sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

SÓ PORQUE

Me ame,
me afague,
me entenda,
me respeite,
me elogie,
me presenteie,
me tranquilize,
me queira bem,
me esqueça (de vez em quando),
mas não
me abandone por completo (jamais).

Faria isso por mim?

Eu estou na TPM...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

trinta e um

BANDA NOVA

Foi tudo culpa de Régis, mesmo que ele não tenha tido intenção de aprontar o que aprontou. Quando cheguei ao apartamento, ele estava fritando batata na cozinha, Samuel e Caio conversavam na janela e Eric picava linguicinha e aipim na mesa da sala.

Eric e Samuel vieram me dar um beijo, Caio me abraçou calorosamente, eu sentia falta desse clima com ele, quase fraternal. Digo, até certo ponto.
- Estava com saudades da minha namorada. Por que você sumiu, hein?
- Acho que você ficou melhor sem mim, meu caco.
- Mas minha cama nunca mais foi a mesma. Eu ainda penso que a gente poderia fazer muita loucura juntos. Eu por cima, você por baixo, nuazinha, rebolando pra mim enquanto eu...
- Para! Eu não te aguento! Você é muito cachorro.
- Diz que não gosta que eu paro de querer me encaixar na sua bundinha pequena e gostosa.
- Você bebeu, né? E parece que tá no cio.
- Nem comecei ainda. Tá vendo como você me deixa?
- Vamos pra cozinha ajudar o Régis.
- Só se você me prometer...
- Cala a boca, vem comigo.

Caio veio, para ficar me bolinando à beira do fogão enquanto eu jogava batatas na frigideira.
- Eu quase amo você, sabia?
A mão me arranhando as costas, a voz oscilando no ouvido, tão musical, me dizendo besteiras sem parar, por querer, me excitando com a proximidade.
- O que você vai fazer hoje à noite?
- Vou pra casa dormir.
- Dorme comigo?
- Eu não quero.
- Não é que esse peitinho arrepiado diz.
- Tá. Então eu me corrijo: Eu não devo.
- Vem fazer um som comigo, Nina. Só eu e você. Estou com uma música na cabeça pra escrever no teu corpo. Ao redor do umbigo. Daquele jeito.
- De repente... ai! Mas dessa vez você se masturba pra eu ver.
- Faço TUDO que você quiser.
- Mas só goza dentro de mim.
- A-ham.
Rimos da batata quase queimada e do nosso atrevimento ao pé do ouvido, a poucos metros de Régis. Ele via e ouvia, mas se fingia de morto. Caio me segurava pelos quadris enquanto eu resgatava as batatas escuras do óleo queimado.

Quando acabamos no fogão, eu só tinha vontade de arrumar uma desculpa e ir embora para a cama de Caio. Não queria mais comer ou beber. Não pensava na chuva lá fora. Mas a campanhia tocou e Régis anunciou que era a surpresa da noite. Mal sabia...

Senti um bolo no estômago quando vi que era Tom. Já não tinha os cachos negros, parecia mais velho e sério de cabelo curto e barba por fazer. Antes eu teria corrido para me agarrar ao peito dele, mas agora não me mexia do lugar, ele não se mexia. Tom, o que fiz com você? Eu tinha vergonha de encará-lo. Vergonha de mim, da minha falta de pudor e de amor.

- Lembra daquele cara ali? Aquele que sumiu de repente e deixou a gente na mão? Agora ele resolveu voltar e quer reunir o pessoal de novo. O Eric e o Samuel estão fora, a gente teria que arrumar outro baterista e ficar com um guitarrista só. O que você acha?

Eu achava que Tom não tinha pensando em me incluir nessa reunião e melhor seria enfrentar a chuva lá fora com Caio

- A gente tem que conversar direito. Vamos ver.

Mil perguntas me passaram pela cabeça. Você quer que eu vá ou que eu fique? Você ainda me ama? Ainda tem raiva de mim? Me aceita de volta? Conseguiu parar de fumar? Quer montar uma empresa de animação de festas? Faz batata frita pra mim? Me leva com você pra sempre?

Era tarde demais. O abraço não foi sincero e mal nos olhamos. Mágoa, mágoa, era tudo que os olhos dele me transmitiam. Na rua me deixei encharcar enquanto as pessoas procuravam as marquises. Eu chorava por ter reencontrado meu parceiro e ao mesmo tempo por tê-lo perdido. Caio não sabia da história, mas respeitou meu silêncio e as lágrimas que se disfarçavam de chuva. Gostei mais dele por isso.

