terça-feira, 30 de novembro de 2010

DEVAGAR SE VAI

Certa pessoa exagerou na dose diária de transport e levou "inteiramente de grátis" uma dorzinha chata na coluna. A pessoa não deu bola pra dor, mesmo sabendo que já tem um desgaste aqui, outro ali. Não, ela não para quieta. Quer ser desafiada, ir ao limite, e fazer mais e mais. E isso só podia resultar em mais dor pra ela. Pra mim, né? De tanto insistir tive o castigo merecido.

Hoje estava no shopping experimentando sapatilhas e de repente senti uma fisgada fenomenal na lombar. Ops! Saí da loja com passinhos de gueixa, meio curvada pra frente e torcendo pra achar um táxi no ponto. Não tinha! A vinte minutos de casa, ou eu ia ou sentava num banco pra esperar até sei lá quando. Mas passava das duas, eu tinha saído do trabalho e faria qualquer sacrifício por um prato de comida. Sabe o quê? Eu fui. Ferrada de dor, mas fui. Para um pouquinho, descansa um pouquinho, fingindo não ter pressa, sonhando com um Dorflex e uma cama. E aquele prato de comida antes, lógico. Os vinte minutos viraram trinta, e mais de uma vez disfarcei que olhava a hora enquanto tentava endireitar a postura e seguir. Em vão. A dor não saiu de mim, me seguiu até em casa. Até eu sentar. Até tomar o relaxante muscular e aprender a lição. Uma próxima não vai ter, não.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

vinte e dois

GRINGO

Aprendi a tocar gaita com Caio e quase me convenci de que nossa parceria podia virar algo bem mais sério do que tínhamos naquele momento. Ele mantinha intacto aquele ar musical que me seduziu no começo, mas foi justo a música que o levou de mim. Se ele queria mais espaço na banda, seria eu a renunciar? Desculpa, mas isso não. Não vai dar.

Samuel tentou amenizar dizendo que era uma nova fase para a banda e Eric prometeu que eu não iria perder espaço e poderia compor mais, pena que não consegui levar a sério. Então Caio interferiu para anunciar que deixaria a banda sem pensar duas vezes, era só eu ficar com ele. Falando desse jeito ele só confirmou o que eu já sabia: devia ir embora e me conformar de voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo.


E foi com a proposta absurda de Karen que resolvi mudar o rumo das coisas. Por que não? É certo que seu Érico jamais poderia desconfiar, pois como pai seria incapaz de aceitar a filha caçula posando sem roupa, mesmo que fosse para alunos de belas artes. Então eu não podia dizer a verdade. Definitivamente havia coisas sobre mim que meu pai não poderia saber.


O maior desafio foi abrir o robe no primeiro dia. Achei que ia ser simples, torci para que fosse. Um grupo me esperava no salão, e não havia como fugir alegando um ataque de pudor repentino. Eu devia, sim, subir no pequeno palco, me posicionar e permanecer imóvel dali em diante. “Seja natural”, disse uma das professoras. Falar é fácil, minha senhora. Prometi fazer o possível. Mas o possível seria suficiente? Bastaria para o professor? Para os alunos?


Abri o robe, os dedos inseguros ao desfazer o laço, e esperei. Olhei para cada um em busca de um sorriso malicioso ou atitudes suspeitas dos alunos diante de minha nudez. Eles foram se colocando em frente ao cavalete e começaram a trabalhar com tamanha concentração que acreditei que o bico dos meus seios fazia parte da decoração. Me tornei um objeto de cena sobre a plataforma e logo entendi o principal – eu estava proibida de me mexer!

Enquanto passeava entre alunos, o professor falava baixo e às vezes apontava para mim, aumentando a tensão. Fora isso, só o barulho do lápis riscando o papel, as folhas sendo viradas, os carros passando lá fora. Fiquei com sede, entediada por estar bancando a estátua. Um cigarro, por favor... Caneta e papel, meu violão... De repente eu queria compor, tocar, ir embora dali.

