quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quatorze

BAILARINA CLOWN


Arrumei trabalho no shopping para não ter que pedir mais dinheiro ao seu Érico. Vendedora em loja de departamento, sempre entediada e sorridente. O que a senhora deseja? A roupa não ficou boa? Claro que você não está gorda! Era o dia inteiro sem ver o sol e louca pela hora de ir ao banheiro fumar. Até que numa tarde Tom apareceu na loja com um suco verde na mão e usando o nariz de palhaço. Me entregou o copo plástico:

- Toma que vai te fazer bem.
- O que é isso?

Nem falava de ele estar usando aquele nariz, estava acostumada, mas do líquido verde e espumante. Meio nojento, parecia grama batida no liquidificador. Só se eu fosse louca para tomar aquilo. Grama líquida com um dedo de espuma clara. Argh!

- Suco de clorofila. A moça disse que dá energia.
- Eu não posso tomar nada agora. Tô trabalhando!

Queria me pendurar no pescoço dele, mas a supervisora me olhava. Bruxa! Escondi o suco atrás do balcão. Eu não podia perder o emprego assim, por causa de Tom-do-nariz-de-palhaço e seu suco verde. Tirei três camisetas da arara e joguei sobre ele:

- Espero que fiquem bem. Se precisar de um número maior é só me avisar.
A mulher se acalmou, achando que Tom era mais um cliente maluco.
- Shhh!!! Depois a gente conversa. E tira esse nariz antes que eu perca o emprego.

Vendi uma camiseta para Tom, que esquentou a bunda num banquinho até a hora de eu sair.
- Você podia ter ligado, né?
- Eu tive doente...
- Doente?
- Doente de saudades!
- Fala sério, seu chato!
- Tô vendo uns contatos pra gente voltar a tocar, Nininha. Mas por enquanto ainda tem palhaçada. Lembra da dona Célia? Ela chamou a gente pra festinha da neta.
- Oba!

Naquela noite, com a ajuda de Karen, costurei várias camadas de tule colorido num corpete, especialmente para o aniversário da menina. Na verdade era surpresa para Tom, o único a quem eu queria agradar. E funcionou.

- Cê tá muito linda, Nininha!

Tom fez o show com o riso frouxo. Dessa vez a dupla Limonada e Canudinho agradou tanto que eu não tinha vontade de abandonar o encantamento - Tom me olhando como se eu fosse uma fada, uma boneca ou um princesa, tanto fazia. Eram olhares cheios de intensidade, e lá no fundo havia também uma malícia disfarçada. Ou era assim que eu queria que fosse? Isso eu ainda iria descobrir.

Fomos atrás de um esconderijo para trocar de roupa, já que os banheiros estavam ocupados. Tem gente! Alguém indicou o quarto da menina, à direita no corredor.

- Não queria tirar essa roupa nunca mais.
- Cê tá parecendo aquelas bailarinas de caixinha de música.

Consegui encará-lo de frente, de baixo pra cima – ele tinha pelo menos uns dez centímetros a mais que eu.

- Me abraça!

Nos aproximamos na penumbra. Ele me beijou na ponta do nariz – de palhaço – e me apertou mais:

- De perto cê fica ainda mais bonita, moça. Tô tonto só de olhar.
- Para com isso...
- Cê sabe, né não?
- Não, me diz.
Eu queria ouvir mais.
- É que eu... eu... eu penso muito em... você, Nininha. Isso é muito... muito...surreal, eu não sei o que fazer. Cê é minha amiga, minha companheira de bar. Não queria que fosse diferente. Mas não consigo parar de pensar.
- Eu também tô assim, Tom.

Foi esquisito quando Tom veio ao meu encontro. Eu esperei apenas, entreabri os lábios com os braços caídos ao lado do corpo. Ele não tinha pressa de chegar e me envolver, sua maquiagem foi se misturando com a minha, o branco o vermelho e o preto, a língua, o gosto, o cheiro, uma mistura lenta que me acendeu.

Tom se afastou, hesitante:

- O que cê acha?

- Eu acho que você deve continuar me beijando, uai...

