sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fast forward

Felipe e Taci se conheceram pelo Twitter. Ele tinha um amigo que seguia a Taci e achou seus tuítes divertidos. No dia seguinte surgiu a curiosidade de saber como o outro era, e as webcams foram ligadas. Em dois dias, sentiam-se íntimos conversando horas a fio pelo MSN, espiando fotos e bisbilhotando no Orkut do outro. No terceiro dia, deixaram escapar o número do celular. E, pelo celular, o endereço. No quarto, trocaram confidências e admitiram a atração. No quinto, fizeram sexo pela internet. Finalmente no sexto dia combinaram de se encontrar. E chegaram no shopping quase à mesma hora, de banho tomado e camisinha escondida no bolso. E se olharam, de longe. Se aproximaram sem saber o que esperar, e um beijo no rosto foi o máximo de intimidade que se permitiram. Felipe achou que Taci falava demais. Taci considerou Felipe muito retraído ao vivo. Ele olhou o relógio. Ela pediu um cigarro. Ele disse que não fumava. Ela olhou uma sandália linda na vitrine. Ele disse que estava atrasado. Ela disse que precisava comprar um presente. E nunca mais se falaram.
Selinho - presente da Allyne

Prometo não ficar metida... humm... será? Não! Tô feliz com o carinho.
Valeu, Allyne!
=DDDDD

quinta-feira, 29 de abril de 2010

SESSÃO OPS

Ops triplo de cabeça

Minha mãe viu um rapaz cego entrar com tudo no canteiro perto de casa. E, claro, foi querer ajudar, como faria uma boa cristã. Avisou (esclareço: não com essas palavras) que ele estava quase dando de cara numa árvore e perguntou-lhe onde desejava ir. Tendo a indicação correta da rua, ela apontou o dedão:
- É por ali.

Ops!!!

Ainda bem que um guarda veio, ofereceu o braço ao moço e o levou pelo caminho certo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O milionário sedutor

Arthur, 87, deitou na cama vestindo o pijama listrado da sorte e descobriu a perna de Mila, 19, sua namorada. Era o primeiro fim de semana juntos.
- Filhinha, você prefere luz acesa ou apagada?
- Como você quiser, Tuzinho.
- Abre a camisola pra mim?
- Sim. Assim?
- Mais um pouco aí na frente.
- Está bom agora?
- Mostre o seio, quero ver o seio. Quero tocar.
- Só pra você, meu bem.
- OK, espera um pouco. Acho que está dando certo.
- Que bom.
- Tira a camisola, filhinha.
- Eu tiro, Tuzinho.
- Não para,
agora tira a calcinha, mostra pra mim.
- Desse jeito?
- Isso! Vem logo que estou pronto.

Contrariando as ordens médicas, uma hora antes Arthur tinha tomado uma pílula azul para não decepcionar a namorada nova. E depois do papai e mamãe caprichado dormiu feliz, como há muito tempo não fazia. Entre as coxas dela. Sonhou e reviveu o momento, o pênis ereto desbravando as carnes macias, o gozo tão esperado, a perda completa dos sentidos.

De manhã, uma Mila chorosa observou o socorrista levar o corpo de Arthur. Antes de ir embora, tomou uma ducha e deu uma geral no apartamento, só para ter o que guardar de lembrança do namorado - falecido.



terça-feira, 27 de abril de 2010

Desespero de causa

- Eu sinto coisas diferentes por você, Heitor.
- Eu sabia que esse cinema não ia dar certo.
- Juro! Nunca conheci um homem como você. Nunca! Agora eu sei que você é diferente dos outros caras.
- Mas olha pra mim, Teresa. Você não percebe nada?
- Eu vejo na minha frente um homem sensível e inteligente. E muito gato também, lógico!
- E se eu te disser que eu faço dança?
- Que lindo! Eu sei muito bem que dançar dá flexibilidade e ajuda em... você sabe... dizem, né?
- Sou cabeleireiro, lembra?
- Adoro! Só quem vai botar a mão no meu cabelo é você. É sério. Estou achando que vamos nos dar superbem. Tipo casal perfeito, sabe?
- Realmente não entendo você...
- Deixa que eu te ensino, bobo.
- Será que você não percebe? Nunca tive namorada...
- Sempre é hora de começar. E você não vai se arrepender de ficar comigo, eu prometo.
- Aos quarenta? Eu sou gay, Teresa!!!
- Por mim tudo bem, desde que você não use minhas calcinhas. Que tal?

domingo, 25 de abril de 2010

confissão

Tua boca é meu desassossego
Se me toca...
Ai!
Eu me reviro, me ofereço,
me dou pra ti
na bandeja.
Sem culpa,
sem medida.