As cãibras vieram, intensas, nos braços, nas coxas. Depois pequenos espasmos incontroláveis. Por mais que tentasse, não conseguia conter a onda de tremores. Tudo isso valeria a pena? Pensei em procurar Caio e pedir para voltar, quem sabe até João... Por que não dar aulas de piano? Em último caso até o balcão da padaria do seu Érico parecia mais atraente do que aquilo.


O professor encerrou a aula e me cumprimentou com um aceno de cabeça. Já? Todos saíram rapidamente, menos o cara da cicatriz na testa. Só falta vir me pedir outra pose! Torci para ele ir embora também. Ele veio e me entregou o robe, sorriu e se foi, carregando o capacete preto e uma bolsa de couro atravessada no peito. Ei, também não precisa sair correndo... Ele era muito, muito interessante, interessante até acima da média, boca pequena, nariz largo, tinha uma tatuagem que descia pelo pescoço e me fazia imaginar até onde chegaria. Nem me disse o nome, mas foi educado... Me convenci de que uma cama só para mim seria o ideal e não pensei mais nele.


Na sessão seguinte estava mais disposta – até alegre – à base de relaxante muscular. Ele, o da cicatriz na testa, estava de pé à minha direita e eu não podia fazer nada. Fiquei deitada sobre a chaise vermelha de acordo com as instruções, as pernas meio dobradas, os braços caídos para os lados, quase encostados no chão, sem poder sussurrar Me encontra fora daqui pra gente se conhecer. Não ri, mas tive vontade.


Evitei me aproximar, porque assim a professora recomendou. Nada de amizade com os alunos. Seja profissional, seja profissional. OK. Tentei, mas depois de uma semana ele me ofereceu um cigarro enquanto eu me vestia. Tinha um sotaque esquisito, escolhia cada palavra com hesitação. Suíço, alemão, holandês? Gringo! Paramos na cantina para tomar café feito dois velhos amigos. Acendi o cigarro.
Dieter não disse de onde vinha, mas me deixou à vontade para falar de mim. Falei, peguei mais um cigarro, ele ouvia com atenção, não sei se me entendia ou estava fingindo para ser agradável. O pastel de carne foi dividido em dois, outro cigarro, joguei fumaça na cara dele de propósito para provocá-lo.

Fui para o apartamento de Dieter, sim. Fui porque quis. Lá ele me entregou um baseado, ligou o rádio e veio tirar minha calça. Contando assim dava a impressão de estarmos indo rápido demais, era isso mesmo. Não vi nada de anormal em ceder ao impulso. Ele me deitou como se eu fosse posar, isso me fez rir. Fumamos olhando o teto e eu caí no sono sem que ele tivesse tomado qualquer iniciativa. Eu devia estar em casa com Karen... Ela tinha uma língua pontiaguda que me deixava molhada muito depressa. Minha prima. Dormi sem a língua dela, nem a dele. Mais relaxada com o fumo, mas sem a língua... Tão cansada... Queria gozar. Dormi profundamente. Languidamente ao lado de Dieter, sem saber direito quem era Dieter.


Acordei com uma coceirinha boa entre as pernas, e não era Karen vindo me arrancar da cama. Dieter me lambia como um cachorrinho esfomeado. Ele estava sem roupa e pude ver pela primeira vez que tinha o corpo coberto de tatuagens coloridas que eu não conseguia decifrar, mas que me despertaram a curiosidade. Dieter abriu meus lábios, me sentiu com os dedos, eu estava pronta para ele. Sorriu. Sorri de volta e fui descobrir o que todos aqueles desenhos faziam no corpo do homem que se preparava para ocupar espaço em mim.


