quinta-feira, 25 de novembro de 2010

vinte e dois

GRINGO

Aprendi a tocar gaita com Caio e quase me convenci de que nossa parceria podia virar algo bem mais sério do que tínhamos naquele momento. Ele mantinha intacto aquele ar musical que me seduziu no começo, mas foi justo a música que o levou de mim. Se ele queria mais espaço na banda, seria eu a renunciar? Desculpa, mas isso não. Não vai dar.

Samuel tentou amenizar dizendo que era uma nova fase para a banda e Eric prometeu que eu não iria perder espaço e poderia compor mais, pena que não consegui levar a sério. Então Caio interferiu para anunciar que deixaria a banda sem pensar duas vezes, era só eu ficar com ele. Falando desse jeito ele só confirmou o que eu já sabia: devia ir embora e me conformar de voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo.


E foi com a proposta absurda de Karen que resolvi mudar o rumo das coisas. Por que não? É certo que seu Érico jamais poderia desconfiar, pois como pai seria incapaz de aceitar a filha caçula posando sem roupa, mesmo que fosse para alunos de belas artes. Então eu não podia dizer a verdade. Definitivamente havia coisas sobre mim que meu pai não poderia saber.


O maior desafio foi abrir o robe no primeiro dia. Achei que ia ser simples, torci para que fosse. Um grupo me esperava no salão, e não havia como fugir alegando um ataque de pudor repentino. Eu devia, sim, subir no pequeno palco, me posicionar e permanecer imóvel dali em diante. “Seja natural”, disse uma das professoras. Falar é fácil, minha senhora. Prometi fazer o possível. Mas o possível seria suficiente? Bastaria para o professor? Para os alunos?


Abri o robe, os dedos inseguros ao desfazer o laço, e esperei. Olhei para cada um em busca de um sorriso malicioso ou atitudes suspeitas dos alunos diante de minha nudez. Eles foram se colocando em frente ao cavalete e começaram a trabalhar com tamanha concentração que acreditei que o bico dos meus seios fazia parte da decoração. Me tornei um objeto de cena sobre a plataforma e logo entendi o principal – eu estava proibida de me mexer!

Enquanto passeava entre alunos, o professor falava baixo e às vezes apontava para mim, aumentando a tensão. Fora isso, só o barulho do lápis riscando o papel, as folhas sendo viradas, os carros passando lá fora. Fiquei com sede, entediada por estar bancando a estátua. Um cigarro, por favor... Caneta e papel, meu violão... De repente eu queria compor, tocar, ir embora dali.

As cãibras vieram, intensas, nos braços, nas coxas. Depois pequenos espasmos incontroláveis. Por mais que tentasse, não conseguia conter a onda de tremores. Tudo isso valeria a pena? Pensei em procurar Caio e pedir para voltar, quem sabe até João... Por que não dar aulas de piano? Em último caso até o balcão da padaria do seu Érico parecia mais atraente do que aquilo.


O professor encerrou a aula e me cumprimentou com um aceno de cabeça. Já? Todos saíram rapidamente, menos o cara da cicatriz na testa. Só falta vir me pedir outra pose! Torci para ele ir embora também. Ele veio e me entregou o robe, sorriu e se foi, carregando o capacete preto e uma bolsa de couro atravessada no peito. Ei, também não precisa sair correndo... Ele era muito, muito interessante, interessante até acima da média, boca pequena, nariz largo, tinha uma tatuagem que descia pelo pescoço e me fazia imaginar até onde chegaria. Nem me disse o nome, mas foi educado... Me convenci de que uma cama só para mim seria o ideal e não pensei mais nele.


Na sessão seguinte estava mais disposta – até alegre – à base de relaxante muscular. Ele, o da cicatriz na testa, estava de pé à minha direita e eu não podia fazer nada. Fiquei deitada sobre a chaise vermelha de acordo com as instruções, as pernas meio dobradas, os braços caídos para os lados, quase encostados no chão, sem poder sussurrar Me encontra fora daqui pra gente se conhecer. Não ri, mas tive vontade.


