segunda-feira, 31 de maio de 2010

A MALA

Uma mala foi esquecida na rodoviária. Mala surrada, com um cadeado envolvendo as duas alças. Lá estava o peso morto, largado num canto. Ninguém deu muita atenção nem fez questão de impedir que o mendigo a carregasse. A menina de vestido azul foi a única a perceber que o homem a arrastava para o portão de saída. Ficou olhando a cena, até que sua mãe a puxou pelo braço. O ônibus chegara.

O mendigo não foi longe com aquele trambolho, parou no bar da esquina para tomar um trago. Espalhou-se no balcão sem cerimônia e pediu "umazinha", catando as últimas moedas no bolso e largando-as sobre a fórmica encardida. Bebeu uma e foi posto para fora pela própria dona. Sem a mala.

Na calçada cruzou com um casal jovem e assustado, que pelo jeito acanhado de ambos vinha do interior. O rapaz fez o pedido sem tirar o olho dos ovos na conserva perto do caixa. A moça só desgrudou do braço de seu acompanhante na hora de se atracar com o sanduíche de pão com mortadela.

Quando os dois saíam, fome saciada, a moça viu a mala espremida entre as pernas dos que bebiam no balcão e não pensou duas vezes, agarrou as alças e tratou de apressar o passo sob o olhar atônito do rapaz. Difícil foi entrar com ela no ônibus lotado e conseguir passar na catraca, mas a moça deu um jeito, na esperança de ter roupas novas e limpas.

Tudo corria bem, até que alguém gritou "assalto" e começou o empurra-empurra. O motorista ainda prosseguiu por mais duas quadras, enquanto os assaltantes pegavam o que podiam com canivetes em punho. Um deles, baixote e cheio de espinhas, mandou parar o ônibus. Antes, porém, tascou um beijo na loira de vermelho e foi o primeiro a sair, a boca borrada de batom. Os outros correram atrás e desapareceram, pulando o muro de uma escola. Os passageiros se olharam sem saber exatamente o que fazer, e o jovem casal, que não estava acostumado com essas coisas, saltou no próximo ponto, e a moça nem quis mais saber da mala.

No ponto final os que ficaram comentavam com excitação o ocorrido. O motorista olhou para o cobrador, que olhou para a mala. Se tivesse algo de valor ali não teria sido deixada para trás assim, ambos provavelmente pensaram. E como ela não tinha dono mesmo o cobrador se incumbiu de levá-la embora.

A sogra e os dois filhos estranharam ao vê-lo entrar em casa com a mala debaixo do braço. A algazarra das crianças trouxe para a sala a mulher, as cunhadas, os três irmãos e a avó, curiosos, que ficaram vigiando a mala enquanto ele ia atrás do martelo. O suspense estava criado.

Após algumas pancadas certeiras, o cadeado comido de ferrugem saltou longe. Um olhou para o outro, todos olharam para a mala. O cobrador suava, agora temeroso pelo que podia encontrar, mas igualmente ansioso, querendo acabar de uma vez com o mistério.

Com cuidado, abriu a mala, e o que era agonia virou decepção ao ver roupas comuns de mulher, uma escova de dente velha, batom, pente, um vidro de perfume barato e um pequeno livro de orações. Num canto, quase escondida, ou esquecida, a carteira de identidade de uma tal de Mariléia Enedina dos Santos.

Tanto esforço por umas porcarias usadas!

O ônibus sacolejava e as pessoas reclamavam sem parar do calor. Como de costume, a maioria das janelas estava emperrada. Mal dava para ouvir o rádio, já no último volume graças ao barulho ensurdecedor das conversas e do motor. Entre uma parada e outra, o cobrador se distraía com o livrinho de orações da moça da mala. Marcava as páginas com a identidade dela, enquanto o resto das bugigangas permaneciam bem escondidas embaixo de sua cama, na mala.

No momento em que o locutor anunciou a reportagem policial, todos voltaram a atenção para o rádio. A notícia do assassinato de uma prostituta no banheiro da rodoviária provocou uma onda de comentários sobre o aumento da violência. Ela havia sido estuprada e degolada, e cogitava-se a hipótese de ela ser Mariléia Enedina dos Santos, desaparecida há vários dias, e que, segundo o depoimento de outras prostitutas, estava fugindo do antigo cafetão por causa de uma dívida ligada a drogas.

