quinta-feira, 27 de novembro de 2008

coisas de casal

Ela bate o pé impaciente. Ele atrasado. Ela atira todos os livros pela janela. Ele teme - como sempre - ser dominado. Ela cobra, xinga, grita, de saco cheio. Ele atura calado. Ela deita e rola sobre suas fraquezas. Ele olha pro lado desanimado. Ela bebe uísque, senta e cruza as pernas. Ele fica fissurado. Ela ri, faz beicinho. Puro charme. Ele pede bis, descontrolado. Ela desabotoa a blusa e anuncia o espetáculo. Ele tarado. Ela deita e abre as pernas. Ele avança, abusado. Ela manda esperar. Ele já desconfiado. Ela tira a calcinha. Ela pra lá de excitado. Ela se contorce e se basta. Ele engole em seco, agoniado. Ela começa tudo de novo. Ele quase não agüenta, coitado. Ela se derrete e baba e lambe e chupa. Ele pediu para ser torturado. Ela surrurra o nome do ex-amante. Ele sai de cima irado. Ela se desculpa – isso acontece. Ele brocha, em pensamento corneado. Ela manda-o à merda, vira e dorme. Ele chora inconformado. Ela ronca. Ele vai embora, pobre homem apaixonado.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

canção

No muro verde de limo,
o galo canta.
Manhã.
O cachorro olha com curiosidade
os meninos jogarem bola.
Curiosidade canina,
com o pescoço torto,
os olhos brilhando,
ansiosos,
pelo movimento e pela gritaria.
As mulheres estendem a roupa sem pressa.
Colorido desbotado
de roupas surradas para secar ao sol.
As roupas dançam no varal, esperando
todas as gotas caírem mansamente.
O dia é quente.
Sempre.
Os homens saem cedo para trabalhar.
A ladeira continua íngreme e os homens
caminham a passos lentos,
ainda meio adormecidos
no rumo de todos os dias.
As meninas correm pela rua aos pulos,
farfalhando as saias floridas.
Algazarra.
Algumas meninas espiam pela janela.
Clausura.
As mães cuidam destas meninas,
e cuidam da casa
e cuidam do seu homem.
As mães vigiam, se esticam,
espreitam, se contorcem e tudo sabem.
A panela requenta o feijão com arroz.
Os sentimentos nem sempre são os mesmos.
A rua é quase infinita e traz todos de volta,
e os leva no dia seguinte.
O suor escorre pelas rugas
que o tempo suavemente depositou.
Um dia, a vida.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

eu quero a minha privada!

Não é uma contradição? Com tanta água caindo lá fora, aqui dentro começa a faltar nos canos. Não tinha no serviço, percebi assim que cheguei para lavar as mãos de manhã. Ai, ai, ai, freela sem água não rola. A louça pode ficar amontoada na pia, a mão não se lava mesmo, mas e o xixi? Todo mundo na mesma emoção, todos de bexiga cheia... e nada de água para levar embora o líquido amarelinho, quentinho y otras cositas más. Como seria impossível segurar a vontade por oito horas, a orientação foi jogar Veja Limpeza Geral (cor-de-rosa!) no vaso e tentar dar uma disfarçada na fedentina. A cada mijada no penicão, uma esguichada. A mistura, acrescida de papel higiênico que algum desparafusado jogou, tinha uma cor única. Não me atrevo a descrevê-la. Amanhã pelo jeito tem mais.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

receita de pé seco e feliz

1) Colocar uma boa camada de Polvilho Granado para evitar que o chulé "grude" na sola dos pés.

2) Cobrir o futuro pirão com uma meia mais grossa.

3) Enfiar em cada pé um saco plástico que chegue até o calcanhar. (Atenção: é importante verificar se não há furos, senão o grande invento perde a função.)

4) Calçar o tênis ou similar como de costume, abrir a sombrinha e ganhar as ruas. Pode chover e cair canivete. Os pés continuarão a salvo do aguaceiro. Talvez um tantinho suados, mas isso é detalhe.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

devaneios

Passei para dizer que sobrevivi a mais um dia de chuva. Li Anaïs na fila do ônibus, comi calzone de frango com catupiry no almoço, vi a Clau, o Erê... o Alexandre me convidou para trabalhar com ele. Será? Não sei o dia de amanhã. Incógnita, graças a Deus. Tenho saudades de escrever até a exaustão e não querer dormir depois. Ai, por que 19/12 não chega logo???? Enquanto isso, bocejos assassinos me atacam toda manhã, pontualmente, às 6 horas.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

esculhambada S/A

Hoje eu coloquei qualquer roupa. A camiseta preta de manga curta com estampa do filme Psicose por cima da branca, de manga comprida. Jeans velhíssimo, surrado y acabado, com bainha desfiada. Tênis preto, bolsa vermelha. O cabelo de sempre. A cara lavada. Ia saindo quando a mama me olhou e soltou essa:
- Minha filha, quando quiser uma roupa é só pegar no meu armário.
Me senti uma mendiga, mas fui trabalhar feliz da vida. Livre.