Tomei iniciativa de outro beijo sem medo de parecer afoita, achei que Tom precisava de um empurrãzinho para ir em frente, e continuei. Desci a mão pelo peito dele até o umbigo e tudo mudou. Ele passou a abrir os colchetes na parte de baixo do corpete me olhando nos olhos. Fiquei com a saia de tule colorido torcida na cintura, ele perdeu a cartola e deixou a calça ir parar nos pés. E eu que pensava que conhecia Tom... Nunca tinha visto esse estado de excitação antes e não estava disposta a perder tempo analisando a situação, queria que acontecesse e pronto. Ponto.

Se dona Célia nos visse! Deitamos na cama de Talita, sobre a colcha de cetim rosa cheia de babadinhos. Em silêncio, estávamos em horário de trabalho! Senti quando Tom se acomodou com pressa dentro de mim. Ele entrava e saía inteiro, suava, me encarava em busca de palavras. Eu não tinha o que dizer, gemia baixinho com os pés em suas costas. Me segurei na colcha, nos braços dele, aos poucos fui sentindo a cama tremer, a boca tremer, o corpo quente, uma contração forte, mais uma. Aí vem! Tremores que quase me fizeram rasgar a colcha rosa de cetim da menina... Já pensou?

Levantei molhada, meio sem jeito, ele me seguiu. Não havia lido nenhuma revista que explicasse o que dizer a um amigo depois do sexo, nem sabia onde colocar as mãos! Tom foi mais rápido:

- Vamos tirar esses borrões da cara e tomar uma cerveja com a dona Célia, Nininha?
Tom amigo e pacificador de volta.
- OK, Tom – coloquei uma calcinha limpa. O corpete branco e a saia de tule foram para a mochila com outros sonhos.



terça-feira, 28 de setembro de 2010

haja

Estou trabalhando quietinha no meu canto, tentando me concentrar. Ô tarefinha complicada essa, sô! Vem o colega do outro lado, se pendura na divisória:
- Oiii!
Eu não estou nem um pouco a fim de começar uma conversa, mas respondo:
- Oi.
Ele estica o assunto:
- Tudo bem?
Eu ainda educada:
- Tudo.
Baixo a cabeça e continuo trabalhando, na tentativa de mostrar que estou atarefada, ocupada, indisponível no momento, fora de área... tu, tu, tu...
E ele? Foi embora cuidar da própria vida? Nããão.
- Muito trabalho?
Eu mais seca:
- Sim.
Silêncio momentâneo ali do outro lado. Que dura pouco, pois ele recomeça:
- Tem uma espinha no teu rosto.
Paro o que estou tentando fazer, olho pra ele de cara feia. Beeem feia, muito feia.
Ele se vangloria:
- Rá, rá, rá, te tirei do sério.

Isso é papo de gente normal? Eu deveria jogar um copo d’água na cabeça do sujeito? Atirar bola de papel ou caneta nele? Xingá-lo? Fina que sou, não dei continuidade ao colóquio. Não disse nada. Pra quê? Pra perder mais tempo? Eu não. Tinha mais que fazer e fui fazer. O rapazinho também, e não abriu mais a boca até o fim do expediente.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

inconfessável

(ou nem tanto)

A Michele do Devaneios trouxe a ideia, colocou-a no meu colo e cá estou. Nham... algo sobre mim? Acho que fiz há algum tempo, mas isso se perdeu entre os posts, tantos.

Vamos lá?

1. Quando tinha 10 anos queria ser chacrete e também arqueóloga. Hã?! rsrs

2. Já vi um OVNI ou um genérico. Pode acreditar.

3. Nunca tive uma Barbie. Eu brincava de Susie e... Falcon. Delicinha!

4. Geralmente quando vou comer não misturo as coisas no prato, como uma de cada vez.

5. Ainda fico tensa com filmes de terror - aqueles bem feitos, tá?

6. Saio até sem dinheiro no bolso, mas não ando sem perfume/relógio/anel/brinco. Se estiver sem, fica a sensação de estar pelada.

