sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

trinta e quatro

ALGUM TEMPO DEPOIS

O vestido de cetim pérola foi por insistência de Bernardo. Tinha alças finas que ficavam escorregando do ombro, mas isso não era intencional da minha parte. Quem se importava, afinal? Não as pessoas que circulavam em volta do piano. Algumas paravam para me ouvir, lançavam olhares, os quais eu devolvia na mesma medida. Tudo não passava de uma brincadeira de seduzir da pianista que eu queria representar.

Em algum lugar, misturado aos convidados, devia estar Bernardo.

Sem vê-lo, sabia que observava meus dedos sobre o piano, os movimentos sutis que não necessitavam de comando prévio. Atentava aos poucos fios de cabelo que se desprendiam do coque e pousavam nos ombros. Aos olhos que ora percorriam as teclas, ora procuravam por ele entre tantos olhares e promessas de uma noite inesquecível.

Em algum lugar ele me esperava, para depois de tudo tomar de volta o vestido... e meu corpo.

Toquei até o fim do jantar, mas gostaria de ter ficado mais, imaginando que Bernardo me desejava de longe e não podia me possuir sobre o piano. Se escondia de mim? Os que estavam mais próximos aplaudiram quando agradeci e encerrei a apresentação. Bernardo surgiu ao fundo com dois homens. Dessa vez eu não ia atrás. Acenei apenas, ele veio.

- Então você gostou do vestido.
- E você?
Bernardo passou o dedo e fez a alça descer pelo ombro, deixando um pouco mais de pele à mostra. A alça caída puxou junto o tecido mole e quase descobriu um dos seios.
- Eu gostei muito.

Ele colocou a alça de volta e me entregou um copo de uísque. Bebi muito pouco, comi menos ainda. E esperei o salão ir se esvaziando, até sobrarem apenas ele e o piano sob a penumbra. Nos aproximamos lentamente, pois sabíamos pelo que tínhamos aguardado a noite toda. Permaneci lânguida ao piano. Bernardo tocou minha mão.
- Vamos?
- Agora não.

Comecei a tocar a primeira música que me veio à cabeça, um blues que eu tinha guardado para ele. Mas Bernardo não quis ouvi-lo naquela hora, preferiu descer mais uma vez a alça do vestido. Ela deslizou. Tentei continuar tocando, ele segurou um pouco a outra antes de puxá-la para baixo.

- Continua tocando.

Ofegante, me esforcei. Meu peito desnudo se movimentava sem parar, assim como as mãos de Bernardo. Eu não podia vê-lo, eu não aguentava mais, estava sucumbindo.

- Para com essa tortura.

Levantei, o vestido percorreu minha pele em carícias rápidas, procurando o chão.Senti que mãos enrolavam a calcinha até a altura dos quadris, tentei me segurar, ele não demorou a separar minhas pernas com suas próprias pernas. Os dedos foram firmes e conscientes do que estavam provocando. Me empurrou contra o piano. Um meio sorriso, uma advertência caso eu quisesse parar por ali. Estremeci. Ele entendeu, me penetrou. Levantei um pouco a perna. Não paramos de martelar as teclas até ele se esvaziar em mim, até eu sentir que meu gozo também escorria de mim e se misturava ao dele, e o líquido formado de nós dois me molhava as coxas.

Só assim consegui terminar o blues.





quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OUT OF THE LITTLE HOUSE

Dependendo de muletas por causa do causo da panturrilha estragada, ela não desmarca a cirurgia nos seios, sabendo que não vai poder usar os braços para se apoiar. Quem mais poderia ser? Allininha, aquela que desliza pelo apartamento na cadeira do computador, toma banho sentada e por enquanto dança só com as mãos.

Loca, loca, loca...

Gente, brigadaça pela força. Ainda dói aqui, ali e acolá também, às vezes ao mesmo tempo. Mas tô voltando. Será que amanhã tem Nina? Acho que sim. ;)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

POR ENQUANTO É SÓ, PESSOAL

As férias começaram sem mim, mas vou correr atrás delas pra ver se pego alguma coisa ainda. É verdade que eu não esperava, não queria, não sonhava com esse negócio de romper o músculo da panturrilha e ficar parada antes da hora. Que é que é isso, minha gente? Prêmio pela ansiedade de chegar logo? Uns amigos disseram que se foi, tinha que ter acontecido. Tá bom, não vou bancar a quarentona rebelde. Se momentaneamente meu destino é cultuar a bunda achatada pelo sofá, é isso que vou fazer. E nada de meter os pés pelas mãos ou enfiar o pé na jaca. Muitos menos colocar o pé na estrada.

Vai cuidar desse pé, mulher!