[Aqui o que veio antes.]

terça-feira, 23 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Conte sempre com o meu pé

Vou mudar de ideia, agora eu sou uma moça que tem o pé quentinho - e sem chulé, tá? Assim ó: na sexta, quando saía do trabalho, vi os meninos do time do qual sou torcedora saindo do ônibus em direção ao hotel. De tão surpresa não sabia o que dizer, não conseguia reconhecer nenhum deles, que fiasco! Mas fui em frente, cheguei no primeiro que apareceu, juntei as mãos em sinal de prece (que doida!) e desejei que tudo desse certo, que o jogo fosse bom, que eles ganhassem, etc. Ele ficou meio sem saber o que dizer, eu entendo. O cara lá, concentrado pro jogo, e eu agitando ao redor dele. Vê se pode! Tem problema, não. O que interessa é que fizeram três gols nesse domingo e saíram da zona de rebaixamento. Uhu! Tenho ou não o pé de coelho? Digo, o pé quente?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Não liga, não

As duas estão se arrumando para uma festinha na frente do espelho. São irmãs, a mais velha tem 7 anos e a mais nova, 5. A mais velha não se conforma por ter o nariz maior que o da caçula.
- Eu queria saber por que só o meu nariz é assim, tão grandão.
A pequena tenta ajudar:
- Quando Deus fez as pessoas, deu um balaio pra cada anjo colocar as partes nelas. Aí o anjo do nariz tropeçou e caiu em cima do balaio e amassou o seu nariz. Por isso é que ele é desse jeito. Não liga, não.

E não é? Para tudo há uma explicação, seja ela muito ou pouco razoável.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

vinte e um

MARCADA


- Acabou?
Eu estava de bruços na cama dele, esperando a caneta desenhar linhas da esquerda para a direita, até o fim das costas. Deslizava freneticamente às vezes, depois fazia pausas gigantescas e me deixava curiosa. Caio tinha prometido uma música para mim e queria que eu sentisse as palavras na pele.

- Ainda demora?
- Só mais um pouco.
- Você já fez isso alguma vez?
- Eu quis fazer há um tempo, mas a garota não topou.
- Você gostava dela?
- Muito.
- Ela não sabe o que perdeu.
- Você se importa com isso?
- Não. E você?
- Agora eu me importo com você.
- Não brinca – me virei, ele me segurou.
- Eu vou amar você de um jeito que você nunca foi amada.
- Você me assusta! – tentei ficar de barriga para baixo de novo, mas ele sentou nas minhas coxas. – Caio, me deixa ir.
- Não. Você vai ser minha?
- Não!
- E se eu arrancar essa calcinha com os dentes?
- Eu vou correr pro chuveiro e você nunca mais vai ver sua música.
- Nem você.
- Mas eu queria tanto saber o que você escreveu...
- O que você faria para descobrir?
- Lamberia seu dedão do pé.
- Isso não me interessa.
- Beijo de língua de duas horas?
- É pouco.
- Já sei o que você quer.
- Adivinha.
- Quer que eu te chupe?
- Hoje não.
- Então...
- Se masturba pra mim.
- Eu?
- Tá vendo outra moça de peitinho de fora aqui?
- Mas por quê?!
- Eu quero ver como minha namorada faz sem mim.
- Quem disse que eu sou sua namorada?
- Se não é, está convidada. Quer?
- Vou pensar no seu caso.
- Aguardarei uma eternidade por uma palavra sua.
- Você pensa que é só estalar o dedo?
- Claro que não. Primeiro eu vou puxar sua calcinha até os joelhos, depois vou beijar sua boca, e morder seus mamilos. Você vai ficar desinibida e rouca, e aí eu vou poder te ver.
- E aí você vai cantar pra mim?
- Bingo!

O roteiro descrito por Caio me persuadiu. Eu tive um pouco de vergonha quando percebi que ele me olhava fixamente e tapei os olhos com a calcinha.

- Olha pra mim - ele pediu.

Joguei a calcinha na cabeça dele. Não era ruim, era esquisito ter alguém ali me espiando tão de perto. Acho que não dá pra voltar atrás. Hesitei, ele sorriu e me encorajou, então toquei os pelos e parei. Apenas mais uma troca de olhares para eu afundar os dedos e prosseguir sem me desviar do olhar dele. E fui avançando até me sentir confortável com a pressão lá onde ele tanto ansiava. Mesmo que quisesse, não conseguiria mais parar, não podia. Agora não.