7. A paciência não é meu dom. Nunca foi, talvez um dia ainda seja. Fica a esperança.

8. Moro no litoral e há uns sete anos não vou à praia. Sinto até falta de olhar o mar, não de entrar nele.

9. Não sei dirigir nem quero aprender, acho que seria daquelas bem estressadinhas, que buzina e xinga... que horror! A pé eu também chego. =P

10. Se me vir de óculos, saiba que não foi por vontade. Depois que me disseram que eu ficava com cara de professora - e eu não queria ter cara de professora - passei a não gostar de usá-los.

domingo, 26 de setembro de 2010

red, red wine

Um bom cálice de vinho não resolve ou dissolve problemas, mas aquece... até a alma.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

treze
SÓ PRA SABER


Com muita lábia consegui outras noites no apartamento. E naquela consegui trazer Tom para o outro quarto com a desculpa de que estava ouvindo barulhos estranhos e não gostava de dormir sozinha. Velha essa, não? Ficamos muito tempo deitados no escuro, em silêncio, olhando as estrelinhas amarelo-limão que brilhavam no teto.

- Você não pensa em sair daqui, Tom?
- Do apê do Waguinho?
- Não, da cidade.
- Um dia eu volto pra Minas, mas não agora. Cê gostaria de ir junto?
- Eu?
- Aí cê ia conhecer uma verdadeira família de palhaços.
- Eu ia gostar muito.

Silêncio de novo. Eu só via as estrelas grudadas no teto e ouvia uma respiração baixa em algum lugar próximo, mas não muito. Esticando o braço poderia tocá-lo. Tom rolou até chegar a mim. Teria adivinhado meus pensamentos absurdos?

- Tá com fome?
- Não, tô com frio. Me abraça?

Tom me envolveu em seu abraço quente. Mais silêncio, não sei por quanto tempo.

- Tom?
- Hein?
- Você tá com alguém?
- Não. Por quê? Cê me quer?
- Ah, Tom, que pergunta!
- Eu acho que quer...
- Não faz cócegas, vai... para, Tom!

Silêncio de novo. Minha perna enroscada na dele, o braço dele pousado em meu estômago.

- Nininha?
- Que é?
Senti a mão descer para a coxa, a minha, os dedos me apertando.
- O que é isso que tá acontecendo?
A mão parou, esperando resposta.
- Não sei.
A mão desceu um pouco.
- Eu tô com muuuito tesão.
- Eu também.
- Cê quer?
- Eu... não sei...
- Eu não guento mais.
- Tom...
- Nininha...

Eu coloquei a mão dele dentro da calcinha e ia responder que queria também, mas de repente as luzes da sala se acenderam e os meninos entraram fazendo algazarra. Vieram direto para o quarto e Tom se afastou rapidamente. Depois de toda aquela conversa na escuridão pude olhar nos olhos dele. Como eu, ele estava alterado, com o rosto vermelho. As pupilas dilatadas. Régis notou o clima e ficou de gozação até a hora de dormir. Esse nunca perdoava uma, que saco! Além de não cometer uma loucura a mais com Tom eu ainda tinha que ouvir as gracinhas de um nanico metido a baixista que cheirava a cigarro e fritura. Dormi sob um lindo teto cheio de estrelas, estremecida de tesão pelo cara ao lado.



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

de saudade

Saudade é coisa que dá e fica, e você lembra e fica feliz, lembra e esquece o sorriso, e aí sente falta, e aí quer mais. E aí?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

resultado da democracia no supermercado

do pó vieste...

baguncinha

le-lê... le-lê... le-le-le-le-le-lêêê...

pose, pose

careta, careta

quem quer saber de batedeira?

acho que ficou bom!

deixa eu provar?

fatia gorda, cheia de doce de leite e... desfocada

sábado, 18 de setembro de 2010

democracia no supermercado

Eu e namorado fazendo comprinhas bem felizes. Resolvemos levar um daqueles bolos de caixinha, para nos divertir na cozinha mais tarde.
Pergunto:
- Que sabor?
Ele olha para a prateleira, pensa e responde:
- De limão.
Também penso e dou minha opinião:
- Vamos de baunilha?
E o de baunilha é o escolhido. Eba!