Na medida.

sábado, 24 de abril de 2010

reedição especial - porque eu gosto muito...

coisas de casal

Ela bate o pé impaciente. Ele atrasado. Ela atira todos os livros pela janela. Ele teme - como sempre - ser dominado. Ela cobra, xinga, grita, de saco cheio. Ele atura calado. Ela deita e rola sobre suas fraquezas. Ele olha pro lado desanimado. Ela bebe uísque, senta e cruza as pernas. Ele fica fissurado. Ela ri, faz beicinho. Puro charme. Ele pede bis, descontrolado. Ela desabotoa a blusa e anuncia o espetáculo. Ele tarado. Ela deita e abre as pernas. Ele avança, abusado. Ela manda esperar. Ele já desconfiado. Ela tira a calcinha. Ele pra lá de excitado. Ela se contorce e se basta. Ele engole em seco, agoniado. Ela começa tudo de novo. Ele quase não agüenta, coitado. Ela se derrete e baba e lambe e chupa. Ele pediu para ser torturado. Ela surrurra o nome do ex. Ele sai de cima irado. Ela se desculpa – isso acontece. Ele brocha, em pensamento corneado. Ela manda-o à merda, vira e dorme. Ele chora inconformado. Ela ronca. Ele vai embora, pobre homem apaixonado.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quietude

Um pedaço de papel

trêmulos rabiscos
que o vento insiste em
agitar
até que ele fuja
e vá procurar versos
definidos
nas mãos de outro poeta.
na vitrola

Sou perseguida pela música. E quando ouço, vem a vontade. Os pés querem me levar, eles me arrastam! Os quadris se ondulam suavemente, os braços acompanham a melodia. O peito se abre, o coração bate, a música vem. Eu vou. Me deixo levar.

Whatever Lola wants, Lola gets
And little man, little Lola wants you
Make up your mind to have, no regrets
Recline yourself, resign yourself you're through

I always get, what I aim for
And your heart and soul, is what I came for.
Whatever Lola wants, Lola gets
Take off your coat, Don't you know you can't win
You're no exception to the rule,
I'm irrezeestable you fool, Give in
(give in, you'll never win)


quinta-feira, 22 de abril de 2010

se é assim

Eu era uma boa esposa pro Jacinto. Lavava, passava, cozinhava, e esperava. Não tinha muito com quem falar, e só saía de casa pra ir na missa e levar a roupa passada pra dona Cininha. Uma vez ou outra ajudava seu Antônio no balcão da venda, mas não era por necessidade, era porque eu gostava mesmo.

O Jacinto, meu marido, viajava pra botar dinheiro dentro de casa todo mês. Contava que nas andanças pela cidade vendia peruca, dentadura e batom pras madames, e era bom que só ele pra levar elas na conversa. Se ele dizia, eu acreditava.

Quando ele voltava, eu corria pra venda e trazia a cachacinha especial que o seu Antônio vendia fiado. Dependendo do dia, conseguia um pote de mel ou uma linguiça defumada. O seu Antônio fazia qualquer coisa pra agradar, nunca deixava faltar nada em casa enquanto o Jacinto estava fora.

Janta pronta, eu esperava na porta o Jacinto chegar cansado da estrada. Ele vinha contente, e eu pedia pra ele falar das histórias do povo da cidade enquanto enchia o bucho. Ele dizia que estava com saudades da minha rosquinha de polvilho e das cuecas lavadas, e daí eu achava que lá na capital ele não tinha quem cuidasse direito dele.

Ainda lambendo os beiços, ele ia pra janela palitar os dentes e olhar as estrelas. E mais tarde se jogava na cama sem passar uma água no corpo, e dormia o sono dos justos. Era ele roncando e eu rezando pra Nossa Senhora Aparecida ajudar ele a ter sempre muita saúde pra viajar e vender mais coisa bonita pras madames.

Minha vida com o Jacinto era assim, até o dia em que ele voltou quieto, e nem quis saber da minha comidinha caprichada. Bem que eu achei esquisito ele voltar antes do tempo, mas não falei nada. Dei a janta pro porco e arrastei a mala pra dentro.

Na hora de deitar é que o Jacinto abriu a boca. Eu dobrava as roupas e ele confessava que tinha mulher e cinco filhos na cidade. Pela primeira vez depois de dezoito anos de casada eu via o pobre chorar feito bezerro desmamado, e chorei com ele, porque vi que não tinha mais jeito.

