quinta-feira, 31 de março de 2011

trinta e nove

EU E ELA


O pior foi que Renan levou nosso caso a sério e deixou escapar que não podia mais viver sem mim. Eu podia muito bem viver sem ele, andava de novo na cama de Bernardo, e ainda tinha a banda e umas aulas particulares de violão toda semana. Quando sobrava tempo, era para os encontros com Renan. Sempre à tarde, em motéis de luxo.

Até que Letícia estragou tudo.

Ela desabou assim que abri a porta. Eu sabia por que ela chorava e me sentia culpada por não ter colocado tudo às claras, mas esperei em silêncio. Letícia soluçava, falava desconexamente sobre não ser amada e estar arrependida do casamento.
- Você acha que eu devo pedir o divórcio?

O que eu acho? Quase engasguei. Se podia ajudar, não seria dizendo a verdade naquele momento. Fugi da resposta oferecendo a ela uma cerveja. Letícia aceitou e pediu para ficar, explicou que seu pai estava viajando e não queria ter que voltar para Renan.
- Eu tenho nojo dele, Nina. Eu quero que ele morra! Ele e a piranha que ele arrumou!

Àquela hora eu deveria estar saindo para pegar um táxi e encontrá-lo. Tinha acabado de tomar banho, mal enxugei o corpo porque ele gostava de tocar minha pele úmida, ele esperava por isso. Mas agora ela estava ali sentada do meu lado falando mal dele. Bebi com um olho nela e outro na bolsa sobre a mesa - se demorasse mais um pouco ele ia acabar ligando.

Ela não parava de falar e beber, estava ficando fora de controle. Não havia muito mais que fazer.
- Letícia, eu... eu preciso sair. Tenho um... compromisso.
- Fica comigo, Nina. Só hoje. Eu tô tão sozinha que acho que vou fazer uma besteira.
Hesitei. Mas...
- Não dá, juro. Tem gente me esperando.
- Por favor.
Como ia sair se ela se agarrava às minhas pernas?
- Eu prometo que hoje à noite a gente faz alguma coisa juntas.
- Não vai, não. Fica comigo.

Letícia me abraçava pelos quadris, seu rosto pressionava minha barriga. Daquele jeito eu não conseguiria me livrar dela tão fácil.
- Tá, mas não posso demorar.
Ela se pôs de pé diante de mim e sorriu. Eu também sorri e relaxei. Foda-se. Nos abraçamos como as amigas que nunca fomos nem nunca seríamos e então Letícia me surpreendeu com um beijo na boca que tão cedo não esqueceria.
- Espera.
Não me foi dada a chance de resistir. A boca de Letícia se apoderava da minha com sofreguidão e quase não me deixava respirar. Procurei rapidamente uma resposta nos olhos dela, que encaravam os meus e não traziam mais tristeza neles. Correspondi, aceitei a língua que brincava com a minha, mas a mordi depois para que ela não tentasse me dominar. Letícia entendeu e passou a língua de leve em meus lábios. Era só isso? Mostrei que não usava nada sob o vestido levando sua mão até lá. Ficamos nuas. Ela por cima, quis fazer sessenta e nove. Claro!

Meu sexo em suas mãos, meu sexo em sua boca. Nessa hora deixei Renan  de lado, mas não foi por querer, foi por tesão. Letícia, a esposa tão fria e distante, me mordiscava o clitóris com habilidade que nunca tinha visto nem em Karen. Eu recebia as carícias e tentava repeti-las nela do meu jeito. Lambia, amaciava, sugava gentilmente, mas ela sabia fazer melhor. Só assim para eu deixar o celular tocando e esquecer que um dia existiu um encontro com Renan às quatro no motel.


terça-feira, 29 de março de 2011

COISAS PARA FAZER NO HORÁRIO DO ALMOÇO

Além do básico, que é comer, há outras bem legais, principalmente quando um colega faz a MEGAGENTILEZA de te dar um toy art para montar e ainda te empresta um livro tudibom sobre um fotógrafo inspiradíssimo e inspirador.