* * * * * *

Hora de escolher o chocolate. O da Lacta está em promoção, que bom! São tantas opções... e se é assim...
- Amor, escolhe um que eu escolho outro.
Ele pega o Meio Amargo e Branco e eu levo Shot.
Só que a gulosa não se conforma:
- Ah, o preço tá muito bom! Vamos levar o Diamante Negro também?
E uma barra de chocolate para o fim de semana vira três. Mas... calma, muita calma nessa hora, porque ninguém vai comer três de uma vez só.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

doze

ESTREIA:

LIMONADA E CANUDINHO


Assim que me viu entrando no salão com Tom, a menina desandou a chorar e ninguém conseguiu fazê-la parar. Logo agora? Ela se agarrava ao vestido da mãe e escondia o rosto, nos espiava e chorava mais. Me senti um monstro, um ser asqueroso com roupa de palhaço, nariz da palhaço e o bolso cheio de balões. Dei uma cutucada em Tom para começarmos logo nosso número. Duas meninas seguiram o coro da aniversariante e também caíram no choro sem nem saber por quê. Tom chamou um garotinho de jardineira que não quis se aproximar e vimos que não haveria como salvar a festa. A não ser que nos livrássemos da menina chorona, mas isso seria impossível.

Em resumo: foi um desastre, e tudo por culpa da mãe que não teve o bom senso de avisar com antecedência que a menina morria de medo de palhaços. E quando ela viu que não haveria como acalmar a filha, pagou o combinado, juntou uns docinhos num guardanapo e nos liberou. Mas antes eu precisava experimentar os docinhos do aniversário fracassado. Sentamos no muro da casa vizinha para fazer a degustação.

Dali fomos para um bar. Esqueci do relógio e fui distraindo Tom com uma história atrás da outra e várias cervejas, até que não houvesse mais jeito de voltar para casa. E pedi para dormir na casa dele. Isto é, se não ficasse ruim para ele nem para os meninos.

- Mas não quero atrapalhar, hein!

- Cê nunca atrapalha, Nininha. E acho que cê vai ficar contente de saber que o Waguinho tá passando uns dias com a namorada.

- Ah, é?

Mau sinal... Uma cama sobrando.

- E isso significa que cê não vai precisar passar a noite espremida na cama comigo.

- Humm...

E ele achando que estava me fazendo um favor. Droga! Quando chegamos tirou a camiseta sem cerimônia, disse para eu ir me ajeitando enquanto ele tomava banho. Não tinha cabimento eu me convidar para ir junto, mas quis sem entender por que quis. Quis, mas não parti para a ação... Imagina se eu ia lá me meter com ele no chuveiro, nós dois sem roupa, ele me lavando as costas, eu ensaboando as coxas dele, ele me passando o sabonete, eu enxaguando seu umbigo, ele me pressionando contra o azulejo, a água caindo, o juízo indo embora e minha vergonha também. Ideia mais sem cabimento! Mas quando ele saiu do banheiro pingando, com pequenas gotas escorrendo pelo peito até a toalha amarrada na cintura, eu quis de novo. Quis tanto que levantei e me aproximei. Minhas pernas só pararam de tremer no momento em que ele me abraçou e torci para que num passe de mágica de palhaço sem nariz de palhaço a toalha fosse para o chão.

Tom me beijou na ponta do nariz para acabar com qualquer esperança e me entregou uma toalha limpa. Não precisava dizer mais nada. Era tarde demais para um plano B. Mandei uma mensagem para Karen avisando que estaria na casa de Waguinho. Rolando sozinha na cama de Waguinho.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

adocica, meu amor, anda logo e adocica

A TPM me azeda, me deixa com vontade de brigar, eu fico mais séria, bicuda, intolerante, além de sentir certas partes do corpo - peito, bunda e quadril - ficarem ligeiramente mais salientes, uma tragédia anunciada todo mês. Namorado, que não é bobo e entende esse meu estado deprimente (ainda bem que não permanente), criou uma forma infalível de me desarmar. É só eu inventar de rosnar por motivo bobo que ele diz: Adocica, meu amor, adocica...