Mas não é só isso. Amanhã tenho cirurgia marcada às 8 horas, não posso faltar. Nada a ver com panturrilha, depois eu conto. Essa de pectus fartus vai dar o que falar.

Nina e o que mais tiver pra dizer ficam em stand by até eu voltar, OK?

Fiquem bem aí do outro lado. Eu ficarei por aqui, quietinha. Quando tiver menos dor e mais inspiração voltarei.

Beijos

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

trinta e três

ENFIM

21:04
Caio estava fora com a banda. Havia noites em que pensava nele e escrevia palavras desconexas ao redor do umbigo antes de me masturbar e adormecer. Trazê-lo de volta dessa forma me confortava, mas ele demorava, não ligava, eu quase não sabia mais dele, de quem afinal nunca estive grávida.

Nessa hora em que eu não precisava de mais barulho Bernardo ligou, tinha duas horas livres antes de viajar. Me desculpa, Caio!

21:12
Sem tempo para um bom banho, apelei para o chuveirinho. Será que Bernardo é pontual? Oficialmente é nosso primeiro encontro... Se eu quisesse investir, poderia ser um começo. Me lavei como foi posível, uma perna apoiada na parede respingando todo o azulejo fora do box. Do banheiro de Karen. Se ela me pega... Saí atrás de uma calcinha, já que eu não tinha mais nenhuma limpa. Aquelas de algodão com elástico frouxo não contavam. De calcinha velha é que eu não vou aparecer na frente dele. Vasculhei a gaveta toda antes de pegar um fio-dental vermelho – emprestado – e completei com duas gotas de perfume no umbigo.

21:25
Não ia dar tempo de aparar os pelos e eu nem gostava de me depilar. Me olhei no espelho, aprovei. Seja o que Deus quiser! Perdi a conta de quantas vezes espiei pelo olho mágico e abri uma fresta da porta para ver se Bernardo aparecia. E o medo que a vizinha soubesse? A mulher tinha todos os motivos para não gostar de mim. Vaca!

21:42
O fio-dental era uma peça linda e de extremo bom gosto, devia ter custado caro, mas devia ter sido feito para ser vestido imediatamente antes do ato e retirado o mais rápido possível. Coisa mais incômoda! Anda logo, Bernardo!

21:50
Eu ainda devia torcer para Karen não chegar com Fred a tiracolo. Aí sim seria muita falta de sorte. Ela não havia deixado bilhete para dizer se dormiria fora, então era bom contar com uma eventual surpresa. Tudo bem, eu adorava viver perigosamente, e mais que uma bronca não ia ganhar.

22:07
Ouvi barulho no corredor. Dona Zélia e o marido conversando com a vizinha. Essa não!

22:09
Se ele demorar mais cinco minutos eu vou pra cama!!!

22:14
Se ele demorar um minuto eu vou... Não vou deixar entrar. Eu tô dizendo que não vou de verdade.

22:21
O fio-dental voltou para a gaveta, de onde nunca deveria ter saído. Porcaria de pano enfiado na bunda! Vesti uma camiseta de Chico. Pensei que se Bernardo aparecesse agora poderia bater na porta até perder o voo.

22:25
Mas se tivesse uma boa desculpa...

22:33
Ele ligou. Uma reunião de última hora, já estava vindo. Cacete! Olha a hora!!!

23:16
Três batidas de leve na porta para chamar menos atenção. Bobo ele não era, até porque a vizinha estava muito perto, um perigo. Abri a porta de camiseta, sem as más intenções de minutos atrás. Nada por baixo, nada proposital. Parti para o beijo, não podíamos perder tempo. Olha a hora!

23:17 – 23:34 (provável)
Meu triângulo maldesenhado de pelos foi descoberto e acariciado, as pernas rapidamente escancaradas, a camiseta de Chico jogada no chão. Olha a hora! O quarto de Karen talvez não fosse uma boa ideia, não mais. Ia ser ali mesmo na sala, sem clima, a luz acesa, as revistas largadas no sofá. Olha a hora... O resto foi urgência, a rigidez dele me perfurando, batendo e ecoando até eu não poder suportar. Mas eu podia, por aquele momento eu suportaria que ele viesse sem gentileza para me tirar as convicções que Caio havia plantado. Ergui as pernas, apertei-o, porque ainda o queria, não havia me livrado do que ele representava desde o início. Bernardo respondeu se entranhando em mim para nunca mais sair.

O interfone logo começou a tocar, eu nem sonhava que eram os vizinhos reclamando, mas não podíamos interromper o que estava por vir. O interfone tocou, e tocou.


23:41
Karen cruzou com Bernardo lá embaixo, ela sorriu de leve, ele fez um gesto com a cabeça. Karen nem desconfiava de onde ele tinha acabado de sair – de dentro de mim!