Mais adiante parei, olhei para todas as possibilidades que ficaram para trás. Quase não dava para enxergar nada, mas Caio me guiava. Subi na moto e fui.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MIREM-SE NO EXEMPLO DAQUELA MENINA... MAGALI

Chegou o dia em que Magali largou a melancia no colo do menino que trocava as letras e deixou a menina dentuça falando sozinha. Pra que vestidinho amarelo todo dia? Pra que tanta gula? Por que sempre o mesmo enredo? Magali cansou do papel de cabeção coadjuvante e ganhou as ruas. Foi ser feliz... dançando.


All the leaves are brown, and the sky is gray
i've been for a walk, on a winter's day
i'd be safe and warm, if i was in L.A
California, California Dreaming, on such a winter's day



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

trinta

PRIMITIVOS

Era um momento estranho. Havia um mês que não procurava Mateus. Estava absolutamente sozinha, mas ocupada tentando me adaptar à banda de Cris. Eles faziam um som mais pesado, e eu estava empenhada em ajudar com o novo repertório.

Cris me desafiou a enfrentar uma plateia de duzentas pessoas num festival. Se me saísse bem poderia ficar e participar da gravação do próximo CD deles. Isso me interessou mais do que as noites com Mateus.

A primeira música saiu no piloto automático, cantei sem errar sob os olhares desconfiados dele. A próxima tinha letra muito longa e complexa que não consegui memorizar, esqueci da metade para o final e Dênis, o baixista, me salvou no vocal. Outras músicas vieram, Cris parou de me olhar.

Acabamos sem muito aplauso, mas me satisfiz por ter conseguido cantar as dez músicas. Cris continuou me ignorando, nem me olhava na cara. Alguém falou em me levar para casa, era caminho, mas avisei que ia beber com eles. Se não para comemorar, pelo menos para aliviar a tensão, principalmente a minha, pois estava certa de que não tinha lugar para mim na banda.

O boteco mais próximo estava quase vazio. Mal sentou, Cris deu um soco na mesa e gritou que meu timbre não combinava com o som que a banda fazia e que eu tinha arruinado a chance deles. Dei de ombros. Estava diante de um idiota com cara de mal e cheio de tatuagens. Ia chorar, me encolher? Fiz um brinde e virei o corpo inteiro.

Cinco cervejas depois ele mostrava os dentes, o que não combinou nada com seu jeito fechado. Eu? Já não falava mais coisa com coisa. No sétima fui puxada para perto dele. Parei de contar as cervejas, esqueci que ele me chamou de amadora e pedi mais um brinde àquele encontro. Cris levantou o copo praticamente no meu nariz e anunciou que haveria lugar para mim na banda desde que eu passasse a noite com ele. Dênis e Salvador arregalaram os olhos.

Ele não me atraía, sério, e nem para ficar na banda eu faria isso. Mas disse que faria porque tinha bebido e sentia falta de sexo. Dei um grande gole e a saideira teve direito a um rápido beijo de língua e aplauso.

Próxima parada: motel. Quarto 12. Agora não dava para voltar atrás. Reparei no quarto para depois comentar com Karen. A cama redonda era coberta por lençóis de cetim vermelho, mais clichê impossível. Torci para estarem limpos. Chuveiro simples, cortinas velhas, cerveja em lata e salgadinhos de pacote na mesma mesa que as camisinhas. É isso.

Ele estava tropeçando nas próprias pernas, com a calça arriada no joelho, mas não tão bêbado que não pudesse me apertar contra o batente da porta. Me empurrou para dentro do banheiro. Pelo espelho trocamos olhares. Ele não era agradável e eu estava longe de me sentir segura, mas não tinha vontade de ir embora.

Cris me apalpou rápido por trás, tirou meu short. Seria bom se fosse outro, Mateus, Gabriel, Bernardo, tanto fazia. Mas não era, que pena que não era. E não precisei de instruções para entender que deveria me debruçar sobre a pia para que ele viesse.

Desse jeito eu o olhava pelo espelho. Ele ainda não me atraía, mas começou a me excitar quando colocou dois dedos na minha boca repentinamente e usou esses mesmos dedos molhados de saliva para me penetrar. Senti que me tateava por dentro, tentava ir mais e mais fundo. Quando não dava mais para se entranhar para dentro de meu corpo, ele tirou os dedos, me mostrou como eu estava úmida e lambeu cada um com voracidade.

Talvez eu não estivesse muito disposta antes, mas agora...