Assim como é que eu vou segurar a cara feia?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

liberdade, ainda que tardia

Tente cancelar seu Itaucard pelo telefone - que não é 0800 - pra ver. Vão prometer a você atendimento em até quinze minutos. Oh... apenas quinze? Que maravilha, muito obrigada, fico muito feliz por toda essa consideração com o cliente. E não é só. Nesse pequeno intervalo de tempo você será brindado com um trecho de música instrumental feita com a guitarra mais estridente e desafinada do mundo, para que você não se sinta só.

Não, muito obrigada, não vou cair nessa tentativa tosca de me fazer perder a paciência e desistir. Perdi a paciência, sim, depois dos quinze sentada no sofá com o telefone pendurado no pescoço, mas liguei para o SAC, um 0800! Emanuele me atendeu por alguns minutos e a ligação caiu. Ou ela desligou sem querer na minha cara? Liguei de novo e então Gisele deu o ar de sua graça nordestina. Fui meio grossa e ela segurou a barra. Penei, me irritei, mas consegui cancelar o cartão sem muito guéri-guéri. E não há Luciano Huck que me faça voltar.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

onze

APENAS AMIGOS... É?


Eu estava aquecendo a voz para entrar no palco e dei uma geral na plateia enquanto ajeitava o decote. Com o bar cheio e na penumbra ficava quase impossível vislumbrar qualquer rosto conhecido. Gostaria de ter visto Felipe me esperando ali perto do bar. Ai, se ele não vem... Quando liguei, dias atrás, propus uma troca: eu faria qualquer personagem com a condição de que ele fosse me assistir. Ele aceitou com entusiasmo e anunciou que iria sozinho. Bom sinal...

Tom acabou com meus devaneios:

- Vamos lá, Nininha. Vamos ganhar o troco do dia – riu.

Espiei mais uma vez e vi
João na frente do palco. O que esse cara faz aqui logo hoje?

- Tô uma pilha, Tom. Olha quem tá ali.

- Relaxa. O Joãozito tá parecendo tranquilo.

Nem respondi, ele já tinha me puxado pelo braço e deu o primeiro acorde para ver se eu me tocava de que estava no palco. Eu “só” precisava cantar, mesmo com João me encarando e sorrindo, bebendo e sorrindo e me encarando, muito irritante aquilo. E ameaçador. Ele ainda ligava para dizer que não parava de pensar em mim, queria me ver, etc. Eu hein! Um homem como ele não desistiria sem chegar às ultimas consequências e foi pensando nisso que menti sobre um novo - e ciumento - namorado. Ele parou de ligar, mas agora...

Quando estava na segunda música, agarrada ao microfone de tão tensa, achei que tinha visto Felipe perto do balcão e passei a cantar olhando naquela direção. É ele! Por pouco não me perdi com a letra e Tom me olhou feio, o aviso para eu me concentrar. Tá, já entendi. Felipe veio vindo para frente e levantou a mão para mostrar que estava ali. Mas foi parar ao lado de João... que "sorte" a minha. Se já não bastasse isso, João fazia questão de mostrar que me conhecia, levantava o copo para brindar como um bobo. Juro que se estivesse inspirada por uma dose de gim teria jogado o microfone na cabeça do sujeito.

Cantei mais quatro sem tomar fôlego, evitando a cara de idiota do João. Era a fúria me cutucando, roendo por dentro, não só por ele ter caído de paraquedas na frente do palco justamente naquele dia, mas porque talvez não houvesse outra chance de me aproximar de Felipe. Se bem o conhecia, João não iria perder a oportunidade de estragar tudo.

Tom foi sábio na hora do intervalo:

- Vai pro banheiro esfriar a cabeça, Nininha. Eu pego uma bebida no bar.

Ainda olhei Felipe uma última vez, estava suada e com sede e queria ir embora com ele, para a cama dele, para qualquer lugar. O show havia acabado praa mim. Fui empurrando quem estava no caminho para chegar logo ao banheiro feminino, onde estaria protegida. Era o que eu pensava. João entrou com tudo, me jogou contra a parede.

- Quem é ele?

- Ele quem? – me fiz de tonta.

- O do topetinho que tava do meu lado. Pensa que eu não vi o jeito que você olhava pra ele?

- Ei, ei, espera aí. Nós não tamos mais juntos, tá lembrado?

