quarta-feira, 29 de junho de 2011

LÂNGUIDA

O líquido se faz rubro em 
minha boca
e derrama-se em aromas,
sabores, despudores.

Eu me sirvo dele, me visto dele.

A vida me embriaga.

domingo, 26 de junho de 2011

AFIADA

Língua travessa
atravessa o céu da boca
para contar histórias desconexas
pelas vielas enluaradas
dessas noites de inverno.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

RAPIDAMENTE

A menina no elevador comenta sobre a padaria nova que abriu no posto aqui do lado. Ela louca pelos salgados. Eu, pelos doces.

Cada um na sua, né?

Não, ela precisa lembra que doce envelhece.

E daí? Morro de rugas na cara, mas feliz por comer o que gosto.

Já ela... sei lá. Deixa ela com seus salgados que a tarde chuvosa está só começando.
UM PASSINHO À FRENTE, POR FAVOR?

A mulher dos quereres pede passagem...

No momento só quero, peço, luto pra não ser dominada pelos hormônios. No post que ficou para trás, aquele momento.

Ih, passou! Tô em outra, deixa pra lá. Vamos? Vamos.

Não babando de felicidade feito Pollyanna Moça, mas consciente do que preciso. Presente no barulho da chuva que escorre pelo vidro, nos dedos que palpitam sobre o teclado, nos pés quietos que esperam a hora de reverter o silêncio dos passos e sair, investir, acontecer. O que vier, que seja bom. Eu provo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vamos começar de novo?

Despertei quase às sete, no pulo. Ué, por que o despertador não tocou? Porque estava com horário de despertar no sábado, sua tontona! Ah, tô ferrada mesmo... Mandei mensagem pra saberem que não morri e fui. Saí correndo... de óculos e sem sombrinha, e começou a chover. Paciência. Quando cheguei, dei de cara com o chefe no ponto de táxi. Afff, que sorte! Quando entrei no elevador esqueci de apertar o andar e fui dar uma volta no décimo segundo. Acontece, acontece. Quando finalmente tomei meu lugar na mesa, não tinha água pra beber. Olha a cara feia se armando. E, quando precisava fazer uma pesquisa, a internet caiu. Ah, é assim? Diz, agora diz se não era uma boa eu ter ficado quietinha na cama esperando o feriado chegar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ABERTA A TEMPORADA DE CAÇA AOS FUROS

O novo colega de trabalho tem pinta de roqueiro, cara de roqueiro... só pode ser. Tem que ser. Cabelo lisão e muito comprido, barba e bigode, roupa toda preta, discreto, quieto, uma voz grave e poderosa que dificilmente se vê por aí.

Além de programador ele tem que ser vocalista de banda, não tem outro jeito.

Pergunto, já na certeza:
- Tu és vocalista?
Ele nada surpreso - no mínimo já ouviu isso trocentas vezes:
- Não...
Eu sei que nessas horas deveria dar marcha a ré e sair de fininho, mas não, eu insisto:
- Não? Mas essa voz...
Ele acha graça e dá a última resposta que eu esperava ouvir:
- É por causa do cigarro.

Oh...

Mostro o riso mais amarelo do mundo, tomo um gole d'água e volto pra mesa. Chega de papo e vamos pensar em trabalhar, por favor. Mas sem cigarro, tá?

domingo, 12 de junho de 2011

DOZE PRA QUE MESMO?

Amor com dia marcado não dá. Amo, incluo vexame no beijo, mas não espero dia 12 pra mostrar. Amor de todo dia vale mais. Sem presente de loja ou compromisso com calendário. Amor sem roupa de festa, de preferência sem roupa nenhuma. Amor com riso, amor sem siso. Amor com amor. Simplesmente.

Fotos: somos nós, claro.

sábado, 11 de junho de 2011

Lola
Qualquer sexta feira dessas, quando você menos esperar, ela vai aparecer. Nessa ela veio de cinta-liga ao som de Miles Davis e trouxe Leoni a tiracolo para tomar um vinho sem compromisso. Será isso mesmo? Tire suas conclusões clicando AQUI.

terça-feira, 7 de junho de 2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quarenta e oito

São Paulo-Floripa


Cheguei à rodoviária em cima da hora e corri com mala, bolsa e violão, arrastando os tamancos, o som da madeira no piso, eu desvairada. Teria sido mais fácil se não tivesse passado a noite no bar com Régis e Tom. E se depois não tivesse dormido o dia inteiro, e não demorasse tanto para fazer a mala. Foi Chico, Chico me chamou! Não sei por que, foi de repente. Uma ligação, eu preciso de você, vem pra cá, me desculpa, a gente tem que conversar. Ansiedade, dele e minha, tudo caindo por terra.

Eu vou, me espera, vou conseguir um ônibus e chego antes do fim de semana.

Fila mais ou menos grande, era o que tinha conseguido em cima da hora. Sem poder fumar, comecei a roer a unha do dedão com o olhar fixo no sujeito mais à frente. Cara de sono, a barba por fazer, um sorriso cínico no canto da boca. Mas o que realmente me prendeu foi o estojo de guitarra que ele levava. Teria banda? Aqui ou lá? Reparei no pescoço, nas costas, imaginava do que ele seria capaz. Cantando ou... Ele falou com o amigo, não tinha certeza se eu era o assunto, mas gostaria que fosse. Estávamos nos encarando em sinal explícito de tesão. Sorrimos ao mesmo tempo, eu apontei meu violão, ele mostrou a guitarra sem sair do lugar. Passei a língua pelos lábios. Anda, pensa logo em alguma coisa! Uma saída, uma frase inteligente. Nem deu tempo, o motorista apareceu e todos foram se amontoando na porta do ônibus.

