quinta-feira, 22 de abril de 2010

se é assim

Eu era uma boa esposa pro Jacinto. Lavava, passava, cozinhava, e esperava. Não tinha muito com quem falar, e só saía de casa pra ir na missa e levar a roupa passada pra dona Cininha. Uma vez ou outra ajudava seu Antônio no balcão da venda, mas não era por necessidade, era porque eu gostava mesmo.

O Jacinto, meu marido, viajava pra botar dinheiro dentro de casa todo mês. Contava que nas andanças pela cidade vendia peruca, dentadura e batom pras madames, e era bom que só ele pra levar elas na conversa. Se ele dizia, eu acreditava.

Quando ele voltava, eu corria pra venda e trazia a cachacinha especial que o seu Antônio vendia fiado. Dependendo do dia, conseguia um pote de mel ou uma linguiça defumada. O seu Antônio fazia qualquer coisa pra agradar, nunca deixava faltar nada em casa enquanto o Jacinto estava fora.

Janta pronta, eu esperava na porta o Jacinto chegar cansado da estrada. Ele vinha contente, e eu pedia pra ele falar das histórias do povo da cidade enquanto enchia o bucho. Ele dizia que estava com saudades da minha rosquinha de polvilho e das cuecas lavadas, e daí eu achava que lá na capital ele não tinha quem cuidasse direito dele.

Ainda lambendo os beiços, ele ia pra janela palitar os dentes e olhar as estrelas. E mais tarde se jogava na cama sem passar uma água no corpo, e dormia o sono dos justos. Era ele roncando e eu rezando pra Nossa Senhora Aparecida ajudar ele a ter sempre muita saúde pra viajar e vender mais coisa bonita pras madames.

Minha vida com o Jacinto era assim, até o dia em que ele voltou quieto, e nem quis saber da minha comidinha caprichada. Bem que eu achei esquisito ele voltar antes do tempo, mas não falei nada. Dei a janta pro porco e arrastei a mala pra dentro.

Na hora de deitar é que o Jacinto abriu a boca. Eu dobrava as roupas e ele confessava que tinha mulher e cinco filhos na cidade. Pela primeira vez depois de dezoito anos de casada eu via o pobre chorar feito bezerro desmamado, e chorei com ele, porque vi que não tinha mais jeito.

Mandei o Jacinto pegar a mala e voltar pra cidade pra buscar a mulher e as crianças. Ele não entendeu nada, mas foi. E eu, que não sou besta nem nada, arrumei minha trouxa e fui pra casa do seu Antônio da venda, que tomava banho todo dia e fazia umas coisas doidas quando deitava comigo. Esse sim era o homem que eu pedi a Deus.

8 comentários:

Eraldo Paulino disse...

Uhuuuuuuuuuuuuu!

Adooooro mulheres decididas!

Ana B. disse...

mto bommmm
só nao digo q ela é esperta pq ela ficou 18 anos lavando as cuecas do Jacinto
kkkk

=***

Alline disse...

Eraldo:
Elas sabem o que querem. E vão pegar. Já pensou? rs

Nó:
Mas além de lavar as cuecas do Jacinto ela ajudava o seu Antônio na venda...
Beeeeeeijo!

Michele Pupo disse...

kkkkkkkk

Muito bom Alline! Tenho pena dos homens que pensam que nos enganam! rs

Beijos!

Alline disse...

Michele:
Enquanto o Jacinto fazia filho na cidade, a mulher ajudava o seu Antônio. E se divertia tambérm. ;)
E penso que não foi nem pra dar o troco, foi pelas circunstâncias da vida.

Sim, eles pensam que nos enganam. rs

Beeeeeijo

Anônimo disse...

Alline, muito bem bolado esse conto. Eu já estava ficando com dó da esposa do Jacinto, enfim houve um final feliz. Seu Antonio ganhou um belo prêmio.
Beijos inteligentes.
Manoel.

Alline disse...

Manoel:
Final merecido pra ela, com direito à alegria pro seu Antônio da venda. Eita! hehehe
Beeeeeijo

Luna Sanchez disse...

Quando ela contou que gostava de ajudar e que o Seu Antônio fazia tuuuuudo pra ajudar, eu saquei que tinha coisinha...

Eu não presto, mesmo...ahahaha

Adorei, Alline! Adorei, adorei, adorei! =)

ℓυηα