Então o cobrador abriu o livrinho. Era a mesma mulher! Achou-a um pouco triste na foto, mas ainda assim bonita. Parecia até a prima Gislaine, de repente. Paixão braba não se esquece de uma hora para outra, e olhar para Mariléia era lembrar de um tempo passado, e da prima que fugira de casa recentemente para viver com um peão de obra. Já que não podia fazer mais nada, rezou em pensamento uma Ave-Maria pela alma da pobre da Mariléia e recebeu a contragosto a nota de cinquenta reais do homem que acabara de entrar no ônibus. Assim o troco não ia durar até o final da viagem.



domingo, 30 de maio de 2010

Ó
dúvida
cruel!

Não sei se vou de vermelho, de cinza, marrom, prata... eu sei que vou partir pra mais uma semana. Que seja boa, que seja produtiva. Que seja.


sábado, 29 de maio de 2010

S u r p r e s a !

Estou com a caixa de Band-Aid® recém-comprada na mão e aviso ao namorado que tem 40 unidades e que eu fiz bem em não ter comprado a versão bonitinha da MTV, que vinha com menos da metade e era bem mais cara. Não sei por que, mas namorado disse pra eu abrir a caixa e verificar se a conta de 40 Band-Aids® fechava. Achei o desafio engraçado, pensando que uma máquina era responsável pela embalagem dos curativos e máquinas não costumam errar na conta. Rá! Contei a primeira vez e deu 38. Não é possível, devo ter me enganado! Lá fui eu contar de novo. De novo 38. Ahhh, sacanagem, será que algum deles grudou? A terceira contagem deu o mesmo número. E namorado também contou, pra não dizer que eu estava doida. Paguei por 40 Band-Aids® e trouxe 38 pra casa na caixa lacrada.
Fica a dica: tenha sempre certeza de que você está levando pra casa o que está especificado na embalagem. Leia, conte, verifique.

Da minha parte, só posso dizer que vou mandar um e-mail pra Johnson & Johnson e comunicar esse fato bizarro - a caixa de 40 que continha 38. Tomara que eu receba os dois Band-Aids® que faltam, aqueles que eu mereço, aqueles pelos quais paguei.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Como irritar a chata da sua vizinha - Parte 1

Se ela anda de salto o tempo todo, deixa o cachorro latir e correr pelo apartamento à uma da manhã, arrasta móveis, bate portas e não dá bolas pras minhas reclamações, o que eu posso fazer? Faço barulho também, oras. E vou admitir que ouvir Marilyn Manson ontem - num volume médio - foi um santo remédio. Hoje o silêncio impera ao redor. Ufa...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

RoManCe TorTo

NO SUPERMERCADO
Ele se aproximou com a desculpa de perguntar o preço do biscoito que ela levava no carrinho.

Ela gostou do papo dele.
Ele gostou das pernas dela.

Ele e ela trocaram olhares. Foram tantos que...

Ela aceitou continuar a conversa no apartamento dele.
Ele imaginou como ela seria sem roupa.

A CAMINHO
Ele achou que ela não queria nada sério.
Ela tinha certeza de que seria uma aventura.

NO QUARTO
Ele reparou que ela usava uma calcinha bege meio gasta e pensou que aquilo não era sexy.
Ela imediatamente viu um furo na cueca preta dele e ficou decepcionada.

Ele percebeu que ela precisava de uma boa depilação.
Ela constatou que ELE é quem precisava disso.

Ele pensou em desistir, mas não sabia como mandá-la embora.
Ela não sabia como dizer que queria ir embora para guardar as compras.

MAS...
NA CAMA
Ele gostou do beijo dela, do corpo dela.
Ela se entregou às mãos dele, aos movimentos dele e não se arrependeu.

Ele ficou muito à vontade dentro dela.
Ela ficou tão à vontade que gozou com ele.

Ele não quis que ela fosse embora.
Ela não foi.

A ALFACE MURCHOU NO PORTA-MALAS E ELES CONTINUARAM SE CONHECENDO.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

TUDO É POSSÍVEL

Susan comprou um belo vestido vermelho e convidou Sérgio, o marido, para ir ao cinema e depois jantar na cantina perto de casa.
Mais tarde...
- Benhê, o que você achou do meu vestido novo?
- Tá ótima. Vamos?
- Você não acha que eu fiquei meio barriguda?
- Já disse que está ótima.
- Tem certeza de que não me achou mais gorda?
- Tenho.
- Seu olhar diz outra coisa.
- Você bebeu?
- Não, só queria sua opinião sincera.
- Ah, entendi. Então lá vai: você está acima do peso pros padrões atuais, deveria perder uns dez quilos pra contentar suas amigas, mas eu não me importo com essas besteiras, te amo do jeito que você é. Podemos ir agora?