João não respondeu, me beijou. O desgraçado beijava bem mesmo alterado daquele jeito, e pegava bem, sabia onde botava a mão, era gostoso... Mais um pouco e eu pedia um tapa na bunda. Não!

- Ele é meu namorado! – escapou assim que João me deixou respirar. Era uma grande mentira, mas nada que fosse causar mal a ninguém. Bom, era o que eu achava. Uma mentirinha inocente para eu me livrar de uma situação chata.

- Então é ele o “namorado ciumento”?

- É, me larga! – tentei correr, as pernas não foram. Nem sei explicar por que não o empurrei ou fiz qualquer movimento.

- Vamos ver se ele vai ficar com ciúmes de você depois disso.


João me deixou sem calcinha. Era um daqueles modelos com uma tira fina na lateral, que ele não hesitou em arrebentar e jogar no chão. Que merda, lá se vai mais uma... Fomos para um dos cubículos e nos trancamos. Eu fui com ele! O perigo me excitava e eu não pensava em parar. Pode me comer, filho da puta! Estava de saltos como ele gostava, não tão altos, e instigada a ceder. João invadiu o território que conhecia tão bem me xingando de vagabunda, nem liguei. Foi rápido. Algumas estocadas, o olho no olho até gozar, João suando, eu esquecendo de toda a raiva para derreter nas mãos dele. Se ele não fosse tão grudento eu continuaria sendo a namoradinha tarada por tempo indeterminado, só que ele não sabia se controlar. Pior para ele.

- Agora que eu te comi pode ir lá encontrar o namoradinho. Vai!

Fiquei com a bunda grudada na tampa fria da privada por algum tempo, até os resmungos de João se confundirem com o barulho que vinha de fora e tudo virar uma confusão só. Eu ainda queria impressionar Felipe na segunda parte do show. Já pensou se ele me deixa cantar no filme? E iria voltar com tudo se a dona do bar não tivesse me visto toda amarrotada juntando a calcinha do chão.

- Eu vi seu amante saindo do banheiro, moça.

- Não, não é nada disso... - gaguejei.

- Chega, eu não quero saber! Pega tuas coisas e dá o fora!!!

A mulher nem quis que eu fizesse a segunda parte do show. Tentei achar Felipe, procurei João também. Só vi rostos estranhos, mas não pude ficar muito mais, pois o segurança exigiu que eu saísse imediatamente do bar. São ordens, dona Nina, me desculpa.

Esperei por Tom na rua até o fim do show. Ele fez os vocais no meu lugar.

- Perdi o emprego, Tom! O que é que eu vou fazer agora? Posso ficar com você hoje? Eu não queria ir pra casa...

- Isso é uma cantada, Nininha?

- Não brinca. Você é meu amigo. Eu só não quero ter que contar pra Karen agora.

- Beleza. Te dou uma chance.

- Os meninos vão estar lá?

- Vão, mas você dorme comigo. Você não vai se aproveitar de mim?

- Palhaço!

- Ranufo a seu dispor...

- O Ranufo me emprestaria uma cueca? Minha calcinha ficou pra trás.

Dormimos de conchinha na cama de solteiro, no quarto com o resto da banda, quando o dia começava a clarear. Às vezes o pau dele fazia pressão por trás, mas eu jurava que era minha imaginação agindo livremente. Custei a me ajeitar. Não tinha mais o emprego pelo qual havia lutado tanto e o filme ainda era uma incógnita. O que restava? O pau de Tom me incomodando. O pau de Tom que mesmo dentro do calção apontava para mim e parecia querer furar os panos todos para me alcançar e romper barreiras. É sem querer, é sem querer, eu repetia em pensamento como um mantra.

Adormeci com o pau entre as coxas e nem Tom saberia no dia seguinte que eu o havia massageado até quase gozar. Ou saberia?