Mandei o Jacinto pegar a mala e voltar pra cidade pra buscar a mulher e as crianças. Ele não entendeu nada, mas foi. E eu, que não sou besta nem nada, arrumei minha trouxa e fui pra casa do seu Antônio da venda, que tomava banho todo dia e fazia umas coisas doidas quando deitava comigo. Esse sim era o homem que eu pedi a Deus.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

vaga sintonia

em cada verso,
o silêncio compartilhado
pelos amantes,
circundando as
margens
do lençol.

Foi bom.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

olhos da madrugada

sopros mornos de sentimentos
vagam
intrusos.

sinuosas esquinas.

mutáveis personagens
oscilam
lucidamemente
ébrios.

Movendo-se na penumbra
à procura de
compreensão
nos olhos mal iluminados
da madrugada.

domingo, 18 de abril de 2010

Valsa kitsch

A manhã detona as maracas do dia. Marocas flutuam nas calçadas. Buzinas, gargarejos, calcinhas e cuecas em frisson explícito no varal. Diaristas aterrissam para dar o branco que a sua família merece. Overdose de espuma é um luxo só, mas panelas reluzentes ainda contam pontos, darlings.

Dois corpos no chão. Bia e Max. Max e Bia. Um casal, ou quase isso. O despertar é como um megaovo frito no céu. Sol, sal, vida. E pão dormido para o café. Tranças ruivas espanam o peito metrossexual de Max. Liso, liso, e liso. Ele pede bis, abocanha as coxas marfim, mas contenta-se com o olhar Serenata de Amor de Bia.

Ressaca na periferia plebeia. Bocas bamboleiam. Bocas em crocante farfalhar de dentes, e línguas e saliva. Dois beiços ao alho e óleo que arriscam um entendimento. A felicidade também pode acontecer no dia seguinte. Você duvida? Tudo é possível quando dois pares de olhos calientes esbarram-se na saída do metrô. Oi e tchau para nunca mais ou um faniquito nas tripas e amor eterno até o próximo sábado. Quem sabe?



sábado, 17 de abril de 2010

depois dizem que não sou paciente

Aturar o cable guy evangélico ligando as últimas catástrofes a passagens da Bíblia não é pra qualquer um. É pra uma pessoa louca pra ter sua internet de volta.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

fatos marcantes do Dia M - de mudança

Coisa pouca
Não é uma opção interesante acordar com dor de barriga no dia da mudança, mas quem disse que dá para escolher? Pera aí, intestino, agora não é hora de lambança. Ah, tá... Então eu ficava lá e cá - ajeitando o que faltava e correndo pra resolver o pequeno mal-estar. No fim, o shampoo que ficou esquecido serviu de desinfetante. Melhor que nada, né?

Bola ao cesto
Certa vez comprei uma bola suíça pra alongar. Cor de chiclete. E eu era tão cheia de cuidados que nem a deixava no chão - guardava la pelotita em cima da estante, pra não ter perigo de sujar. Rá! Na hora da mudança, um dos moços, aquele parecido com o Mussunzinho, saiu do prédio quicando a MINHA bola como se fosse de basquete. Pode ter passado em cima de cocô de cachorro? Pooode. Daí que preferi não ficar mais pensando no assunto pra não me irritar. Ela, a bola, sobreviveu à passagem pela rua e aguarda uma passada muito bem dada de pano úmido com álcool.

O banquete
Não tinha comida pra cozinhar, nem fogão. Quer saber de verdade? Quem quer ir pra cozinha nesse dia de loucura? O almoço aconteceu em território novo, só que ninguém pensou que lá ainda não tinha mesa ou cadeira. Aliás, não tinha nada! E eu, que não me guentava mais de pé, fui comer meu sanduíche de atum vencido (só vi depois da primeira dentada - garçonete mentirosa!) sentada na privada do banheiro de empregada. Não foi o cúmulo da bizarrice, foi descanso merecido pras minhas pobres pernas.

Tanto cuidado pra isso
Ficou decidido de antemão que os computadores não iriam com a mudança. Coisa do meu irmão, porque eu teria deixado ir na boa. E foi ele quem veio à noite trazê-los de carro. Beleza! Minha mãe foi dar uma mão, e enquanto eu pegava uma das CPUs e duas sacolas com fios, mouse, etc., ela se prontificou a carregar os dois monitores de uma vez. Eu e meu irmão descobrimos que essa foi uma ideia muito idiota da nossa parte quando ela deixou um deles cair perto do elevador, no piso cerâmico! Não precisa perguntar, claro que era o meu. E pode perguntar se depois funcionou. Simmmm! Ó minha cara de alívio. [Imagine.]


