aguardando a próxima quinta!

Beijoca, Alline!

PS: a palavra de convirmação é encedion - não sei porque, mas associei à incêndio. rs Nada mal!