Não pedi, só me segurei no balcão e o recebi. Karen diria que Cris não era bonito, sedutor ou simpático, mas fodia bem. Sim, era o que ele era melhor assim do que escrevendo letra de música. Ele não me fazia ter qualquer tipo de sentimento especial, era meu sexo que segurava e agarrava e abocanhava o dele, era o que importava. E quanto mais eu o engolia mais ele se rebelava contra mim e investia. Nessa batalha que travamos o gozo furioso foi nosso prêmio.

Na cama redonda apenas dormimos. Foi só um papo de boteco depois do show e não iria se falar mais nisso. Cris me deixou em casa perto das sete e foi embora. Eu não disse naquele momento que foi bom, e foi bom, muito bom, mas eu não queria entrar para a banda.



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A PEIDONA MASCARADA


Estou saindo para trabalhar, atrasada por inteiro. E lá vem o elevador. Salve! Abro a porta e dou de cara com uma mulher cabisbaixa, usando óculos escuros enormes. Ué, mas tá chovendo! Estranho mas entro, e na primeira respirada quase caio dura. Pelas barbas do Gandalf! Alguém peidou aqui e não fui eu!!! Ah, minha filha, agora não adianta tapar a cara e disfarçar, não. Eu não sei o que você fez no verão passado, mas sei que foi você que peidou e está escondendo a cara atrás desses óculos de abelhão.

Tá, tá, vou tentar manter a calma. São cinco andares e só. Tapo uma narina, deixo de respirar o quanto posso. Não dá pra fazer mais nada. O que será que essa infeliz comeu pra estar desse jeito? Deve ter sido um café da manhã atômico no capricho, com ovo e chucrute e direito a segundo round.

Quando penso que não vou aguentar mais, o elevador para e a peidona mascarada praticamente sai correndo, me deixando para trás com
seu mau cheiro.

Vou embora, vou pra rua. Quero ar!!!


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

FICA COM A RAZÃO QUE EU FICO COM O PAPEL


Você diz:
- Fulano, cadê aquele papel que você ia me passar?
Fulano responde:
- Botei aí.

Você procura, revira a mesa e não acha. Você retruca:
- Acho que você não colocou, não.
Fulano insiste:
- Coloquei, sim.

Ele vem, olha os papéis na mesa e não acha aquele que deveria estar.
Você faz o mesmo, para mostrar que de fato o tal papel não foi parar ali.

Fulano tem uma ideia:
- Então alguém tirou, porque eu sei que eu coloquei aí.

Você tem outra ideia - levanta, sai da sala e vai até a impressora. Tcharan! Não é que papel estava ali o tempo todo?

Você mostra ao Fulano:
- Olha aqui.
Mas Fulano não se dobra:
- Alguém tirou da mesa e botou aí, e não fui eu.

O que você vai fazer? Discutir? Teimar? Não, é muita perda de tempo a essas alturas do campeonato. Você pega o papel e vai trabalhar. Deixa que Fulano diga, que pense, que fale. Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que que tem?


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

vinte e nove

MAIS DO QUE PALAVRAS


Quando Mateus me levou para o quarto e chamou Fred e Karen, encarei como uma brincadeira boba para me provocar. Não era, pelo jeito não. E isso aconteceu não porque eu quisesse realizar uma fantasia entre irmãos, mas pela suspeita que ficou daquela noite.

Mais cedo tentei conversar com ele:

- Era ou não era você ? Diz pra mim. Tinha certeza de que era, mas depois fiquei em dúvida, achei que você me olhava no canto da sala. Ou era Fred?

Eu não disse, mas devia: Você não entende, eu quero que seja você, não ele. Por que fez isso comigo? Tem a ver com aquele dia, quando você chegou e me pegou na porta do quarto? Por que você tinha que ter outro tão igual e perturbador?
- E se não fosse eu, o que você faria?
- Nada. Eu queria que fosse você, só isso.
- Você vai saber.

Agora ele iria me mostrar? A vontade que eu tive foi de pedir a Karen que viesse ficar comigo, porque não imaginava o que fazer com os dois nos olhando e precisava me sentir mais confortável antes de tomar qualquer iniciativa. Ficando com ela eu sabia o que ia acontecer, já tinha passado por isso. E com eles? Mas ela caiu nos braços de Fred, que lhe desabotoou a blusa enquanto me encarava. Por que me encarava daquela maneira? E ele continuou, puxando os peitos dela para fora da blusa, apertou cada um e me encarou de novo, como se dissesse que eu seria a próxima. Eu ainda olhava, curiosa. O que eu devia fazer nessa hora? Viramos quatro no espaço de uma cama que era para dois.