Na confusão de gente e malas acabei entrando na frente dele. Poltrona ao lado da mulher que falava sozinha na fila. Assim é castigo... Sentei e fiquei alerta, perturbada, pensando no que fazer em seguida. Ele passou no corredor e me tocou de leve no ombro. Boa viagem. Hã? Pra mim? E agora? Virei para espiá-lo, já estava sentando e eu só via uma ponta do cabelo loiro lá no fundo, fora do alcance. Eu que ficasse imaginando o que haveria por baixo do jeans apertado e fosse me masturbar feito uma alucinada no banheiro do ônibus. O banheiro! É isso!!

A mulher quis saber as horas, tentou puxar assunto e falar do tempo, do calor, do preço das passagens, o diabo. Dez horas, dona. A mulher falava sem parar como se o fim do mundo fosse amanhã e ela tivesse que despejar tudo no primeiro que aparecesse, e continuei fingindo que ouvia. Aproveitei que olhou para o lado para colocar os fones. Ela finalmente se calou, resmungando até cair no sono.

O ônibus estava na estrada, a maioria das luzes foi se apagando, mas eu queria fumar, olhava o relógio a cada cinco minutos. O cara da fila voltou a dominar meus pensamentos. Ali estava eu, voltando para casa sem juízo, de olho no sujeito da poltrona dos fundos. Era quase uma da manhã, e a viagem prosseguia. Antes que fosse tarde demais, tirei a calcinha com cuidado e caminhei descalça pelo corredor, tateando entre as poltronas, procurando-o. Torci para estar acordado. Estava, no banco reclinado. Larguei a calcinha em seu colo e fui para o banheiro como uma criança que acabou de fazer travessura, olhando para os lados toda desconfiada, o corpo fervendo por dentro. Só eu mesmo... Não tranquei a porta, tinha certeza de que ele viria. E veio, com a calcinha na mão e a calça desabotoada. O que significava...

No momento seguinte estávamos atracados no cubículo cheirando à desinfetante barato. A barba dele me espetava a boca, eu nem ligava, me esfregava por querer, para saber como era. Ele era minha despedida, eu devia senti-lo seja do jeito que fosse, até o fim, porque depois seria somente Chico. Para sempre Chico em algum lugar longe de todos.

O cara puxou minha saia até a cintura, eu já quase nua, pode me levar, vai! Me animei quando ele me tateou até encontrar os peitos por baixo da camiseta e endurecer os bicos entre os dedos. Era intenso, quase dolorido, eu quero mais, você me toca mais embaixo, aqui... Ele me ouviu sem que eu dissesse nada e invadiu meu corpo com as mãos. Era o que eu procurava quando entrei ali. Revidei tocando o pau ainda dentro da cueca, rijo, pronto, todo meu. É isso que você tem pra mim? Gostei do que vi, queria ter comentado, mas não tive chance. Antes ele se aproveitou do balanço macio do ônibus para me penetrar de uma vez e só teve tempo de dar algumas estocadas e aí veio uma curva e com a falta de equilíbrio ele saiu de mim quando eu começava a conhecê-lo.

Quando me virei de frente para o espelho, perdi o chão de novo, ele me empurrou contra a parede de metal, foi um baque. Frio. Ele veio, a pressão, corpo retesado e quente, o metal gelado atiçando os peitos. Não fui avisada, pressenti, senti que haveria a invasão. Ele me segurou pelos cabelos, me untou de saliva e investiu. Quanto mais me apertava mais eu me soltava nas mãos dele e aproveitava a sensação desconhecida - por trás. Pensei em Dieter, e em Bernardo, eles quiseram tanto e eu não consegui, estava dando para outro, a bundinha tão desejada para o desconhecido com quem não teria nada, mas para quem dava com prazer justamente por isso. Ele aumentou o ritmo e fiquei imaginando se o ônibus todo tinha acordado com meus gemidos abafados. Tremi, até o ônibus tremeu. Ele me puxava contra o corpo dele e eu ia toda obediente. Outra curva, ele mais forte dentro de mim, apertado, quente, dolorido, eu ia gozar, eu vou gozar. Aguardei, estava vindo o gozo mais inesperado da minha vida. Um suspiro meu, e o som dos freios. Mas ele não parava. Ele não parou até cairmos um por cima do outro, arfando, amontoados no chão que virou parede, e rolamos, nos misturamos e eu o olhei de frente. Ele não sorria mais.

Aquilo tudo não era só um orgasmo.

Fechei os olhos para não ver mais. Meu corpo bateu no dele, me segurei ou tentei, em vão. Estávamos caindo, e eu não tinha medo do que podia acontecer comigo, nem de morrer tinha receio, mas não queria ficar mais tempo longe de Chico. Não, isso não. Por favor. Eu faço qualquer coisa, mas o Chico agora não! O que ele me deu homem nenhum vai poder dar. Eu não posso ficar longe dele, meu corpo pede, meu sexo, minhas entranhas. Chico!!!

A porta do banheiro destravou durante a queda e me acertou em cheio no rosto. Doeu, mas não me importei, a dor era o de menos. Abri os olhos devagar e vi tudo vermelho. Depois mais nada, tudo pesou, eu cansei e pensei que Chico poderia trazer um sonho para mim. Quis chorar, mas não pude. E o tempo e a dor e o gozo se foram de mim. E foi só.