POSSIBILIDADE 1
Ao ouvir as palavras do marido, Susan saiu da sala chorando e trancou-se no quarto. O casal não foi ao cinema, não jantou fora nem fez sexo nessa ou nas próximas noites. Susan ficou deprimida e viciou no Prozac.

POSSIBILIDADE 2
Susan trocou de roupa quatro vezes antes de se decidir. Quando sentiu que estava confortável dentro de um conjunto velho, desceu para encontrar o marido. Pegaram a próxima sessão.

POSSIBILIDADE 3
Apesar da insegurança, Susan não trocou de roupa para não perder mais tempo. Adorou o filme! No outro dia começou a fazer dieta e se matriculou no pilates. E nunca mais perguntou ao marido se estava gorda.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Disinganado

- Como é que é, malandragem, num vai trabalhar, não?
- Ô mulher, tô sentindo uns negócio aqui por dentro. Hoje é que num vou sair do barraco. Ó só como é que eu tô pegando fogo.
- Ficou louco?! Os homem te manda embora. E os bacuri? A gente nunca passamo fome nessa vida, Bastião.
- Tô com muita dor, minha nega. Num tô guentando. Acho que vou morrer.
- Deixa eu dá uma olhada.
- Os doutô mandou eu ficá sossegado...
- Tu foi vê os médico?
- Tô disinganado, Ceição, foi o que me contaram. Num tem curandeiro que me dê jeito.
- Num vamo desesperar, Bastião. Nós tira um dinheirim debaixo do colchão pra te tratar.
- Ô vida miserávi! Num sou um traidor fio das puta que mexe com as mulher dos outro, boto comida no barraco e nunca neguei um chamego pra tu, Ceição.
- A gente sabemo disso tudo, Bastião.
- Os bacuri tão quase chegando. Qui é que eu vou dizê? Tô suando! Vou borrar nas calça!
- Nós faz que não é nada.
- Ceição?
- Diz, Bastião.
- Tá perto...
- Num diz besteira!
- Queria fazer um último pedido.
- Seu safado! Não me diz que tu tá querendo...
- Daqueles lado de lá num vô podê mais.
- Desembucha, homem! Que é que tu quer da Ceição?
- Um pirãozinho com peixe ia bem pro último almoço. Se tiver uma branquinha, melhor ainda.
- ...


Nada aconteceu com Bastião. Ele foi apenas mais uma vítima de exames trocados. Continua comendo bem, bebendo quase sempre e fazendo dengo pra Ceição, que segura as pontas lavando pra fora enquanto ele procura emprego.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os sem-banho se aproximam. Proteja-se.

Quando os dias de frio dão os primeiros sinais, eles saem de casa aos poucos, não por vontade, mas por obrigação. Sem chuveirada, sem uma passada na bacia ou na torneira da pia mais próxima. E nada de lencinhos umedecidos no sovaco e nas partes. Cheiram a queijo azedo, chulé, suor com perfume, a cachorro molhado. Quem? São os sem-banho, criaturas que proliferam com as baixas temperaturas. E como ainda não existe vacina ou método eficaz de prevenção contra essa antiga praga, a recomendação é fugir de locais fechados e sufocantes, como ônibus e elevadores. Se não puder evitá-los, por favor, tente não respirar fundo. Uma apneia de emergência seria o mais indicado, mas em caso de impedimento, faça uma respiração rápida, olhe para cima e pense que mais cedo ou mais tarde você vai ter oxigênio de novo.

domingo, 23 de maio de 2010

mais uma vez

O amanhecer encabulado
emana um blues vadio
resvala sobre as encostas,
murmura entre as nuvens
e a zarpa, arranhando
a cadência dos ventos:
é quando o dia desperta.
Não tem preço.

Jogar sinuca é bom. Agora jogar sinuca sem compromisso de ganhar, acompanhada de amigos, de uma cerveja e de batatinhas fritas é a delícia suprema com cobertura de marshmallow.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Acerto de contas

Ele chegou com um “Oi, tudo bem?” e foi entrando, como se nunca tivesse ido embora. Não esperava vê-lo tão cedo. Pelo menos não nos próximos cinquenta anos. Fim de relação. Ponto.

- Vim pegar resto das coisas. Espero não estar atrapalhando nada.

Uns livros velhos e outras tralhas sem importância. Grande coisa!

- Tô fazendo um macarrão. Quer?

- Não, obrigado.

- Ainda não separei direito tuas coisas. Não quer voltar amanhã?

Seu namorado em potencial poderia chegar a qualquer momento e um encontro com o ex não era algo que pudesse contornar sem constrangimento. Mais tarde, quem sabe, para provocar uma cena de ciúmes.