Em seguida Karen rolou para o lado de Mateus e chamou sua atenção. Sentou nas coxas dele e a consequência foi um beijo tão cheio de desejo que imaginei se não teriam um caso. Ao ver Mateus excitado com o corpo de Karen, me excitei também. Eu desconfiava, estava quase certa de que tinha sido ele no restaurante japonês, mas precisava me aproximar de Fred para saber.

Percebi que se olharam antes de Karen começar a tirar meu vestido com ajuda de Fred, e isso só aumentou o pressentimento de que havia algum tipo de combinação ali. Mateus ficou de lado com calça desabotoada, só observando. Fechei os olhos e relaxei. Um deles me acariciava a parte interna da coxa, e as carícias iam subindo e se intensificando. Era Karen? Abri os olhos... Era Mateus. Ele usava as mãos para me instigar enquanto Fred procurava minha boca com voracidade e deixava Karen à vontade para roçar seus peitos nos meus, e eu saboreava as sensações que os três me proporcionavam ao mesmo tempo sem pensar no que viria a seguir.

O beijo de Fred foi direto e durou o suficiente para eu sentir que esse homem também me interessava. Ele era agressivo e febril a ponto de meus instintos mandarem eu me afundar nele e ficar, mas tinha medo de me perder e não conseguir voltar. Precisei fugir da boca que me mordia para procurar abrigo nos seios de Karen. Mateus veio atrás dividir comigo esse pequeno prazer. Depois nossas bocas se encontraram no mamilo de Karen, olhamos, nos beijamos e nos agarramos ao corpo dela. Eu já sabia, agora eu sabia que era dele o gosto, que as mãos que me arrebataram foram as mãos dele, as que subiram pelas pernas até encontrar meu sexo. Mas não queria parar por ali.

Por isso facilitei quando Fred se encaixou em mim. Apenas me virei, lânguida, sem reagir, para Fred me penetrar como entendi que era a intenção dele, ou deles. Eu me sentia estranha vendo Mateus me olhar com prazer enquanto eu era possuída por Fred. Mas para ele parecia um prazer, como se pudesse sentir o que eu sentia, ou o que Fred estava experimentando a cada investida.

O prazer do olhar dele me atingiu, e eu não podia mais ser de outro. Beijei Fred e fui na direção de Mateus, cheguei mais perto e o coloquei dentro de mim, me mexi, ele me segurou no colo. No abraço senti um estremecimento, no olhar fui despida de alma, nunca ia esquecer a sensação. Eu já estava gozando. Tremi tanto que quase engasguei, babei, ri. Depois ele. Tombamos entre os lençóis sem nos separar e finalmente nos demos conta de que estávamos sozinhos na cama.

O minivestido colado no corpo não era exatamente uma roupa para desfilar numa manhã de terça-feira. Ah, um café agora... Mateus me deixou na frente do prédio com um beijo longo e sonolento, sem dizer o que eu já sabia, não precisava mais.
Passei quase correndo pelo hall de entrada e acabei esbarrando no homem que vinha com duas caixas grandes.

- Bernardo?

Quem mais poderia ser? Ele me olhou, percebeu a situação.

- Tudo bem?
- Tudo ótimo. Só um pouco de sono.
Pausa necessária.
- Já tomou café?
- Hum... Não.
- Me faz companhia?

A roupa não era nada adequada para um encontro matinal na padaria, mas ninguém olhou mais de uma vez. Eu estava feliz e pedi logo um café sem açúcar e um sonho com bastante creme.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

FIM DE TARDE

Saí do trabalho depois da chuva passar. Quase tropecei em alguma coisa ao atravessar a rua. Um parafuso! Olhei pra ele fixamente e pensei: "Será que fui eu que perdi? Será que é meu?".

Sorri.

Mais um dia de trabalho, menos um parafuso para contar história.
E a vida segue seu rumo, flui suavemente com os pingos que caem, com o riso, o suor, o desejo, o sol surgindo de novo no horizonte, e eu indo com ele.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A GENTE RI, NÃO É?

Estou contando a um colega sobre minha mania de imitar o jeito de falar dos outros. Primeiro foi o da minha professora de Sociologia Urbana, que era pernambucana, o que fez muitos acharem que eu era baiana. Depois veio o sotaque português, e esse não sei explicar de onde veio. Só sei que quando ia ver já estava puxando do bolso pra usar.

Daí conto: tinha entrada na Dits [loja que vende biquínis] e meio sem querer botei o meu melhor sotaque lusitano pra funcionar, pedindo pra olhar umas peças. E não é que colou? A menina do outro lado do balcão pensou mesmo que eu era de lá e não de cá. Ora, pois.

Acabo de dizer que fui confundida com uma portuguesa e outro colega entra na conversa:

- Melhor portuguesa que calabresa, né?