OPS: ainda sem internet, postando escondidinha no trabalho... não conta pra ninguém! hehehe
Tudo voltará ao normal no sábado.

terça-feira, 13 de abril de 2010

depois daquele beijo

quando chegar a procurar
tua boca
outra vez
estarei sem forças
para continuar
vivendo
e
amando
com prudência

segunda-feira, 12 de abril de 2010

aurora

Uma brecha de luz

invade a janela e já

não é mais

solidão.
olha o vício!

Era pra ter sido hoje, mas resisti com bravura. Em breve fico sem internet e já sinto calafrios me percorrem o corpo. Se tudo acontecer como o esperado, amanhã à noite deve começar de fato a crise de abstinência, quando eu desconectar os fios e levar a CPU para o novo lar, e depois voltar ao velho e olhar ao redor e achar tudo muito estranho. Talvez eu durma mais cedo, ou custe muito a dormir, com os dedinhos loucos pelo teclado. Talvez eu fique ansiosa - novidade! - e ande pela casa atrás do que fazer, sabendo bem quais são meus desejos mais profundos e mundanos. Pensando bem, ainda tenho que embalar outras coisas antes e achar a pecinha que tira o pino para esvaziar a bola suíça... que desculpa ótima!... e... ahamm... muitos, muitos afazeres enlouquecedores... deixemos o computador de lado por enquanto, pois. ;)
Vai uma calculadora aí?

Resposta de uma empresa ao meu e-mail com pedido de orçamento para uma mudança:

"O preço seria 70 reais a hora no minimo de 4 horas (240 reais), 2 ajudantes e motorista, sendo tudo incluido, se possivel mande seu telefone".

Hein?

A primeira vontade foi de contratar o serviço da empresa e bater o pé para pagar apenas 240 reais, e não os 280 que estariam de acordo com o preço pelo mínimo de horas. Depois pensei em esticar a prosa com a dica do "Iniciar > Executar > calc > Enter", mas não fiz isso nem aquilo. O tempo ficou curto, eu estou quase me mudando, quase morrendo de ansiedade. Fica pruma próxima.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

reedição especial - porque eu gosto muito...

canção

No muro verde de limo,
o galo canta.
Manhã.
O cachorro olha com curiosidade
os meninos jogarem bola.
Curiosidade canina,
com o pescoço torto,
os olhos brilhando,
ansiosos,
pelo movimento e pela gritaria.
As mulheres estendem a roupa sem pressa.
Colorido desbotado
de roupas surradas para secar ao sol.
As roupas dançam no varal, esperando
todas as gotas caírem mansamente.
O dia é quente.
Sempre.
Os homens saem cedo para trabalhar.
A ladeira continua íngreme e os homens
caminham a passos lentos,
ainda meio adormecidos
no rumo de todos os dias.
As meninas correm pela rua aos pulos,
farfalhando as saias floridas.
Algazarra.
Algumas meninas espiam pela janela.
Clausura.
As mães cuidam destas meninas,
e cuidam da casa
e cuidam do seu homem.
As mães vigiam, se esticam,
espreitam, se contorcem e tudo sabem.
A panela requenta o feijão com arroz.
Os sentimentos nem sempre são os mesmos.
A rua é quase infinita e traz todos de volta,
e os leva no dia seguinte.
O suor escorre pelas rugas
que o tempo suavemente depositou.
Um dia, a vida.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ontem
presente de grego


Recebo meu contracheque todo cuti-cuti, com uma mensagem de aniversário. E o presente, de fato, vem em forma da tal da contribuição sindical, com o desconto de um dia de trabalho. Noooossa, faltou eu soltar foguete, de feliz que fiquei pela lembrança tão amável.

hoje
presente dos céus

Estou indo trabalhar, olho para o céu. Parece que vai chover - de novo. Só nuvens imensas, cinzentas, ameaçadoras. Continuo olhando, procurando me distrair e não pensar no que não devo. E vejo um coração no céu! Envolto pelas nuvens, ele se forma. Azul. Torto. Me faz sorrir dentro do ônibus lotado. A tarde vai ser boa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

emoções baratas

no contato
cínico, fatigado
algo de prazer
sentimento intruso
entre gestos
sem pudor
quase intimidade...
inconcebível amor.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

casual

uma cereja roça o abismo do copo
corpo e vidro sexy fosco
olhos, pernas, bocas
subitamente tesão

a lua faz a ronda pelos becos
nossos imensos vazios
e a noite rola fácil entre
os lençóis

você me liga
ou vou gravitar
camaleônica
em outras órbitas?