Há dias em que tudo que eu quero é não ter de me preocupar em parecer arrumada.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

baseado em fatos reais

A filha adolescente liga para a mãe direto do ponto de ônibus. Reclama que os ônibus não páram para ela e pede que a mãe vá buscá-la. Que sacanagem! A mãe não entende por que a menina está sendo ignorada e pergunta se pelo menos ela está acenando para o motorista parar. E a garota responde que... não.
OK, está explicado. Se não esticar braço no ar e sacudir a mãozinha ninguém vai parar, querida.

sábado, 15 de novembro de 2008

outro capítulo das dúvidas cruéis

O que fazer quando alguém ao seu lado solta um peido fedido, faz cara de paisagem e age como se nada tivesse acontecido?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

alívio! é sexta e não chove.

I can see clearly now, the rain is gone,

I can see all obstacles in my way

Gone are the dark clouds that had me blind

It’s gonna be a bright (bright), bright (bright) Sunshinning day.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

mais um dia

A calcinha entrou na bunda, o sapato apertou, a chuva caiu, o pé doeu, o dinheiro acabou. Mas não eu não acabei. Eu continuo, eu vou.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

mulher que faz

A calça era de cintura alta, a única que me caiu bem entre tantos modelitos bizarros - pantalona, skinny, com bordados, pedrarias e cafonices afins. Bem que desconfiei que ia ficar agoniada com o pano até o umbigo, mas comprei mesmo assim, movida pela mais pura necessidade.
Dito e feito. Usei o negócio uma vez e botei de lado. Roupa tem que ser confortável em primeiro lugar, pelamordedeus! E aquela não era.
O tempo passou, fui usando as calças surradas de sempre, até que hoje de manhã um pensamento mágico me ocorreu: "E se...?".
E fiz! Meti a tesoura e extirpei uns 7cm do jeans. Uh, alívio!
Fui e voltei com a calça meio que deslizando corpo abaixo e não me arrependi. Pra quê? Quando uma coisa está me agoniando, eu vou lá e dou um jeito, pro bem ou pro mal. Não é que eu dei?
Para arrematar o trabalho de "alta-costura", fiz duas pences à mão que vão evitar que eu pague cofrinho por aí. Tão tortinhas, tão artesanais... mas eficientes, oras bolas. Agora vou poder usar minha calça customizada sem estresse. Não devo, claro, complementar o look com blusinhas curtas que mostrem o servicinho de última hora. Aí seria covardia.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

nádegas na chuva

Hoje eu vi um cara cair. Foi tão rápido que nem deu para esboçar reação. O pé direito escorregou, deslizou, ele perdeu o equilíbrio e foi de bunda no chão. Chovia, como todos esses dias tem chovido. O moço levantou, passou a mão no derrier, dobrou a esquina e desapareceu. Fiquei com dó. Será que vai ficar com a bunda roxa? Resfriada?

domingo, 9 de novembro de 2008

acessório cool para os dias chuvosos

Chega uma hora na vida de uma mulher que uma sombrinha só não basta. Ousar é preciso. E, principalmente, sobreviver ao aguaceiro.

sábado, 8 de novembro de 2008

no ônibus

A mulher atrás de mim comenta com a colega:
- A minha filha se engravidou...

Como, minha senhora? A sua filha SE engravidou? Ah, a sua rebenta tem capacidade de auto-fecundação... entendo. Pois então ela é uma mutante made in Brazil. Deveria estar na novela da Record, entre vampiros, lobisomens e outros bichos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

a vida como ela é

Eu tive que ficar 40 minutos além da hora para acabar um trabalho, vi umas nuvens cinzentas e gorduchas pelo vidro. Assustador! Assim que dei por encerrada minha participação na empreitada do dia, saí o mais rápido que pude munida de sombrinha e esperança de chegar logo em casa. [Hora da gargalhada irônica.] Um passo rumo à liberdade no térreo e a chuva começou a cair. Forte, impiedosa, molhada... Aliás, chuva molhada é ótimo! Os 15 minutos seguintes foram passados no ponto de ônibus lotado sem mexer os bracinhos. Tadinha de mim! Mais 45 minutos trancada no ônibus (Avenida Beira-Mar Norte e chuva não combinam) e vim tomar banho em casa, dessa vez com água quente.

Amanhã é outro dia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

breakfast romântico

- Janete, me dá mais café!
E ela dava.
- Janete, traz a manteiga!
E ela trazia.
- Janete, cadê o leite?!
Lá vinha ela com a leiteira quase queimando-lhe a mão.
- Mais leite, Janete!
E ela servia. Aliás, era o que ela sabia fazer melhor.
- Essa torrada tá uma droga! Você esqueceu de como eu gosto das torradas, Janete? No ponto! No ponto!
De volta à cozinha, ela pacientemente torrava mais pão.
- Janete, ajeita aqui o nó da gravata.
Ela ajeitava com extrema docilidade. Só ela mesmo.
- Janete, pega meu paletó e me dá um beijo que eu tenho que trabalhar.
E nada dela.
- O meu paletó, Janete!
Apenas o som do carro partindo.
- Janete, volta já aqui! Você vai se arrepender se fizer isso!
Tarde demais.
- Janete, sem você não sou ninguém!!!
Ela podia apostar que sim.

domingo, 2 de novembro de 2008

moça de fino trato

No ponto de ônibus, a mulher queria dar uma de fina usando tubinho cinza, meia-calça preta fio 40 e scarpins de verniz altíssimos. E ainda olhava os pobres mortais - me incluo nessa - de cima. Mas o chiquê foi por água abaixo assim que ela acabou de degustar um pacote de salgadinhos e lambeu os dedos, depois limpou a mão no vestido. Finíssima...