- Prefiro que seja hoje. Tem problema? Não quero demorar, tem alguém me esperando lá embaixo.

Isso não passava de pretexto para avisá-la de que havia outra pessoa. Atingi-la, quem sabe. Bendita curiosidade feminina que a fazia fantasiar uma deusa e torcia para que fosse o contrário. Maldita inveja feminina que temia ser a outra uma mulher mais desejável, mais bela, mais...

- Tudo bem, então.

- Esperando alguém?

- Não, ninguém.

E por que não a vingança? Por que não dizer que Eduardo estava quase chegando do supermercado, cheio de compras e de amor para dar? Ah, aquela velha história do revide. Ele é melhor do que você, meu bem.

- Encontrei seu irmão esses dias. Ele comentou sobre um jornalista gaúcho – olhou-a esperando uma afirmação.

Mas que fofoqueiro!

- Ah, o Eduardo... - pausa necessária para criar suspense e valorizar a informação. - É só um amigo com quem saio às vezes.

Um amigo com quem fazia sexo segundas, quartas e sextas e dividia seu macarrão instantâneo depois. E que não reclamava do gosto, nem de uma coisa nem de outra.

- Desculpa, acho que não é mais da minha conta. Os livros ainda estão no mesmo canto?

Livros, livros. Só livros o tempo todo. O que mais se podia esperar de um professor de filosofia? Livros empoeirados, amarelados, caindo aos pedaços, que ele não largava de jeito nenhum. Passara cinco anos implicando com esses livros, jogara alguns fora numa operação de limpeza da qual ele nunca desconfiara. Essa pequena vingança infantil dava-lhe vontade de rir agora.

- Estão. Não mexi em nada.

Por muito pouco não havia jogado tudo fora.

- Vou vender alguns. Onde estou morando não cabe a metade.

“Vender alguns”? A coisa estava realmente ficando séria. Em outros tempos, não tão remotos assim, os livros eram sua vida, sua companhia antes de dormir.

- O quarto está uma bagunça. Nem tive tempo de fazer a cama.

A cama desfeita, os lençóis amarrotados, amontoados. Acordara com Eduardo e tudo ficara daquele jeito. Poderia ser um convite, mas não era.

- Continua tudo igual. Sabe que às vezes eu sinto falta daqui?

Seria o cúmulo agora ele relembrar as últimas cenas de sexo à beira da cama. As investidas noturnas dele. Não perdeu a chance de ser irônica:

- Falta do quê? Do vazamento no banheiro? Ou da janela quebrada?

- Das coisas que a gente fazia.

Aquilo era um olhar malicioso? E aquele tom de voz?

- Jamais vou esquecer que você disse que não dávamos certo. E todas as outras baboseiras que eu tive que ouvir.

- Eu quis dizer fora da cama. Ah, esquece! Com você não dá para conversar mesmo.

- Ah, não, agora fala.

- Eu não ia dizer nada, eu não queria, mas já que VOCÊ TOCOU NO ASSUNTO... você é implicante e não suporta ver alguém se divertir sem você.

- E você é egoísta e... velhaco! Ainda não pagou o jantar de aniversário da tua mãe que eu banquei sozinha.

- Ah, é baixaria?

- Foi você quem pediu.

- Eu sempre te achei morna na cama. Sexo com você era uma obrigação.

- Pois você, meu bem, nunca me fez gozar. Eu fingia o tempo todo. Gemia de tédio, cansada de tentar te ensinar como me tocar.

- Ahhh... sua filha da...!

- Agora é assim? – sentiu a excitação conhecida. – Eu te odeio!

- Então mostra. Vai, mostra que eu quero ver. Estou esperando.

Imaginou-se abrindo o zíper dele. E repetindo as antigas cenas, que nada tinham de fingimento ou tédio.

- O Eduardo vem aí – falou sem muita convicção.

Abriu o zíper. Era quase tarde demais.

- A Cíntia está me esperando no carro – ele conseguiu balbuciar antes de tirar a camiseta dela.

Os corpos seminus, tão próximos. Era tarde demais.

- Será que eles...?