A suavidade dos movimentos que começaram aquela loucura toda deu lugar à impaciência dos dedos que procuravam, apertavam, rodeavam, remexiam, queriam arrancar o prazer de mim e mostrá-lo a ele. Ele, que permanecia imóvel e silencioso aos meus pés, se satisfazia com a agitação que não acabava mais entre minhas pernas. E eu continuava desperta, atenta para o abrir e fechar, as ondulações crescentes que avisavam que eu estava pronta e ia gozar alucinadamente. Logo. Mas não ia sossegar até ouvir a música, aquela que fora marcada de propósito em minha pele. Só para mim.



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

OH!

Ei, você aí do outro lado. Você que eventualmente me lê ou sempre passa por aqui. Você sabe quem eu sou? Sabe que eu adoro mudança, movimento, transformação, que sem estímulo minha vida vira um tédio? Esse é meu mundo, é assim que me sinto, mas confesso que o coração bate apreensivo pelo que virá.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

vinte

MUSICAL

Foram duas semanas de ensaio improvisando na guitarra. Sem Tom. De repente surgiu o amigo de um amigo de Eric se dizendo interessado na vaga. Vaga? Ninguém me avisou dessa vaga, senão eu mesma teria convidado pelo menos três conhecidos para o teste.

Ele se apresentou como Caio e pediu permissão para começar sem muita conversa. Sentei no fundo do bar em suspense. Ele não tocava guitarra apenas, também cantava, e bem! Se eu fizesse qualquer crítica iria parecer a invejosa da história. Deixei Samuel e Eric o acompanharem e saí para jogar uma água no rosto.

Os dois me olharam quando voltei, aguardando uma reação. Dei de ombros, depois fiz um sinal de positivo. Ia dizer o quê? Ele ou eu? Ele era mesmo bom e não havia nada que eu pudesse fazer. O próprio veio falar comigo:

- O que você achou?
Eu não iria mentir, não tinha coragem. Ele estava ansioso? Senti que eu estava.
- Por mim você fica. Acho que o Eric e o Samuel também gostaram.
- Você se importaria de dividir os vocais de vez em quando?
Pensei em gritar que não. Nunca.
- Pode ser.
- Canta uma comigo agora?
Quis bater nele.
- Pode ser.

No início cismei que não ia dar certo dividir o palco com ele. Mas ele estava ao meu lado e demonstrava disposição. Lá vamos nós! Deixei que ele escolhesse o tom e desse o primeiro acorde. E esperei que começasse a cantar. Caio me olhou e eu sabia que devia ir com ele. Cantamos uma atrás da outra, acho que foram cinco. Minha voz vibrava como nunca, eu não precisava pensar onde queria chegar. Ele não era fácil de seguir, e em vez de me desencorajar, isso me estimulava a querer alcançá-lo. Ele vinha para o meu lado no mesmo tempo, na mesma batida. Sua boca dizia, cantava, sussurrava, eu respondia o que ela queria ouvir com a mesma intensidade.

Por vezes ele me tocava o braço quando ia pegar o microfone, eu jogava o cabelo em seu rosto, nós ríamos. Caio se encostava em meu ombro, deitava a cabeça e cantava me olhando como se existisse grande intimidade entre nós. Aceitei o papel que a música sugeria e também me insinuei, passando a mão em seus cabelos, no rosto barbudo, nos lábios umedecidos de saliva e belas palavras. Eu desejei o que ele me oferecia, a voz límpida, os olhos claros sobre mim como faróis, a boca que cantava, a boca tão perto da minha. A boca perfeita para um beijo. O que tá acontecendo comigo?!

A música terminou e não emendamos outra. Paramos para nos olhar e tentar adivinhar o que viria. Apenas o microfone nos separava, e continuei desejando-o. Pousei a mão no ombro dele para diminuir a distância e sorri. Vai, pode me beijar agora.