 Tudo não passa de uma cartela de papelão

 Nada tem forma, mas parece divertido

Agora sim, um toy art pra chamar de meu!

Foto de Mayakowski, por Alexander Ródtchenko

Alimento para a alma

quinta-feira, 24 de março de 2011

trinta e oito

AMANTÍSSIMA


O buquê ia passar por mim e acertar a cabeça de alguém. Só estiquei um pouco o braço e apanhei no ar o amontoado de rosas vermelhas. Muitas pétalas se soltaram. E agora, o que eu faço?

Sob os olhares da noiva e dos outros convidados, Gabriel correu na minha direção e me deu um beijo como eu fosse a próxima a me vestir de branco. Não fechei os olhos, não via Renan. Cantar durante a entrada da noiva tinha sido um pretexto para me atrair, e eu aceitei, pensando no que ele faria.

Até aquele momento, nada. Ele havia me encarado quando comecei a cantar a música que escolhera, mas assim que Letícia entrou no salão eu não era mais o foco, ele só tinha olhos para ela.

Gabriel tentou me animar. Ele sabia que eu não gostava daquele tipo de festa nem de ter que segurar o vestido de Karen para caminhar. O tecido varria o chão e me impedia os movimentos.

Bebi, dancei com o pai do noivo sem saber dançar. Ele prometeu me ensinar e fingi acreditar que seria capaz de tal proeza. Cada vez que tentava agarrar uma ponta do vestido pisava no pé do homem com aqueles saltos finos que doíam. Ele ria, muito educado, mas assim que viu o filho passar entregou a tarefa a ele.

Renan mostrou sua boa educação ao beijar o dorso da minha mão, mas eu preferia o de antes, aquele que me obrigou a tomar uma atitude. Esse começou a se manifestar sutilmente depois da terceira música. Senti a mão me apertar as costas. Estávamos colados um no outro, isso dava medo. E excitação. E se os outros percebessem? Pior, se Letícia viesse tomar satisfação?

A mão foi quase até o fim do decote.
- Aqui não!
Ele estava bêbado, eu não. Não a esse ponto.
- Na sala de jogos? - sugeriu. A mão tamborilava ali onde não havia mais tecido, apenas a pele.
- Daqui a meia hora.

Não achei Gabriel nas mesas dentro da casa. Onde ele foi se meter? Pedi um uísque ao garçom para tomar coragem. Ele demorou, eu não sabia se subia as escadas ou procurava Gabriel para ir embora.

Não havia nada acontecendo no andar de cima, e a sala de jogos ficava bem afastada da festa. Mas ainda assim era perigoso. Olhei, vasculhei, ninguém à vista. Só então abri a porta e entrei. A sala estava vazia e silenciosa. Fiquei ali, não sei quanto tempo, brincando de jogar sinuca. Renan veio quando eu não esperava mais que viesse. Trouxe uma garrafa de champanhe e duas taças, não sabia como tinha conseguido subir com isso sem ser notado.

- Oi - ele disse.
- Oi - eu respondi.
Foi tudo que conversamos. Ele afouxou o nó da gravata, eu tirei a calcinha e a joguei sobre o feltro verde. Andei ao redor da mesa e fui colocando as bolas nos buracos. Depois sentei na borda de madeira, puxei o vestido até o joelho. Karen se importaria se de alguma forma eu sujasse o vestido? As mãos, minhas próprias mãos, arranhavam as coxas e iam puxando mais o vestido para cima, e faziam com que voltasse até onde estava, e linhas vermelhas marcavam a pele cada vez mais.

Ele me parou, segurou minhas mãos. Eu apertei as dele. Grandes, bem feitas. Vi a aliança em seu dedo anular, não quis lembrar o que significava a partir daquela noite. Fechei os olhos e lambi esse dedo comprometido, coloquei-o todo na boca e chupei. Lentamente, muito lentamente, envolvi a aliança em saliva e puxei com os dentes. Ele já não prestava mais atenção, eu sabia bem o que queria. Mostrei a língua com a aliança na ponta antes de nos beijarmos.

A aliança foi parar em algum lugar, acho que ele a atirou longe para poder sentir-se mais livre dentro de mim. Eu não usava véu e não tinha mais o buquê nem a calcinha que me afastava desses prazeres proibidos. Tornava-me de maneira oficial a amante que abria os grandes lábios à vontade e mostrava a carne pulsante de que era feita e o convidava a se banquetear nela. E não, não me arrependeria jamais disso.


quarta-feira, 23 de março de 2011

PARABÉNS A VOCÊ, FLORIPA!
PARABÉNS A VOCÊ, JOÃO!


Eu não deveria ter ido por causa da perna, ainda naquele estágio meia-boca, dói, não dói, vai, não vai. Quer saber? Dane-se, eu fui. Tinha apresentação do queridíssimo maestro João Carlos Martins na Beira-Mar, em comemoração ao aniversário de 285 anos de Floripa. Ah, se eu ia perder! Carreguei a mãe, que carregou o banquinho para mim. Este não usei, senão ia perder a festa em imagens no palco e no telão. Me apoiei num pé, depois no outro, e assim fui ficando durante mais de uma hora.

O bizarro: A orquestra tocando Mozart e o pipoqueiro passando com o carrinho superiluminado. Quando a música ficou mais suave deu pra ouvir a pipoca estourando logo atrás.

O tragicômico: O moço do lado deixou cair alguma coisa que bateu no meu pé. Não deu muito tempo pra ele estar tateando a grama em busca da tampa do celular que caiu. Enquanto isso, a quinta de Beethoven rolava no palco.

O delicioso: Cantar Trem das Onze com a galera ao redor, acompanhada da orquestra. Eu era uma das 12 mil pessoas que se preocuparam mais com a empolgação do que com a afinação.

Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã.
Além disso, mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar.


O arrepiante: Ouvir João ao piano executando Libertango (adoooro!), de Astor Piazolla.

A boa surpresa: A união da cuica à orquestra para a execução de Brahms. Inesquecível!

Orgasmos múltiplos: A Sinfonia Nº 5 de Beethoven de volta no final, dessa vez com alguns integrantes da bateria da Vai-Vai.



Muitas palmas, muitos “Uhuuus”, o simpático grito  “Valeu, João” de um anônimo e fogos de artifício para iluminar o feliz caminho de volta para casa de todos os que passaram por ali.

domingo, 20 de março de 2011

FLY ME TO THE MOON

Com uma câmera cheia de botões e recursos, com quase nada de leitura do manual não oficial, com a perna doendo e meio no escuro, eu fiz minha homenagem à bela lua de ontem:
 
 

sexta-feira, 18 de março de 2011

trinta e sete


O NOIVO

Se soubesse o que queria já teria me decidido. Caio tinha se estabelecido no Rio com Samuel e Eric, e Bernardo andava ocupado demais com o jornal para me chamar para sua cama. Eu? Estava numa fase excepcional para quem já não esperava muito da cidade grande. Minha banda tinha lugar fixo para tocar e a promessa de shows, quem sabe um CD no fim do ano. Tom tinha voltado a me chamar de Nininha e tudo era quase como antes.

Eu me masturbava antes de ensaiar, antes de dormir, jurava que não ia procurar sexo. Até a manhã em que Gabriel apareceu, desgrenhado e com olheiras grandes, mas ainda lindo. Dramático. Único. Não era um cara complicado e me aceitava sem restrições, eu nunca precisava falar muito ou jogar com ele. E o principal: não estava apaixonado de verdade por mim, o que simplificava bastante as coisas.

Aceitei o fim de semana na casa de amigos dele.

O dono da casa era Renan, que eu soube que ia casar dali a uma semana com uma ex-namorada de Gabri. Havia outros dois casais tão loucos e felizes quanto meu primo.

No fim da tarde finalmente a noiva chegou. Eles se beijaram. Eu via desejo, mas havia algo mais que ainda não conhecia direito. Fui para a rede observar a felicidade do casal a distância. Quis adivinhar por que Renan ia casar com ela. Gabriel veio ficar comigo.
- A Letícia quer ouvir você cantar.
- Ai, não, Gabri. Inventa alguma coisa, pelo amor de Deus. Não to a fim, não.
Ele não insistiu e com o balanço da rede caímos no sono, acordamos, nos bolinamos e cochilamos, Gabriel com a mão enfiada na minha calcinha. Quando abri os olhos lá estava Renan me olhando.


Enxuguei a baba no canto da boca e saí da rede o mais rápido que pude. Só voltei a vê-lo tarde da noite. Gabriel jogava sinuca com Letícia e outro casal, Renan estava na cozinha e eu não sabia para onde ir. Perdida e sem cigarros, um tédio só.

Bebi, não muito. A certa altura, quando os quatro falavam ao mesmo tempo e riam alto, saí sem fazer alarde para procurar um cigarro pela casa. Alguém tinha dito que Renan fumava de vez em quando, era a deixa para correr até a cozinha. Ainda ouvia o burburinho no andar de cima quando entrei.  Pedi logo um cigarro, Renan se desculpou, tinha fumado o último à tarde, e ofereceu um vinho. Murchei e fui saindo, ele me disse para esperar. O noivo de Letícia, educado e afável, me empurrou na direção de um quartinho e fechou a porta com o pé. Impossível, eu estava surtando! E Renan não pediu, não disse nada, pegou nos meus peitos e me beijou de língua.  Só isso. Não diria que não gostei, mas não quis, mordi com força seus lábios e saí correndo para o jardim. Ele me atraía, eu só não achava certo ali, tão perto dela, a futura esposa.

Sem conhecer direito o jardim, não sabia onde me esconder e Renan não precisou de muito esforço para me derrubar perto das mesas. A grama estava úmida. Tentei dizer que ali não era lugar enquanto ele puxava minha calcinha. Puxei de volta. Ele me olhou, estava zombando da minha iniciativa de lutar. Rolei para longe dele, o suficiente para tentar ficar de pé. Mas Renan me puxou pelo pé, me derrubou de novo. A essas alturas o vestido já tinha se enrolado todo na cintura, eu me sentia fraca e tonta. Não, eu não tinha vontade de gritar nada, eu o desejava. Talvez não ali, daquele jeito. 

Ele me prensou contra o chão, a coxa entre minhas coxas, depois o joelho fazendo pressão, eu ainda de calcinha sentindo o pano roçar, o joelho. Gemi. O joelho aumentou a pressão, os olhos sobre mim. Gemi mais, ele quase sorriu e botou minha mão no pau dele. Se eu quisesse me salvar era a chance, bastava usar um pouco mais de força no lugar certo. Se eu quisesse.

Com uma mão afastei a calcinha, com a outra levei o pau duro até meu pelos, esfreguei antes de fazê-lo me penetrar, tão rápido que não tive tempo de pensar que fazia parte da despedida de solteiro. Era isso mesmo? Ele me tapou a boca quando gozei, mas aquilo não estava certo, eu não ia ficar quieta. Mordi seus dedos com raiva, só então ele me beijou, o beijo mais ardente, o beijo que ainda guardava algum tesão do sexo, o gosto dele. Meu cúmplice.

A versão oficial foi que bebi um pouco a mais e caí entre as mesas. Renan foi me ajudar e caiu também. Coitadinha de mim, estava com os joelhos ralados e a roupa amassada e úmida de sereno. Queria ver se ele conseguiria convencer Letícia de que os arranhões na coxa e os belos lábios inchados faziam parte do tombo no jardim. 

Aquele casamento eu não queria perder por nada deste mundo.



quarta-feira, 16 de março de 2011

E VOCÊS... VIRAM?

Trabalho numa sala com cinco caras. Hoje eles estavam lá envolvidos com os jobs do dia, dizendo umas bobagens e tal, e aí um deles quis saber:

- Vocês viram a novela ontem?

Pretexto ou não, eles trabalham com arte/criação/design e na novela das nove o Lázaro parece que é designer também.

É uma boa justificativa, vai...

domingo, 13 de março de 2011

ENTÃO É ISSO 

O tempo cumpriu seu papel e passou rápido como sempre, a chuva choveu, as férias frustradas sem Chevy Chase acabaram. O que será de mim?

quinta-feira, 10 de março de 2011

trinta e seis

SE É ISSO QUE VOCÊ QUER
 

Depois de eu ter me acostumado com a cama e o corpo dele quase todo dia, Bernardo começou a demonstrar estranha inquietação depois do sexo. A mão escorregava pelas costas e... Quê? Esse papo eu conhecia de outros tempos, me lembrei de Dieter. Para não ser a estraga-prazeres, dizia que ia ceder e vacilava ao baixar a calcinha, sem esconder minha covardia. E se doer?  E se eu não gostar? E se gostar? E se me machucar?

Quando pensava que ele estava satisfeito e queria apenas fumar um cigarro, ele vinha alisar minha bunda com aquelas intenções. Aquelas. Se fosse uma carícia despretensiosa eu seria capaz de adormecer e sonhar que era vendada e seduzida no alto do edifício. Não nesse caso. Então não me restava alternativa senão a de permanecer atenta aos mínimos movimentos, esperando que ele cansasse e fosse dormir.

Um dia tentei mostrar que estava mais maleável.
- Mas vai com calma, tá?
- Você sabe que eu nunca te faria mal.
Era o que todos diziam.
- Eu tô falando sério.
- Eu também.

É verdade que não me sentia totalmente relaxada, não importando o que ele dissesse para me acalmar, mas imaginei que poderia ficar. Pedi uma dose de uísque. Sentamos na beira da cama e assim ficamos por algum tempo, imóveis.
- Vou confiar em você – murmurei.

A chuva continuava batendo forte no vidro, tinha jeito de tempestade de verão. Bernardo tirou o cabelo dos ombros e me beijou as costas, foi descendo. Depois era a língua dele que deslizava por toda a pele numa languidez que me levou à rendição. Sem sentir estava deitada de bruços olhando a chuva pela janela e começava a sentir alguma coisa. Ele soprava o rastro de saliva, lambia mais um pouco, e soprava, e refazia o caminho.

Ele parou, estava chegando. Eu não podia ver nada – gostaria de ver! Senti que as mãos se colocaram entre as coxas e buscaram o espaço para poder avançar. Sem saber se era instinto, abri um pouco as pernas e empinei a bunda. Um dedo veio, revelando o que havia entre as dobras de pele. Eu não pensava mais em dor, eu via que era muito diferente do que havia imaginado. O dedo me cercou, rodeou, acariciou e foi se afundando em mim. Sempre um pouco mais, até desaparecer. Era uma sensação nova que eu sabia onde ia acabar. Por que você não disse que era gostoso?

O dedo saiu devagar sem que ele dissesse nada. Eu suspirei e só, não tinha onde me agarrar. Bernardo me segurou pela cintura, percebi que agora não demoraria a se juntar a mim. E teria vindo se o celular dele não tivesse tocado e alguém não tivesse falado em emergência e hospital.

Não, não seria dessa vez, não importando o quanto eu estivesse excitada e disposta a correr riscos nas mãos dele. Ele se vestiu às pressas e saiu sem explicar muita coisa. Eu também saí. Já não chovia, a rua estava silenciosa. O caminho para casa seria longo.


terça-feira, 8 de março de 2011

AS COISAS SIMPLES DA VIDA

A alegria da terça-feira de carnaval foi encontrar o botão que aciona o drive de CD do notebook. E assim fez-se o milagre da instalação de programas!

DE SELO EM SELO
Ganhei selo da Genny LiMo, dona do SenhoriTa AlucinanTe, junto com umas regrinhas: esse selo deve ser repassado aos donos de cinco blogs, os quais terão de ser avisados. De brinde há um questionário.
(Desculpa, Genny, mas dei uma mexida no texto do questionário e diminuí a quantidade de perguntas.)