Evitei me aproximar, porque assim a professora recomendou. Nada de amizade com os alunos. Seja profissional, seja profissional. OK. Tentei, mas depois de uma semana ele me ofereceu um cigarro enquanto eu me vestia. Tinha um sotaque esquisito, escolhia cada palavra com hesitação. Suíço, alemão, holandês? Gringo! Paramos na cantina para tomar café feito dois velhos amigos. Acendi o cigarro.
Dieter não disse de onde vinha, mas me deixou à vontade para falar de mim. Falei, peguei mais um cigarro, ele ouvia com atenção, não sei se me entendia ou estava fingindo para ser agradável. O pastel de carne foi dividido em dois, outro cigarro, joguei fumaça na cara dele de propósito para provocá-lo.

Fui para o apartamento de Dieter, sim. Fui porque quis. Lá ele me entregou um baseado, ligou o rádio e veio tirar minha calça. Contando assim dava a impressão de estarmos indo rápido demais, era isso mesmo. Não vi nada de anormal em ceder ao impulso. Ele me deitou como se eu fosse posar, isso me fez rir. Fumamos olhando o teto e eu caí no sono sem que ele tivesse tomado qualquer iniciativa. Eu devia estar em casa com Karen... Ela tinha uma língua pontiaguda que me deixava molhada muito depressa. Minha prima. Dormi sem a língua dela, nem a dele. Mais relaxada com o fumo, mas sem a língua... Tão cansada... Queria gozar. Dormi profundamente. Languidamente ao lado de Dieter, sem saber direito quem era Dieter.


Acordei com uma coceirinha boa entre as pernas, e não era Karen vindo me arrancar da cama. Dieter me lambia como um cachorrinho esfomeado. Ele estava sem roupa e pude ver pela primeira vez que tinha o corpo coberto de tatuagens coloridas que eu não conseguia decifrar, mas que me despertaram a curiosidade. Dieter abriu meus lábios, me sentiu com os dedos, eu estava pronta para ele. Sorriu. Sorri de volta e fui descobrir o que todos aqueles desenhos faziam no corpo do homem que se preparava para ocupar espaço em mim.


[Aqui o que veio antes.]

9 comentários:

Eraldo Paulino disse...

Por isso que eu digo que se você quer comer a mina, ofereça cachaça, não maconha. Maconha em geral dá sono nelas rsrs

Bjs de quem quer comer essa mulher!

Luna Sanchez disse...

Quem já provou diz que mulher faz sexo oral melhor do que a maioria dos homens...Será que a Nina confirma isso?

Gostei do gringo, embora prefira homens de boca cheia, oops, digo, grande. Ehehehe

Beijocas, querida!

ℓυηα

Eder disse...

Aline,
Me passa o telefoneda Nina?
HAHA'

Thayná Adami disse...

Heey . adoro seu blog . por isso indiquei ele .
entra lá . Fiz com todo amor do mundo.
http://thaynaadami-very.blogspot.com/2010/11/own.html

Alline disse...

Eraldo:
Mas cachaça também não derruba?

Beijos da mãe da Nina... rsrs

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Luna:
Eu imagino que deva ser assim, porque a mulher conhece sua própria anatomia. Bom, muitas delas, não todas.

Idem.
Mas se a boca é pequena ele pode outros apetrechos que valem a pena, né? =P
uheuheuheu

Beeeeeeeeijo!

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Eder:
Vixe, lembra que ela perdeu o celular quando quase foi atropelada? rsrs

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Thayna:
Brigada pela escolha e por aparecer e ler o que eu escrevo. Vou te visitar amanhã com calma, ok?

Patrícia Gonçalves disse...

Gostei da Nina, vou voltar para acompanhar a saga dela!

bjs

Alline disse...

Tem história nova toda quinta, Patrícia. Que bom que você gostou. A criatura não é fácil. ;)

Beijos

Marco Henrique Strauss disse...

Show. Muito bom o texto, tanto esse como o anterior que ainda não tinha lido. Acho que esse último foi um dos melhores de ler dos últimos que li.
Vê se continua né! hahahahaha
Ah, obrigado pela passada no meu blog "abandonado"; quero ver se consigo achar tempo pra voltar a escrever textos BONS e não só coisa pra encher. hasuasuashasasuas

Beijo.

Alline disse...

Marco:
Gosto desse feedback, sabias?
Tudo já estava escrito, mas estou revendo partes antes de postar. Todas me divertem, mas há passagens preferidas dentro de cada história. Nessa foi a agonia de Nina ao posar.

Nem me fale, eu também ando com tempo escasso...

É só postar que eu vou ver. ;)

Beeeeijo