Era tarde.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De última hora

- Meu bem, tenho uma notícia...
- Que foi, Mauro? A empresa faliu, não é? Bem que eu avisei que o negócio era arriscado. Mas você é teimoso, não me ouve, quer fazer tudo do seu jeito. Aí dá nisso.
- Não, não... nem sei como dizer...
- Já sei, não precisa fazer essa cara de choro. Você tem uma amante que está te chantageando, não é? O que ela pediu? Foi dinheiro, foi?
- É muito pior que isso.
- Pior? Você é... gay?
- Minha mãe morreu, Elza! Morreu!!!
- Ah, bom. Por que você não falou duma vez? Preciso mandar lavar aquele terninho do velório da tia Candinha agora mesmo. Você guardou o número da lavanderia? Será que dá tempo?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

LIKE A CANDLE IN THE WIND

Selinho e mais

A Allyne me presenteou, mas demorei a publicar por um detalhe. Qual? Não tinha luz, requisito básico para um post - e para muitas outras coisas. Das 21h27 (sim, eu marquei) em diante foi escuridão total. Perto da uma perdi as esperanças, apaguei as velas e fui tentar dormir.

Allyninha, brigada por lembrar de mim! =)

E as regras, como ficam:

- 2 qualidades - sinceridade / iniciativa.
- 2 defeitos - egoísmo / teimosia.

Minha homenagem é pros blogs por onde ando sempre que posso. Listar só seis é pouco, vai...

A prova de que eu estava fora do ar...





segunda-feira, 17 de maio de 2010

A cena e a dúvida

A moça de legging ultra-apertado está de bunda pra cima, agarrada ao poste de metal do semáforo, num ponto movimentado da cidade, exatamente na hora do rush. Ela:

a) viu que o tênis desamarrou e tentava pôr as coisas em ordem.
b) perdeu o brinco de pérola que sua falecida avó deixou de herança. Coitadinha dela...
c) estava se alongando depois de correr, e não sabia que ali poderia chamar a atenção de TODO mundo.
d) pensava em arrumar um admirador/namorado/marido na esquina da Beira-Mar.
e) é espiã e estava pondo em prática o mais novo disfarce - o de avestruz.

sábado, 15 de maio de 2010

reedição especial - porque eu gosto muito...

PRIMEIRA E ÚLTIMA

Depois da transa ela fica puxando assunto. Ele está com sono, acabado após duas horas de movimentação intensa sobre o colchão de molas. Não existe mais força. Nem para fumar um cigarrinho ou perguntar: "Foi bom pra você?".
Mas não adianta fechar os olhos e tentar engatar um cochilo. Ela insiste, faz massagem para criar um clima, convencida de que uma vez só não basta.
E ele? Ele não liga, ou melhor, desliga. Involuntariamente relaxa, e, virando o corpo, solta um estrondoso pum. Ela não se conforma:
- Isso é tudo que você tem pra me dizer?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quer cabelo curto - e liso? Então toma, fia!

Alline acorda de madrugada - às sete! -, se enfia numa roupa qualquer e corre pro salão. Chega esbaforida às nove, dá um oi pra cabeleireira e se dispõe a começar. Seu cabelo é lavado e recebe uma meleca com cheirinho de esgoto light. Pausa prum papo. Fica com medo de que aquilo escorra no olho e ganha viseira de plástico para proteção contra uma possível cegueira. Ufa! Tá linda! Abafa... hehehe... Hora de lavar, depois de uns quarenta minutos de cabeça refrescante de tinir. Nota o cabelo mais claro, mais seco. Ops, a tinta desbotou. Assiste pelo espelho à sessão escova + chapinha, e recebe no fim as ordens: nada de molhar o cabelo, senão vira Gremlin! Então tá. Corre pra casa depois de 3 horas sentada, toma banho mais ou menos (sem lavar a cabeça? putz!), lasca um talco no couro cabeludo e vai trabalhar. Percebe os fios pesados, grudando. Resolve: ou lava ou tem um ataque de pelanca daqueles. Vai pra casa, espera o outro dia chegar pra correr pro salão. Uai, 24 horas não são suficientes? A cabeleireira camarada já desconfiava dos planos diabólicos de Alline, estava preparada para mais uma sessão de lava, enxuga, hidrata, corta, escova, tá pronta. E lisa!

Fotos? Prometo em breve.

terça-feira, 11 de maio de 2010

trinta e um

QUERO MEU FRANGO COM KETCHUP E MAIONESE


Eu li duas vezes a mensagem que Bernardo mandou pelo celular pedindo desculpas por não ter ido ao show, em seguida apaguei as duas linhas na frente de Karen para mostrar que eu não estava me importando. Ela não acreditou. Tem outros homens interessantes por aí. Provoquei-a perguntando quando ia me apresentar um. Ela pegou o telefone na hora e chamou um tal Álvaro para jantar. Com esse nome devia ser um tipo normal, de camisa de gola pólo abotoada. Antes que eu dissesse mais alguma coisa, ela tirou um vestido do cabide e me entregou. Coloquei-o na frente, era sexy! Não esqueça de se depilar direito. Como se eu não soubesse o que fazer. OK, às vezes eu não sabia... E mais calcinha mínima, salto e maquiagem, para impressionar esse Álvaro que eu nem sabia quem era ou se valeria a pena.

