quarta-feira, 31 de março de 2010

Mais uma daquelas

Bastou a loira da toalha ao lado dar uma passada de mão nas sedutoras nádegas do seu namorado para o dia na praia acabar mal. Kika não hesitou em rodar a baiana na areia mesmo, sem se importar com os espectadores. Se Caco tivesse mais consideração não aceitaria lambuzar as costas da outra de protetor solar nem deixaria que a estranha se chegasse com tamanha intimidade. Não na sua frente, não no seu dia de folga, em que tinha grandes planos para os dois.

Era humilhação demais, e ele só sabia dizer “desculpa, gata, eu não fiz por querer”, com cara de cachorro pidão. Kika gostaria de quebrar o guarda-sol em sua cabeça e fazer a mulher engolir o tubo de protetor solar. Mas não. Correu para a casa, para a geladeira, para a torta de merengue que tinha feito na noite anterior. Era a preferida dele, e não sentiu pena de comer a metade e jogar o resto da comemoração de cinco anos de namoro no lixo. Depois lambeu os dedos e chorou.

Poderia ter sido mais esperta e contornado a situação de maneira adulta como sua irmã, psicóloga de plantão, vivia aconselhando. Estava magoada, quase arrependida, só que era orgulhosa demais para dar o braço a torcer. Será? O pretinho salvador que ele ajudara a pagar em três vezes sem juros continuava esperando no armário. Será? Olhou-o e imaginou-se feliz novamente, escandalosamente mulher. Impossível não ceder. E Kika cedeu em todos os sentidos - bebeu além do que podia agüentar, atraiu olhares, se exibiu e saiu do bar no fim da noite com o rapaz que não tinha nome.

O porteiro, quase dormindo, não lhe avisou nada. No corredor mal-iluminado faltou pouco para tropeçar em alguma coisa perto da entrada. Provavelmente era o cachorro de Marluce, um vira-lata gordo e manhoso, já meio velho, que odiava dormir sozinho em casa.

Entrou e entregou o molho de chaves nas mãos do convidado para não ter mais que pensar. Estava no limite entre os risinhos afetados e a completa embriaguez. Do lado de fora seu namorado, ou ex-namorado, dormia encolhido no chão frio, abraçado a um buquê de rosas vermelhas e murchas. Belíssimas rosas vermelhas, e murchas.

3 comentários:

Ana B. disse...

e nem sempre o álcool é o gelol da alma

uehehehe

Luna Sanchez disse...

É o típico "caminho da roça" para o orgulho feminino ferido, né?

Devo ser de outro planeta, Alline, porque nunca agi assim...acho, realmente, que sou anormal. :p

Adoro teus posts, sempre. E os contos, então? Deliciosos!

Manda mais, manda maaaaaais! =)

Beijos, dois.

ℓυηα

Alline disse...

Nó:
Essa eu quero pra mim. Nem sempre o álcool é o gelol da alma. Perfeito. Nem o gelol, nem a aspirina, nem o prozac.
O álcool é pra celebração, não pra curar ferida.
Ai, como eu tô séria... nem bebi. rs

Luna:
É a descida às trevas, a ida ao fundo do poço. Fiquei com pena do mocinho. Dela também, vai... malvadona pela imaturidade.
Já fiz muita caca em termos amorosos, mas nadica como isso.

Tu és uma querida.
Mandarei, sim. =DDDD
Beijô!!!