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

NÓS VAMOS INVADIR SUA PRAIA

Uma conhecida estava em Jurerê Internacional dividindo sem problemas o espaço na areia com turistas e locais. Quando o sol começava a murchar, ela percebeu uma família de turistas levantando o acampamento e deixando para trás os restos de um dia de férias na praia - latinhas, saquinhos vazios, guardanapos, etc. A moça não conseguiu ficar alheia. Correu atrás daquele que parecia ser o chefe do bando e avisou cheia de dedos:
- Vocês esqueceram de recolher o lixo...
O homem não pensou duas vezes:
- Lá na minha cidade nós temos os garis pra fazer isso.
Aí ela perdeu de vez a pose:
- Aqui nós temos educação.


Se o homem voltou para juntar a sujeira eu não sei, mas sei que não teria custado nada levar uma sacola e depois do momento piquenique à beira da praia juntar tudo e levar embora.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

trinta e dois

A FALTA QUE ELE ME FAZ


Quando escreveu quilômetros de poesia em meu corpo entendi que de alguma forma Caio me amava. Depois foram as mãos que partiram em busca das fendas mais obscuras, mais distantes, foi a boca que me disse obscenidades misturadas com palavras de amor e me convenceu de que devia deixá-lo tomar conta do meu prazer sem restrições. Ele veio, eu fui, nos encontramos no caminho. Rolamos um sobre o outro, lutamos sem querer lutar, cantamos, rimos, nos enrolamos e nos fundimos, tanto que os dias se passaram e achei que Caio havia me preenchido de uma maneira diferente da que eu esperava. Não, não... não pode ser. Foi num impulso que corri para verificar a cartela de pílulas. Tinha esquecido de tomar algumas no mês. Pode ser verdade! Quando me senti enjoada ao olhar batatinhas na travessa sem conseguir comer nenhuma, considerei mais seriamente a hipótese de Caio ter me feito uma surpresa antes de viajar.

Nessa hora só não me passou pela cabeça que tinha dezenove anos e queria tudo da vida, menos me prender.

Se existia a possibilidade de estar grávida, devia parar com aquela vida desregrada. Era lógico, eu precisava largar o cigarro em primeiro lugar. Joguei o último maço na privada e logo me arrependi. Tentei não pensar, mas ficava faltando algo, eu sentia que o tempo se arrastava. Olhei para as paredes, para o cinzeiro. Um banho seria bom para acalmar a tensão. Mas eu já tomei um! É muita precipitação ligar pro Caio? Roí as unhas até quase me machucar para não pegar o telefone e dizer o que não devia. Tirei a camiseta e deslizei a mão sobre a barriga. E se for um bebê aqui? Até pensei que poderia não ser nada, mas desisti e andei nua pela casa.

Eu teria acendido um cigarro, se tivesse um à mão. Peguei um lenço de Karen, amarrei no pescoço, calcei as sandálias de tiras e me espalhei na cama dela. Fiz pose como se estivesse com um cigarro na mão. Quem me dera! Dieter teria vontade de me desenhar? De quatro, fingi que era penetrada movimentando os quadris no ritmo de um orgasmo. João, sim, gostaria de ver essa encenação e de participar dela. E Mateus amaria estar por trás das cortinas olhando tudo? Bernardo me levaria dali se eu demonstrasse desejo? Começava a ficar entediada de verdade, queria fumar.

Fui mexer nas gavetas de Karen para ver se me distraia. Sabia que ela guardava um vibrador dentro da meia soquete azul-bebê na terceira gaveta e não demorei a chegar nele. Era de vidro transparente, pontiagudo como uma lança, uma peça que me lembrava os bibelôs de cristal que tia Rute guardava na estante.

Sentei na beira da cama, olhando-o por algum tempo bem de perto. Eu tinha um pau de vidro na mão. Pau anônimo, de ninguém, sem sangue correndo nem veia. Girei a peça entre os dedos. Era frio, mas tão bonito e brilhante que coloquei na boca. Lambi. Você quer aqui ou lá? Não vai testar?

Senti urgência de aproximar a ponta de meu sexo. Encostei nos pelos até sentir uma descarga em toda a região, que sensação inesquecível o impacto do vidro gelado no calor da pele. Empurrei mais um pouco, e mais, até a metade estar dentro de mim. Era um estremecimento que se espalhava pela virilha e me fazia voraz e impaciente. Eu estava largada na cama com o pau de vidro me penetrando e um dia poderia contar isso aos meus netos. Não era o máximo? Fechei um pouco as pernas, o suficiente para ele continuar deslizando. Ele sumiu entre os pelos, engolido, abduzido, seduzido por minhas entranhas. Só escorregou e saiu um pouco de mim quando gozei. Mas nunca, nunca mais me separei totalmente dele.