Ele chegou pontualmente às 21 horas. Pelo jeito de me cumprimentar – um aperto de mão que quase me achatou os dedos – senti como seria a noite. Álvaro escolheu o restaurante, o vinho, o prato estrangeiro cujo nome eu não saberia pronunciar e que detestei. Tomara que ele pague a conta também. Ele era tão perfeito que incomodava. Educado, bonito, provavelmente rico e articulado em excesso. Como Karen tem um amigo assim? Pelo tom da conversa concluí que ele era advogado dela, mas isso não me animou, pelo contrário. Procurei ignorá-lo a noite toda para evitar a tentação de ser irônica. As intenções de Karen haviam sido as melhores, e só por isso eu não ia estragar tudo.

Fui ao banheiro quatro vezes para me desvencilhar do grupo e principalmente da presença e das frases inteligentes dele. Retoquei o batom sem pressa para fumar em seguida, fiquei algum tempo sentada no vaso contando azulejos enquanto fazia xixi. Até a última gota pingar no vaso.

Na última vez que voltei à mesa, Álvaro havia acabado de entregar o cartão de crédito ao garçom. Até que enfim! Ele se ofereceu para me levar até em casa sem esconder o olhar de lobo mau. Ai, não!!! Era tudo o que eu não queria, mas Karen implorava com os olhos para que eu desse uma chance a ele. Tá, vou tentar, sua chata!

Entrei no carro pensando em comer o resto do frango assado do almoço com ketchup e maionese. Meu estômago sentia falta de comida de verdade. Comida em quantidade e sem arranjos no prato. Álvaro pediu permissão para acender um cigarro. Enfim algo em comum! Não tive vergonha de pedir uma tragada, ele me passou o cigarro. Perguntou:

- Você quer ir pra minha casa ou prefere um motel?

A objetividade dele me deixou muda. Onde estava o Álvaro elegante que havia sentado ao meu lado há pouco no restaurante? O pior foi que soou como se perguntasse se eu preferia sorvete ou bolo de sobremesa.

- Você acha que eu quero? – joguei um pouco de fumaça no ar.

Ele calou. Quem disse que eu estava a fim de... justamente com ele? Ah, ter aceitado comer de graça com ele significa que estou dando sopa? Terminei o cigarro.

Bernardo ao celular interrompeu meus pensamentos. Fui obrigada a ser direta. Meio rude. Oi, tô na rua. Ele que pensasse o que quisesse, eu não ia contar onde e com quem estava. Não posso falar agora, te ligo amanhã. E desliguei na cara dele. Resolvi:

- Vamos pra sua casa.

Antes Álvaro passou na farmácia e na volta me mostrou um pacote de camisinhas. Um pacote com TRÊS unidades, tamanho GRANDE.

- Você se importa?

- Não, não, claro que não.

Um homem prevenido. Uma mulher quase desesperada.

- Você precisa de algo mais? Lubrificante, algum acessório...?

- Não, tá tudo bem – menti. Em vez de ficar mais tranquila com o cuidado dele, não sei por que comecei a querer ir para casa me entupir de frango. Não sei por que... Sei muito bem.

- Você faz sexo anal?

- O quê? – engasguei.

A garagem se abriu e eu já sabia que não era para acontecer.

O apartamento era a cara dele – austero, impecável. Mesmo na penumbra, duvidei que houvesse pó nos móveis ou algum objeto fora de lugar. Gostaria de ter reparado mais na decoração, mas ele estendeu o braço para que eu me dirigisse ao quarto no fim do imenso corredor.

- Vamos tomar um banho antes?

Minhas suspeitas aumentavam.

- Tudo bem se eu tomar sozinha? – tentei.

- Não tem problema. Tem toalha sobre a pia, e roupão também. Dentro do armarinho você vai encontrar uma escova de dentes. Está na embalagem ainda.

Ele tinha um kit completo para as visitas e isso nem me surpreendeu. O sabonete era perfumado e convidativo, mas eu não pretendia tirá-lo da embalagem. Abri o chuveiro, respinguei água no cabelo e no rosto, tirei a sandália e coloquei o roupão por cima do vestido. Tomara que ele engula a farsa. Saí do banheiro minutos depois, convencida de que estava fazendo o que qualquer mulher em sã consciência faria no meu lugar. Eu não vou dar nada pra esse doido aí.