Em vez disso Caio me abraçou forte e agradeceu com umas batidinhas de leve nas costas:
- Valeu mesmo! Você foi muito legal, cara. Teu nome é Nina, não é?
Levei a sério o banho de água fria e devolvi na mesma moeda:
- Meu nome é Nina, seja bem-vindo. Como é o seu mesmo?
Como se eu não soubesse. A química de instantes atrás se desfazia sem a música e eu ainda não tinha feito nada!
- Samuca, me dá uma carona?
- Vou dormir no Eric hoje, Ninotska.
- Eu posso levar você. Eu tô de moto.
Sim, Caio disse isso!
- Deixa só eu pegar a bolsa.
Não levei mais que um minuto para juntar minhas coisas espalhadas e jogar tudo na bolsa. Ele me esperava na porta como um bom menino.
- Eu não sabia como ia conseguir ficar sozinho com você.
- Você vai me levar? - fingi não entender.
- Como prometi. Você tem alguém te esperando em casa?
- Não.
- Vem comigo?

Sorri em resposta e ganhei o capacete reserva. Subi na moto para rodar com ele sem saber o destino. E quanto mais agarrava seu corpo mais crescia e expectativa de conhecê-lo, e quanto mais eu queria mais meus dedos faziam pressão no peito dele.

Caio me levou para muito longe, onde havia um jardim escuro e rodeado de silêncio. Parou embaixo de uma árvore. Foi ali o primeiro beijo e todos os outros. Eu diria até o fim dos meus dias que ele tinha gosto de música, algo que eu nunca saberia explicar nem queria entender. E por isso cantei baixo para ele enquanto me despia e via ele tirar a roupa. E cantei quando me sentou na moto e juntou meus cabelos nas mãos e puxou para trás. Eu não podia com ele, apenas deixei que viesse de uma vez, para estar mais próxima e poder cantar em seu ouvido. Se me arranhava o corpo com seus pelos, eu gostava. Se suava e pingava no meu colo, e esse suor escorria entre os seios e procurava meu sexo, eu delirava e ansiava por mais desse líquido que invadia meu íntimo e me fazia cantar mais alto e mais forte, até gritar por ele.

A noite não era mais tão fria e silenciosa como antes.



terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Jardineiro (In)Fiel

E tem também a história do casal que contrata um jardineiro para ajudar a melhorar o aspecto do jardim da casa. Logo no primeiro dia, o homem repara que o rapaz vai ter um trabalho árduo pela frente e pede à mulher que faça uma comida caprichada. Ela não gosta nem um pouco das artes culinárias, mas se esforça, e ao meio-dia em ponto entrega ao rapaz um prato muito bem abastecido com feijão, arroz, dois ovos fritos, carne e macarrão, e mais um extra com salada. O rapaz, sentado numa das cadeiras da piscina, começa a comer sem nada dizer. A mulher o desafia a comentar sobre a comida:
- Tá bom?
Ao que ele responde, com alguma indiferença:
- Ahhh... normal.



Ahhh se fosse comigo...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

pequenos avanços

Eu hoje joguei tanta coisa fora

Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim

(Paralamas - Tendo a Lua)


Eu joguei, e reverti a ordem. E abandonei o caos, companheiro de muitos momentos.
Papéis no lixo, coisas sem necessidade, sem mais lugar na estante.
Agora eu me acho, agora eu me sei.
Agora eu sou de novo. Agora eu vou.
RENOVADA.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ACADEMIA É ASSIM. É ASSIM MESMO?

Os moços dedicam menos de um minuto ao alongamento, quando o fazem. As moças são mais caprichosas e, se tiver outra moça se alongando também, elas fazem questão de mostrar o quão longe seus braços e pernas são capazes de chegar.

Os moços usam regata e bermudão e está ótimo. As moças, quase todas, usam roupas ultrajustas. Algumas abusam do perfume e da maquiagem. Outras ainda se enfeitam com botox.

Os moços, em sua maioria, cultivam o inexplicável shape sorvete de casquinha - malham braço até morrer e deixam pernas sempre pro outro dia, aquele que nunca chegará. As moças pegam pesado para enxugar, endireitar, tonificar, enrijecer e qualquer outro verbo que as torne mais magras e lindas.

Os moços, os mais velhos, são mais simpáticos e cumprimentam, puxam assunto. Idem para as moças quem têm mais idade. Os mais jovens de ambos os sexos olham sério, torto.

Há moços e moças que tomam banho antes de malhar e usam perfume importado e forte.