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sessão ops

corra, alline, corra

Estou atrasada. Pelo menos quinze minutos, e não é culpa minha, é do motorista do ônibus, viu? Meu ponto é o próximo. Já estou com o cartão de entrada na mão esquerda. Levanto, peço licença pro moço do lado. Ele também levanta, pelo jeito vai saltar no mesmo lugar. Assim que a porta abre, dou um pulo e passo na frente dele. Ele vem atrás! Ando depressa, o máximo que minhas pernas conseguem. E lá vem ele seguindo de perto meus passos. Atravesso a rua, ele atravessa também. Entro no prédio, ele também. Ei, qual é? Cumprimento rapidamente a recepcionista e passo pela catraca. Ele fica no balcão. Ufa! Entro no elevador, que por milagre está parado no térreo. Ele vem vindo! Aperto logo o andar e o botão que fecha o elevador, pensando nas horas que estou devendo. Agora são 3h16! Chego, lavos as mãos, tiro as lentes e me preparo para começar a labuta. Olho para o lado e quem vejo? O moço do ônibus sentado na frente da gerente do financeiro. Ai, não! Fico quietinha no meu canto. De repente ele é só um visitante... Não demora muito um colega aparece:
- Este é o novo webdesigner...
Adivinha minha cara.

domingo, 5 de setembro de 2010

fatos em fotos

Lanchinho light depois do trabalho

Invenção ninja para combater a falta de espaço no varal

A TPM me faz querer cortar cabelo... e eu corto

Lorenzetti Versátil - eu NÃO recomendo

Lavando louça no tanque, ou o que a Lorenzetti Versátil fez comigo

Esmaltólatra assumida e feliz

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

dez

COM UM PÉ NA TELONA

Ouvi Karen falando sobre escolher uma roupa para aquela noite. Vai sair? Me interessei, estava cansada de ficar em casa dedilhando o violão sem conseguir terminar uma música. Posso ir com você?

A princípio Karen resistiu, afinal eu mal conhecia Susi. Susi e Karen eram sócias na loja e amigas desde o colégio, e eu sempre desconfiei que eram amantes também, mas eu não tinha nada a ver com isso. Então Karen contou que Susi estava indo morar com o namorado e para comemorar faria uma reunião para os amigos mais íntimos. Entendo. Se não sou íntima não devo aparecer, certo? Karen frisou que eu seria a única estranha e poderia me entediar com os papos. Mas eu queria tanto...

Ela tinha razão. Não era nada parecido com uma festa, era um encontro de poucas pessoas – contei 12 ao todo – que comiam, fumavam, bebiam e falavam ao mesmo tempo e quase não prestavam atenção em mim, a prima de Karen no pufe do canto com uma cerveja na mão.

Na tentativa de me enturmar, Karen me apresentou a um cenógrafo que tocava baixo e tinha tudo para ser a salvação da minha noite, mas infelizmente não foi. Depois de cinco cervejas a conversa não evoluiu e desisti. Vitinho não parecia ser um cara ruim, só não tinha nada a ver comigo e ainda por cima falava mal do U2. Para não me irritar, pedi licença e menti que tinha que fazer uma ligação urgente e apaguei Vitinho da mente.

Mas o melhor aconteceu antes do jantar. Eu estava apertada e deixei Karen falando sozinha para procurar o banheiro. Desculpa! O social estava ocupado e alguém me disse que havia outro no quarto do casal. Não perguntei se podia, não daria tempo.
Assim eu vou me mijar, meu Deus. Depois eu aviso que dei descarga direitinho.

Desabotoei a calça ainda no escuro e sentei com tudo sem ver que a tampa estava baixada, e senti o contato gelado com o plástico.
Porra! Tampa erguida, repeti o gesto e relaxei enquanto botava para fora o excesso de cerveja. Ai, delícia! Quando me estiquei toda para alcançar o papel higiênico, a luz se acendeu. Mas como se não fui eu? O cara me olhava atônito da porta. Eu ali de calcinha arriada. Susto, dos dois. Instintivamente fechei as pernas de olhos esbugalhados, sem ação. Caralho! OK, ele não tinha culpa de eu ter entrado primeiro e não trancado a porta. Nem por isso a situação era menos constrangedora.

- Que é isso?

- A porta tava aberta...

- Aberta, não. Eu só esqueci de trancar. Dá pra você se virar, por favor?