Assim que Álvaro entrou no banho, tirei o roupão sem alarde, peguei minha bolsa em cima da mesa e saí na ponta dos pés até chegar na porta. Só calcei as sandálias ao sair do elevador. Percebi que o porteiro me via pela câmera, de bunda para cima, ajeitando as tiras. Por isso o homem me olhou com desconfiança quando passei e perguntou se estava tudo bem. Deu vontade de contar sobre as esquisitices do morador do décimo andar, mas reprimi o impulso. Eu estava indo atrás do meu frango com ketchup e maionese e ninguém ia me impedir. Nem um lunático chamado Álvaro.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cartão postal

um pôr-de-sol partido
estrangulado de silenciosos
fragmentos de violeta.

Sentimento...
saudade.

sábado, 8 de maio de 2010

Cabelo, cabeleira, cabeluda...

Rogéria, Maria e Altamiro saem para tomar cerveja num barzinho conhecido da cidade. São servidos por uma mulher de cabelos muito compridos, cujos fios dão uma ligeira espanada na mesa e, consequentemente, nos copos. Altamiro não gosta do que vê, e chama a atenção da mulher de modus severus. Sem nada dizer, ela tira do bolso um prendedor e se ajeita. Ele comenta com Rogéria e Maria o absurdo da situação, as duas concordam, e a noite prossegue sem maiores atropelos. Na hora de pagar a conta, outra garçonete vem atendê-los. Cada um contribuiu com sua parte e a mocinha diz que vai pegar o troco com a dona, que é a... Alguém se habilita a palpitar? Sim, a mulher do cabelo espanador de mesa! Mesmo sabendo que tinha razão de reclamar, Altamiro sai de cena ressabiado, seguido por Rogéria e Maria. Mas onde é que já se viu atender mesa com o cabelo comprido solto?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nada mal

Segunda-feira não era exatamente um dia de praia para a maioria das pessoas, mas ela não resistiu ao apelo do sol. Colocou dez reais de gasolina no carro e foi atrás de um canto para ficar um pouco sozinha. Praia deserta, ainda estava cedo, e ela pensou em tirar um cochilo e esquecer o resto.

Desfez o laço da parte de cima do biquíni e se deitou. O sol quente - que horas seriam? -, deixou-a meio mole, sonolenta, os olhos foram ficando pesados e apesar da sede foi relaxando. Uma gaivota pousou e fez barulho. Ela sorriu, o pássaro rodeou um pouco e se foi. Quando abriu os olhos, percebeu que conhecia o sujeito que fazia sombra sobre ela.

- Greg?!

Ele estava ali. O namoradinho da escola que achara que seria seu homem para sempre.

- Oi! – ele sorriu e sentou ao seu lado como se não fizesse vinte anos que não a via.

Respondeu meio atordoada, mas continuou de bruços para disfarçar. Estava sem a parte de cima do biquíni! Ele puxou assunto, começou a perguntar tudo ao mesmo tempo, como iam as coisas, se tinha alguém, onde estava morando, no que trabalhava. Não prestou a mínima atenção. Greg continuava um cara normal, até que charmoso. Estava mais encorpado, deixara o cabelo crescer, tinha um cheiro bom, de homem. Excitação repentina. Pediu que passasse protetor nas costas, esperando senti-lo mais próximo. Greg se ajoelhou e enfiou a mão na bolsa.

Ele pegou o frasco e derramou uma quantidade generosa. A sensação de frio do creme foi logo se dissipando com o calor e as mãos quentes dele, que começaram a se movimentar com intimidade por toda a extensão de sua pele. O toque era diferente, as mãos pareciam mais experientes enquanto ele descia com a ponta dos dedos. Involuntariamente mexeu os quadris, e ele, num ato inesperado, desatou um laço da parte de baixo do biquíni, depois o outro, e a libertou da última peça de roupa e de qualquer pudor. Jogou a calcinha longe e deslizou a mão entre suas coxas, abrindo-lhe as pernas. Invasão consentida, e mais uma vez agiu sem pensar.

Ela ali, no meio da praia deserta, deitada de bruços, de pernas abertas. Nada mal para uma segunda-feira! Não havia brisa, não havia mais sombra, e o suor dele pingava sobre seu corpo, as gotas grossas iam escorrendo até o final das costas. Estava ansiosa pelo que viria a seguir, sentia a tontura do sol de trinta graus juntamente com a excitação causada pelas mãos dele. Era a ânsia de tê-lo de novo, as saudades de um tempo que era mais seu, a busca do entendimento. A gaivota - a mesma? - pousou ao lado e passeou um pouco. Mantinha alguma distância e observava, curiosa.

Viu a gaivota levantar vôo.