1- Sem o que você não sai na rua?
MP3 player.

2- Até onde é capaz de ir per amore?
Até onde meu orgulho permitir.

3- Acredita em horóscopo?
Acho as previsões engraçadas. Porque são genéricas, poderiam ser aplicadas a mim, a você... bizarro!

4- Você é uma pessoa "simples assim" ou complicadézima?
Sou um bocado complicada. Definitivamente não sou simples.

5- Sabe escolher presentes perfeitos para pessoas especiais?
Sem modéstia - sei. E adoro fazer isso sempre que a grana permite.

6- Acampar é uma delicinha ou um castigo?
Uma vez na vida tá ótimo pra saber como é, concorda?

7 - O que mudaria no mundo se tivesse poder para isso ou uma varinha de condão?
Promoveria a integração de todos os povos, a queda das barreiras, a universalização do conhecimento, da cultura. Muito utópico?



E os indicados para receber o selo e responder ao miniquestionário são:

A minha vida daria um blog

Uma palavra depois da outra

Eraldo e suas Paulinisses

Os brejos ao redor de minha alma agreste

Atrás da porta


segunda-feira, 7 de março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

trinta e cinco

EM CASA


Pulei de vez para a cama de Bernardo. Era verão, um calor quase impossível de suportar, Caio tinha ido morar no Rio e eu aproveitava a mordomia do ar-condicionado, não ia mais embora. Uma noite levei o violão e a escova de dentes, durante a semana algumas poucas coisas, ele foi deixando. Esqueci – de propósito – uma calcinha pendurada no box para ver o que acontecia. Nada. Ou ele sabia apagar muito bem meus vestígios pela casa ou não tinha realmente mais nada com aquela mulher.

Dez dias se passaram ao som do nosso gozo, a vida fora do apartamento seguia seu rumo e eu não estava minimamente interessada em participar dela. Até que Régis veio encerrar minha temporada de ócio.

No começo da tarde estávamos saindo da cidade para tocar em um festival obscuro em Santos e não me dei conta de que havia deixado o celular na mesa da cozinha e nenhum aviso para Bernardo. Entrei na van e dei de cara com Tom, Alice e dois sujeitos desconhecidos. Passado o susto, olhei para a frente e me senti incrivelmente feliz por estar indo para não sei onde tocar com Tom e Régis de novo.

Foi apenas um fim de semana.

Bernardo demorou a abrir a porta, achei que não estivesse em casa. O cigarro no canto da boca, uma toalha enrolada na cintura. Não vai me convidar pra entrar? Tirei o cigarro de sua boca e dei uma tragada. Eu viva tentando, mas não tinha força de vontade suficiente para largar de vez e Bernardo cheirava a nicotina, o que aumentava ainda mais o desejo. Talvez Tom tivesse razão em querer que eu parasse, mas ainda não era o momento.

Entrei, ele me olhou de lado. O que é que é? Aquele olhar gelado como se eu tivesse feito algo de muito errado. Eu mesma fechei a porta e o segui. Dois dias sem mim te deixaram contrariado desse jeito? Pobrezinho... Depois eu sou a adolescente aqui.

Ele sentou na poltrona e continuou em silêncio, fumando. Fiquei aos seus pés aspirando a fumaça com prazer. Não ia dar explicações para que ele ficasse bonzinho comigo como antes. O caminho da reconciliação era outro, bem mais simples. Coloquei a mão na toalha, ele me segurou. Não vai ser fácil. Muito melhor assim. Insisti e puxei a toalha sem que ele fizesse qualquer movimento para ajudar. Ele me olhou ao tragar, muito rapidamente. Bernardo queria me maltratar com aquela pose indiferente – as pernas abertas, os olhos frios, agora fixos na parede às minhas costas.