Quase todos usam alguma peça da Adidas ou da Nike.

Absolutamente todos são vaidosos.

Quantos admitiriam que são assim?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

dezenove

UMA NOITE DAQUELAS

Samuel nem me deixou começar:
- Vocês brigaram de novo?
- Não, não foi isso. É que a gente se desencontrou ontem e eu queria esclarecer umas coisas.
- O Tom levou tudo quando a gente tava fora. Não deixou bilhete, nada. Não sei o que deu no cara.

Saí com o peito apertado, olhando para os lados para me convencer de que Tom não estava se escondendo em algum beco da vizinhança. Havia o bar na esquina onde a gente costumava passar um tempo. Entrei. O rapaz que servia as mesas perguntou de Tom. Ele não mora mais por aqui, respondi e acendi um cigarro. Pedi uma cerveja, caneta e papel e me esqueci dos problemas enquanto escrevia. Só fui embora depois de encher três folhas de palavras, quando não tinha mais vontade de beber e me sentia vazia. Sem dor, sem remorso, sem querer voltar atrás.

Mas Gabriel me ligou para me tirar do caminho. Gabriel! Meu primo lindo, apressadinho e sem juízo estava de volta. Uma rave? Você sabe que eu não curto... Ah, tá bom. Se me prometer que não vamos ficar até o fim.... Tive um dia esquisito.... Quem vai?... Você me deixa em casa depois?

Embarquei no carro e mais tarde na agitação frenética de braços, sons, pernas, luzes e cabeças. Era tanta gente quando chegamos, pensei em flutuar, achei que estava flutuando mesmo, e mexia os braços ao redor de Gabriel e olhava o céu estrelado e me sacudia toda e pulava fora do ritmo. Era assim que devia ser? As horas... Perdi as contas, perdi o relógio também, ou alguém me roubou. Ainda estava escuro, não tanto quando eu gostaria. Arrumei um jeito de arrastar Gabriel para a moita mais próxima porque não havia coisa melhor para fazer. Vamos, quero brincar. Só não tinha onde me apoiar, que idiotice. Ele tentou puxar a minissaia com sua falta de jeito habitual e me derrubou a alguns metros dos amigos. Meu lado exibicionista amou a ideia de estar sendo observada pelos rapazes que não paravam de dançar e rir. A não ser por um deles, o que lembrava meu irmão Chico. Ô, Chico, quanto tempo... Gabriel me puxava para cima dele, tudo rodava e era colorido e cintilante. Rolei na grama. Preciso ligar pro Chico! Não fomos além dos beijos e os amigos dele ficaram desapontados com a falta de ação.

Ele era o Mu. De Murilo. Mu de vaca, pensei e comecei a rir. Ele juntou a saia e me entregou, já que Gabriel estava mais preocupado em beber. Quanto mais eu o olhava mais notava as semelhanças e mais queria me aproximar. Me apresentei, Gabriel não tinha mais condições de falar decentemente ou ficar de pé. Ah, é você o amigo do Gabriel... Ele foi simpático, me ajudou a limpar a roupa e quis me levar no carro dele. Acho que entre nós ele era o mais lúcido, por isso aceitei.

Íamos os três no carro. Gabriel caído no banco de trás, desacordado. O sol começava a aparecer no horizonte e a batida eletrônica foi ficando fraca... até se misturar ao som da estrada e sumir aos poucos. Eu tinha fome, precisava de um banho, o corpo todo coçava e ainda conseguia me agitar dentro do carro. Mu colocou uma música alta e ficou batucando na direção enquanto dirigia. Não tive medo, me sentia anestesiada e feliz, mesmo que tudo aquilo fosse passageiro. Coloquei os pés no painel e vi que Mu me lembrava ainda mais Chico quando tirava a franja dos olhos a cada cinco minutos. De repente ele parou o carro e saiu sem me dizer o motivo. Fui atrás. Finalmente ele abriu a boca:

- Meu, vai ser um puta dia lindo!
- Acho que sim. Você tem um cigarro?
Ele mexeu nos bolsos, puxou os panos para fora.
- Sem chance. Acabou, meu.