Eu não sei nem o que dizer e ele continua:

- Ou quatro queijos...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

vinte e oito

ELE OU... ELE?

Mateus era o nome do irmão. A boca atrevida de Fred, os olhos convidativos e matreiros que pareciam sorrir o tempo todo. Foi ele que mandou flores do campo e me convidou para o teatro depois de alguns dias. Entendi que era um pretexto para me colocar de pernas para cima na cama – como Karen. Era o que eu gostaria que fosse.

Não. Fomos ao teatro, sentamos lado a lado na sala escura e cheia, vimos uma comédia e gargalhamos juntos. Mateus era leve, me fazia sorrir sem motivo quando me olhava, eu gostava disso. E eu quis porque quis ouvir as histórias da infância dos gêmeos, as disputas, as trapaças, e sugeri um bar para não deixar a noite terminar cedo.

Ele me levou ao seu restaurante preferido, um japonês perto do bar. Eu não tinha fome, mas ele disse que era mais reservado. A garçonete, uma loira de boca grande e olhos puxados, deu a entender que o conhecia e perguntou se queria o lugar de sempre.

Sentamos no chão. Ele encheu um copinho de saquê e me entregou, bebi pela primeira vez. Era forte. Pensei de novo em ser penetrada na beira da cama e o tesão pela loucura voltou. Eu sentia necessidade de tocá-lo, mas não sabia como tomar a iniciativa.

Quando quis mais um copo, ele negou, disse que preferia que eu ficasse lúcida até o fim da noite. Pegou o guardanapo e pediu para me vendar.
- Vamos brincar de quê?
- Você vai ver. Você não vê nada? Tem certeza?
- Com um guardanapo preto nos olhos fica difícil enxergar qualquer coisa. Cuidado comigo, OK?

Ele me deitou na esteira. Beijou-me a palma da mão. Fiquei na expectativa do que poderia acontecer, era tudo que eu podia fazer. Tateei ao redor da esteira e não consegui alcançá-lo. Onde estava Mateus? Ele estava jogando comigo em algum canto da sala, quase achei que tinha me deixado só. Esperei minha vez de jogar. De repente ele chegou do meu lado e me beijou entre os seios, um beijo quente e mais demorado. Mais uma pausa, dessa vez não tão longa. Onde será o próximo beijo? Não conseguia manter as mãos paradas, tentava achá-lo.

- Quieta – sussurrou em meu ouvido.

Obedeci por algum tempo, até senti-lo próximo à virilha, levantando o vestido. Antes que fizesse qualquer coisa abri de leve as pernas.

- Não. Quieta.

E para ter certeza de que eu não tentaria trapacear, me segurou com uma mão e com a outra puxou a calcinha para o lado e acariciou meus pelos, afundou muito de leve os dedos, para me sentir. Eu estava excitada, sim. Eu ardia por ele, eu não pensava mais na cama, eu estava ali sendo acariciada gentilmente e ali podia ficar até amanhecer, com o toque dele.

Ouvi gente falando muito perto. Estariam passando ou ele havia trazido convidados? Apertei os olhos para não descobrir e aguardei. Ele parou, dessa vez por mais tempo. Eu suava, quase não conseguia conter os movimentos, queria procurá-lo, desvendá-lo, saciar a vontade de tê-lo inteiro.

A mão me tocou o rosto, os lábios, meus lábios tão quentes. O dedo contornou o desenho da boca, eu o mordi. Ele me provocou, eu o lambi e mordi, chupei, tinha gosto de saquê. Ele sabia das minhas intenções, eu ainda não entendia direito as dele.

Sem que eu precisasse pedir, sem que ele precisasse dizer, aconteceu. Eu não o via, mas o sentia se mover sobre mim e gozava enquanto o peito dele arfava e ele suava, e eu suava, e nossa respiração era a mesma.

No fim ele tirou a venda e me olhou. Ele era Mateus... ou Fred. E aquele no canto da sala, era quem?


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

FORA DA ZONA DE CONFORTO

Acordada pelo despertador às seis e meia da madrugada, com todos os horários mudados, trabalhando oito horas por dia, a mesa lotada de jobs, o quase título de redatora substituta-mor, empanada com pão de queijo no almoço, correria, sono, café, ansiedade, academia lotada à noite. Será que eu tô sonhando? Não, é vida real mesmo. Vou sobreviver sem sangue, com suor e talvez lágrimas. Arre, e ainda na TPM, no dia oficial de volta ao trabalho. Mas ainda sorrindo, tá? Só de levinho, vai... rsrs