domingo, 4 de abril de 2010

retrato

a cama vazia

inunda o quarto

a colcha de linho

o último beijo

a chuva no vidro

os corpos distantes


a cama vazia

inunda o quarto

sábado, 3 de abril de 2010

Sessão de beleza

Drica fica louca quando chega para fazer a unha e sua manicure não está no salão. Explicam a ela que a garota teve que sair às pressas por causa do filho doente e só assim Drica sossega e aceita que outra cuide de suas unhas.
A outra aparece sem fazer alarde e Drica estranha, pois Nice costuma ser tagarela e quer saber logo a cor do dia. Para adiantar, Drica separa o esmalte nude e estende as mãos para começar o serviço. E puxa assunto:
- Qual o seu nome mesmo?
A garota de rabo de cavalo tem um olhar tímido.
- Pode colocar as mãos na água.
Drica insiste:
- E o seu nominho?
Ela não está muito à vontade, mas responde:
- É Rai.
Drica fica intrigada:
- Rai? Que diferente.
A manicure só consegue dizer:
- Pois é.
Drica espera antes de continuar.
- Mas é seu nome mesmo?
A garota tenta mudar de assunto:
- Pode tirar a mão da água.
Mesmo percebendo que a manicure dá sinais de resistência, Drica é quem não muda de assunto.
- É Rai de Raiane, não é?
Com o alicate pronto, a garota inicia o trabalho.
- Não, senhora. Não é.
Cada vez mais curiosa, Drica continua:
- Mas então que nome é? É só Rai mesmo?
A garota não sorri mais.
- Meu nome é Raimunda, senhora. R-A-I-M-U-N-D-A. Entendeu???
Drica não só entende como sente que a manicure tirou um bife enorme do seu polegar, que sangra. Para sair dali com o restante dos dedos intactos, resolve ficar quieta até o fim e deixar Rai...munda em paz.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

D i a l i v r e

manhã

noite

Forever young, I want to be forever young... do you really want to live forever?

Você aí do outro lado, que pensa em se manter longe dos resfriados, chegar aos 80 com carinha de 50 e ainda dar una mãozita ao sistema imunológico, entregue-se sem pudores ao sabor estonteante ARRRRRGH do alho. Segundo as últimas pesquisas, não me pergunte de onde, o alho tem a força, o alho tem o poder. Alho para presidente já! Pois então. Vi a reportagem na TV e fiquei pensativa. Comer alho já provoca um tremendo cacófato. E, depois de engolir o negócio, o hálito não se transforma em aroma de rosas, pois é quase certo que a pessoa vai exalar perfume de Alho Nº 5 por algum tempo. E aí, como fica? Não haverá vampiro crepuscular que aguente. Isso é bom ou é ruim? E os outros seres? Conviverão com o bafo diário?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Todos os caminhos levam à Lagoa
Justificar
Já devo ter comentado que o Lagoa 330 é o ônibus que me leva até o serviço. Mas também leva muita gente à Lagoa da Conceição, o que é um perigo quando dá sol. Hoje, dia de céu limpo e véspera do feriadaço de Páscoa, tinha um gringo perdido no corredor. O homem loiro de quase dois metros e olhos claros parecia alemão, mas veio com sotaque espanhol perguntar pra galera de que lado batia menos sol. Como ninguém se manifestou, fiz o favor de dizer que era do lado direito, o lado em que eu estava. Parêntese - sempre vou do lado direito, pra não pegar sol. E vou quieta, ouvindo meu som. Ele agradeceu e emendou com: "Então posso sentar do seu lado?". Eu ia dizer que não na cara do homem de quase dois metros? Sendo o ônibus público, eu disse "Sim", sabendo que ia me arrepender na sequência. E como! O cara ocupava um banco e meio, e me obrigou a dar aquela espremida contra o vidro, agoniada não só com a presença espaçosa, mas com o cheiro dele. Cheiro de suor, de falta de banho. Aí ele comentou "Que calor, não?", achando que fôssemos travar um diálogo amigável. Pensei "Que fedor, não?" e olhei pra fora. O moço se calou. Bem disfarçado, fingiu que esticava o braço pra tocar o teto, virava um pouco a cabeça e dava aquela cafungada no sovaco. Direito, depois esquerdo. Uma vez, mais uma, e uma última pra ter certeza. Convencido de que eu não queria falar com ele por causa do futum, o gringo se mudou. Foi pegar o sol que não queria do lado esquerdo. Melhor pra mim que consegui respirar de novo e descontrair a musculatura. A antissocial.