Esfreguei uma mão na outra e fui direta. Ele tentou me desprezar, por alguns minutos tenho que admitir que conseguiu, mas a flacidez em minhas mãos foi enrijecendo e senti que ele não seria capaz de controlar sua natureza. De pau duro ele não tinha como me negar nada. Seus músculos iriam se contrair e ele gozaria na minha boca se eu desejasse. Parei para olhá-lo. Agora ele era meu de novo.

E agora?

Tremi por dentro quando ele se levantou. Eu ainda vestida, ele completamente excitado e ainda com raiva de mim. Não deu tempo de dizer nada, eu nem queria, nos beijamos com uma fúria que eu já conhecia – nele e em mim quando estávamos juntos dessa forma. Esse homem rude me sugava os lábios e me puxava pelos quadris. Ele estava assim porque não avisei da viagem? Esfreguei as coxas, continuava bem lubrificada, então... Sussurrei seu nome com docilidade, ele puxou meus cabelos para trás e me olhou. No fundo ainda havia algum resquício de raiva nos olhos dele, não tinha certeza. Bati com a cabeça na prateleira, ele não parou. Um CD despencou, depois outros vieram em cascata. Que estrago! Senti uma dorzinha fina, não na cabeça, mas nos pés. Não olhei, sabia que eram as caixas espatifadas me espetando a pele.

Enquanto Bernardo achava que ia me fazer pagar pelo sumiço, eu festejava sua excitação. Ele segurou meu rosto entre as mãos com força. Vai me estrangular! Talvez ele também quisesse isso, mas me beijou e as mãos afrouxaram.
- Onde você estava?
Eu contra a estante, ele pronto para investir.
- Não interessa!
Eu gostava de brincar.
- Não vai dizer?
Me colocou de costas, colada à parede.
- Não.
E se ele viesse, se ele tentasse me pegar por trás? Recuei, ele me segurou. Não acreditei que ele teria coragem de fazer aquilo para se vingar. Senti que estava tão perto. Eu não tinha saída, quase pedi para ele acabar logo com a expectativa.
- O que você veio fazer aqui? Brincar comigo e ir embora?
Consegui me virar:
- Isso.
Toquei, peguei o pau de Bernardo. Ia explodir de tão duro na minha mão. O azul dos olhos dele estava mais escuro, a veia no pescoço pulsava, o pau pulsava entre meus dedos.

Ele ia falar, mas o impedi tapando seus lábios com os meus. Não havia mais nada que valesse a pena ser dito. Fomos, tropeçando, parando no corredor e nos tocando como se fosse a primeira vez. Como se ele já não me conhecesse há séculos, e eu a ele. O desejo cada vez mais feroz me guiava. Espasmos, eu latejava inteira sobre ele e não queria que terminasse. Mas ele me lambuzou as entranhas e me fez vibrar por alguns segundos e abandonou meu corpo inerte, suado, dolorido, acabado, satisfeito. Ali, na cama dele.

Dessa vez não precisei de um cigarro antes de dormir.





quarta-feira, 2 de março de 2011

WITH A LITLLE HELP FROM MY FRIENDS

Não foi uma pessoa só que saiu da rotina para me ajudar. Foi o colega de trabalho que me levou na emergência no dia do fatídico acidente panturrilhístico. Foi o chefe que conseguiu o ultrassom para o mesmo dia. Foi a colega que me acompanhou no exame e me trouxe em casa depois. Foi minha mãe que se virou em mil para me fazer sentir bem em casa sem poder andar e pouco mexer os braços. Foi meu namorado que me presenteou com um buquê florido de carinho, gentileza, amor e paciência. Foram todas essas pessoas especiais que contribuíram para eu chegar aqui. Não cem por cento ainda, mas mais tranquila por saber que tenho com quem contar nas horas menos felizes.

Alegria? Hoje é tomar banho sozinha, andar do quarto até o banheiro e a sala. Parece pouco, só que não é, não. É recuperar cada parte da minha vida e querer mais. Eu quero mais. Quero e vou sair dessa melhor. Aliás, já estou saindo.