Greg disse, como de costume, alguma coisa que não entendeu e se deitou ao seu lado de olhos fechados. A gaivota deu um rasante e pousou alguns metros adiante. Olhou o céu. Estava nua, com a pele esturricada e cheia de areia. Sem fazer ideia do motivo que trouxe Greg até ali, se deu conta de que não havia mais protetor contra o sol escaldante.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Brinde surpresa

O mais divertido foi quando um casal de radiologistas ficou "brigando" pra ver quem ajeitava melhor meu dedo na maca, na hora da radiografia. Ele: "Tá bom assim. Agora não mexe". Ela: "Não era melhor virar um pouquinho pra direita?". Apesar da fome, do frio e do cansaço - e da TPM... não espalha... hehehe -, tive que rir.



E agora? Agora são 15 dias de mão entalada, anti-inflamatório, gelo e... dai-me paciência, Senhor! E faça com eu não fique com chulé na mão, por favor.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Cura

Não era bem o que ele queria dizer, mas saiu, baixinho, sem querer. Era a última semana de aula e não podia perder aquela chance. Quase um ano engasgado pelos cantos do colégio, fingindo não vê-la, seguindo-a com olhar onde quer que fosse. Escrevia longas cartas que nunca seriam enviadas. Guardava-as numa caixa de sapato debaixo da cama, a salvo da curiosidade alheia. No colégio rabiscava sem parar o nome dela na última página do caderno enquanto todos achavam que estava fazendo a lição.

E apesar de faltar tão pouco para o fim das aulas ele continuava encolhido no corredor ao vê-la chegar, protegido do sofrimento e da humilhação de ser recusado. O coração descompassado, as mãos trêmulas, enfiadas no bolso, a boca paralisada, dormente, inerte, covarde. Tinha tanto medo que nem ousava levantar os olhos. Era só sentir o perfume doce no ar para fixar o olhar no cadarço do tênis.

Tinha consciência de que se não tentasse nada logo a perderia para sempre. Para um cara mais velho que já soubesse dirigir. Para o novo colégio em uma cidade bem longe que nunca conheceria. Para toda a vida. E nem pensando dessa forma ganhava coragem para encará-la.

Até que aconteceu. Foi depois da aula de matemática, na quinta-feira, e ele não estava preparado. Rabiscava a última página do caderno quando ela se aproximou. Sorriu sem mostrar os dentes, um sorriso de compreensão. E ele começou a suar ao vê-la tão perto. Queria beijá-la como nos filmes, pela primeira vez. O estômago apertava, tudo o que havia dentro dele chacoalhava e se contorcia. Chegou a pensar que fosse vomitar na frente dela.

As outras meninas olhavam da porta, cochichavam e riam. Ele levantou um pouco o rosto e então ela comprimiu rapidamente seu lábio contra o dele, deixando-o sem reação. Não entendia o porquê daquilo e não ligava mais para as meninas que riam alto. Elas que rissem. Ele estava em êxtase, concentrado na doçura dos lábios dela.

Havia sido um instante mágico, ele disse "Não vai, eu gosto de você", mas logo ela não estava mais na sala para ouvi-lo. Não tinha fotografias para guardar, só um beijo. E ele nunca mais a viu, não soube o que foi feito dela, se casou, se teve filhos. O nome dela lembrava bem, era Camila, e ele nunca mais gaguejou.
Mais selinho

Agora foi a vez da Lana, do Clube das Melhores Coisas, me mimar.
Brigada, Lana!!!! =DDD
Vou escrever mais e espero que melhor também.


terça-feira, 4 de maio de 2010

Praticamente clown

Experimentei a sapatilha.
Eu: Não sei... ficou com cara de sapato de palhaço...
A vendedora: Mas é pra ficar assim, com o bico pra cima, que nem um palhacinho.
Eu: ... [Vou dizer o quê?]

Levei porque gostei, e toda vez que uso - como hoje - lembro do que ela disse. E acho graça.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

amanhece

Deslizam as luzes.

Pequeninas folhas
valsam,
eufóricas, pelo quintal.

Enquanto a vida,
vício de todas as estações,
orquestra notas orvalhadas
de aurora
mais uma vez.

sábado, 1 de maio de 2010

Hummm... quase isso

Meu irmão ligou para uma loja de informática atrás de um roteador e perguntou de cara quais as marcas disponíveis. A atendente:
- Temos Levelone.
Ele estranhou:
- "Levelone"?
Ela, muito segura de si:
- Sim, Le-ve-lo-ne.
Ele levou alguns segundos para ligar o nome à coisa. A marca era Level One, a Level One que ele conhecia. Sendo assim, ele encomendou um.