O ridículo só não foi maior graças à educação do moço, que ficou de costas sem dar um pio. Peguei um bom pedaço de papel higiênico sem descuidar dele, me enxuguei o mais rápido possível e coloquei a calcinha num pulo. Eu não sofria desses pudores de ficar pelada na frente de um homem, mas fazer xixi era muita intimidade para dividir com alguém que eu nunca tinha visto antes.

- Pode deixar que eu dou descarga depois.

Nem respondi. Fui procurar Karen para aliviar a raiva.

- O que é que houve?

- Nada. Acho que bebi demais.

Vi o “nada” saindo de banheiro e acenando para mim. Tomara que tenha lavado a mão! Karen não perdeu a chance:

- Você conheceu o Felipe?

- Quem?!

- Felipe, aquele ali que acabou de abanar pra você.

- Não, deve ter sido pra você. Você não conhece ele?

- É irmão do namorado da Susi. Inteligente, bom papo, sossegado, tudo de bom. Dizem que gosta de uma sacanagem... Se me convidasse eu topava na hora!

- Que sacanagem? - me interessei.

- Ménage, grupal... e olhando você nem imagina.

Então esse era o Felipe? Não acreditei quando ela chamou o cara.

- Karen, eu vou embora!

Ele vinha vindo...

- Fica quieta. Ele dirige filmes e está com um projeto novo. De repente pode te arrumar trabalho.

Ele já estava ali.

- Felipe, esta é minha prima, Nina. Ela é de Floripa. A coitada está batalhando, mas não consegue nada...

Coitada, eu? Que é isso? Desse jeito parecia que eu tinha implorado para ela me apresentar ao cara. E até uns minutos atrás, no banheiro, eu nem tinha ideia de quem ele era!

- Oi... – esperei que ele desse uma boa desculpa e fosse embora.

- Eu dei descarga – avisou.

Karen não entendeu:

- O quê?

- É uma brincadeira nossa. Então a Nina é atriz?

- Não exatamente, mas ela canta! Vou deixar vocês sozinhos para conversarem melhor.

Agradeci a ela baixinho, ainda odiando ter que começar uma conversa com o tal Felipe. Mas se fosse pensar com clareza não deveria ser hostil, pois ele poderia ser útil. Eu precisava de trabalho e de dinheiro, e ele tinha como me ajudar. Ainda bem que não era de se jogar fora.

- A Karen não tem jeito.

- Vocês são primas mesmo?

- Claro. Por quê?

- Achei que você era namorada dela.

- ...

Ele não falou mais no que aconteceu no banheiro, senti que não era um abusado qualquer a fim de tirar partido do incidente. E é claro que quis me levar no fim da noite. Enquanto eu fazia o papel de boa ouvinte, ele parou o carro no lugar que indiquei, tirou o cinto e se virou para mim.
Agora ele vai tentar alguma coisa? Também me virei, olhando-o nos olhos. Porra, tô até suando.

- Queria que você viesse me ver no escritório. Posso arrumar um papel pra você... Se você tiver interesse...

- Quero. Quero, sim!

Procurei um abraço de agradecimento para ver a reação dele. E dei um jeito, pela proximidade, de o abraço virar um beijo sem precisar forçar nada. Sabe quando não há outra saída senão o encontro dos lábios? E eu quase abri o zíper da calça dele, foi automático. Era a curiosidade, a vontade. E ele reagiu me puxando inteira para ele, de maneira que não pude escapar. Estava pressionada contra seu corpo, presa nos braços do estranho que parecia prometer loucuras.
Grito ou tento correr?

Saí do carro sem encostar um dedo no pau dele, porque se ficasse seria capaz de amolecer, me livrar da calcinha, sentar nas coxas dele e deixar rolar. Aí talvez ele nem me chamasse mais para o filme.
Boa menina! Mas numa próxima eu já não poderia prometer nada.



quarta-feira, 1 de setembro de 2010

¡Ay, que rico!

Cofre por cofre, prefiro os cheios de tesouros, como o do Tio Patinhas. Aqueles peludos, que espiam pela fresta da cueca, não faço questão de ver, não. Que fiquem soterrados pela roupa, pelamorde. Pudor, nesse caso, faz toda a diferença, meu bem.