Silêncio. Sentei no capô ao lado dele. Mu tirou de novo a franja dos olhos.

- Meu, o Gabi fala muito de você.
- Fala o quê?
- Que você canta, toca violão e piano, que tem banda.
- Ah, é? E o que mais?
- Ele jura que vocês ainda vão casar.
- Nós? Ah, essa é ótima. Ele é meu primo!
- E daí?
- Não sei. Nunca pensei nisso. O Gabriel é louco. Eu amo ele, mas ele é louco demais.
- Mas vocês dois já...
- Já. Ele falou disso também?
- Um pouco só.

Ficamos novamente em silêncio por mais algum tempo, olhando para o lado. Ele colocou a mão sobre a minha.

- Eu gostei de você.
- Também gostei de você.
- Se você não fosse do Gabi eu ia querer você pra mim. Você é diferente.
- Eu não sou dele! Não sou de ninguém.

Pensei em Chico, não tinha como não pensar. Eles eram muito parecidos. Mas Chico não falaria assim, fiquei curiosa para ver que rumo tomaria aquela conversa. Mu me surpreendeu ao sacar uma arma da cintura e me enfiar o cano no ouvido. Puta que pariu, o que é isso?! O medo era tanto que comecei a rir. O que é que ele quer comigo?

- Então tira a calcinha que eu quero te comer nesse capô.
- Ei, espera.
- Tira logo que eu tô mandando!

Com a pressão firme do cano, agora no pescoço, o riso sumiu. Tirei a calcinha como ele mandou, tremendo inteira. Fiquei com ela embolada nas mãos esperando a próxima ordem. Estávamos numa estrada secundária e as chances de sair correndo e escapar eram mínimas.

- Joga no mato.

Obedeci. Olhei para dentro do carro e vi Gabriel dormindo com um sorriso no canto dos lábios. Seria o fim se eu fizesse alguma bobagem. Agora ele vai me matar, eu sei. Vai me colocar no carro com Gabriel e nos queimar vivos. Que merda de amigo do Gabriel é esse? O cano da arma subiu pela coxa, jurei que não ia chorar até o fim. Ele parou entre as pernas, fez pressão para que eu o sentisse, depois afrouxou a mão. Meu coração sentia urgência. Que aconteça logo então. Ansiava pelo fim da agonia. Mu? Desabou no capô.

- Fala sério que você acreditou...
- Seu idiota! O que é que você tem na cabeça?

Mais aliviada do que com raiva. Quase ri.

- Mas eu não menti quando disse que gostei de você.
- Não chega perto!

Charme, puro charme.

- Nem quando disse que queria te comer em cima do capô...
- Sai fora!

Tentação dos infernos! Tinha que ser tão parecido com Chico???

- Hoje vai fazer um puta dia lindo – repetiu e me beijou a bochecha com bafo de cerveja azeda. Revidei com um tapa, ele me beijou outra vez, dessa vez na boca. Em vão tentei empurrá-lo, ele não saiu do lugar.

- Vai ser aqui mesmo ou você quer procurar um matinho?
- Para!
- Agora você não tem mais calcinha pra te proteger.
- Eu posso me proteger de outro jeito.
- Duvido.
- Então tenta.
- Vou te roubar do Gabi.

Como Mu havia sugerido, o dia estava lindo. E eu não estava pronta para resistir, então me abriguei do sol nele e me servi de seu corpo. E me ondulei sobre o metal quente e pensei que estava tudo bem ele se parecer com Chico. O dia ia continuar lindo com nossos corpos expostos e todo aquele desejo despertado por brincadeira, pelo sol, porque tinha que ser.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

E O PALHAÇO, O QUE É?


* Fotos tiradas numa manhã de sábado, no calçadão - centro de Florianópolis.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CHISTE MATERNO

Mãe entra no quarto e solta esta:
- Alline, acabei de ver um comercial na TV do absorvente Naturella. Naturella deixa a sua pomba mais tranquila.

Eu incrédula:
- Ah, é! Tá brincando. Isso passou no comercial?

Ela rindo:
- Não, não.

E eu ri também, claro.