quinta-feira, 9 de outubro de 2008

era uma vez uma casa

Acho que a casa lá no começo da rua foi vendida. Casa grande, vistosa, imagino que não deva ter sido barato. Lembro bem da primeira dona, uma senhora dos seus setenta e poucos anos, com sorriso aberto e um olhar de doidinha que dava o que pensar. Na última vez que a vi calçava um sapato de cada cor. Muy excêntrica, pois.

Não fiquei sabendo por que deixou a vizinhança, de repente era muita coisa para uma pessoa de idade cuidar - dois andares amplos, quintalzão e garagem que já foi videolocadora. Ela fez bem, sabe? Chega uma hora que a mulher tem que dizer adeus a tantos afazeres domésticos, arrumar as malas e conhecer o mundo.

O casarão branco ficou fechado por alguns meses, até que alguém resolveu aproveitar o espaço para montar uma clínica de estética. O tempo passou, e para surpresa de todos aconteceu uma tragédia na casa. Disseram que a mulher, dona da clínica, estava se separando, mas o marido não aceitava a decisão. Ele foi à clínica e no meio de uma discussão disparou contra a esposa e atirou na própria cabeça. Morreram os dois e não houve alarde na mídia, pois ele era uma figura conhecida.

Desde então achei que a placa de VENDE-SE nunca ia sair dali. A casa ficou abandonada. O mato cresceu, a pintura foi ficando velha e descascada, os panfletos colocados numa fresta do portão se desmancharam. Uma pena de verdade. Era uma casa tão bonita...

No último domingo, quando estava indo votar, percebi que a placa abandonara a frente da casa e a cor das paredes não era a mesma. O laranja, embora um tantinho berrante, deu um UP, é cor da energia, do otimismo. A casa foi vendida? O novo proprietário sabe das histórias? Eu digo que não moraria lá, sou cismada além da conta, cagona que só eu. Nem se o Padre Quevedo fosse antes para liberar o local. Deixa quieto. Deixa a casa pra quem quer.

Nenhum comentário: