quinta-feira, 28 de outubro de 2010

dezoito

TUDO DE NOVO OUTRA VEZ



Estava deitada pensando em uma boa história para quando seu Érico ligasse em busca de notícias sobre o cursinho. E Tom apareceu na porta com uma margarida na mão. Fiquei feliz, simplesmente.
- Posso deitar do seu lado?
- Tá convidado.

- Cê não vai ensaiar mais com a gente, Nininha?

- Ah, eu tava com vergonha, Tom. Essa história toda me deixou mal. Você me perdoa? - entrelacei minha perna na dele.

- Só se cê sair comigo hoje à noite. Lembra que aquele meu camarada convidou a gente?


Ele agia como se não tivéssemos rompido e me desarmou, não estava esperando isso. Acabei cedendo, embora tivesse preferido ficar dedilhando o violão na cama. Tom me beijou a ponta do nariz. Relaxei.


- Então tá, mais tarde vamos dar um alô pro teu amigo, mas nada de ficar até a bebida acabar, OK?


Essas exposições eram todas iguais: bebia-se à vontade, mesmo sendo o vinho mais barato, havia sempre um para discursar sobre os quadros sem conhecimento de arte, as mulheres passavam a maior parte do tempo reparando na roupa umas das outras. Me faltava paciência para tudo isso.


Não havia nada premeditado, mas entrei na galeria de braço dado com Tom e peguei a primeira taça e todas as outras. Aceitei o braço dele ao redor da cintura. Depois veio a mão nos cabelos, a cabeça no ombro, o beijo no nariz, e eu procurei o contato dos lábios de Tom, que cederam facilmente à pressão dos meus. Desse jeito ia voltar com ele para casa. Eu quis, mas parei no mesmo instante. Não, só podia ser alucinação, efeito da bebida. Não era possível que fosse ele. Olhei bem. Era Bernardo do outro lado do salão com sua companhia usual no meio de um grupo. Não podia ser... Outra vez?! Que bela hora pra aparecer... Bernardo não me viu. E agora? Vou até lá e me apresento? Dois beijinhos no rosto ou um só? Finjo que não é comigo e me meto entre os dois?


- Tô vendo um amigo logo ali. Pede um uísque pra mim? Já volto – dei as costas antes que Tom tentasse vir junto. Caminhei devagar, para demonstrar uma calma que não existia, parei para que ele me notasse. Dessa vez você não escapa. Ele cochichou no ouvido da mulher e me seguiu. O que será que ele tá dizendo? Se ela me visse teria mostrado as garras para defender sua presa, mas sorriu como uma mulher civilizada. Então não me viu.
Parei no outro salão, no meio de estranhos.

Bernardo se adiantou:

- Você por aqui...

- Era o que eu ia dizer – tentei demonstrar frieza. – Vocês ainda estão juntos?

Como resistir?

- Viemos com uns amigos. E ele? – apontou Tom, que não desgrudava os olhos de mim. De nós. Segurava o copo de uísque, aquele que pedi.

- Um amigo... – sussurrei. Era verdade, ou mais ou menos verdade, mas e daí? – Preciso voltar.

- Vem comigo? Não aguento mais isso aqui.

- E ela? Se me vê aqui ela vai ter escândalo.

- Eu dou um jeito.

- Hoje não. – beijei-o no rosto, bem no canto dos lábios. Senti gosto de uísque e cigarro, tive vontade de lamber aquela boca, mas me segurei.
Bernardo correspondeu passando a mão nos meus cabelos, um gesto de intimidade que me desconcertou. Tom devia estar pensando mil coisas... A essas alturas eu ainda seria obrigada a inventar uma desculpa?

- Quem é ele, Nininha?

- Bernardo.

- Aquele...?

- Aquele.

- Me ouve, Nininha, o cara não tá a fim de nada sério.

- Me deixa, Tom.

- Nininha...

Eu disfarçava, nem tinha mais condições de ouvir o que Tom dizia. A cada gole um olhar. Era alguma espécie de jogo? Eu sorria e passava a língua pela borda do copo e começava a sentir a boca latejar de tanta vontade de beijá-lo. Bernardo fez um brinde do outro lado. Que idiota! Dessa vez usava camisa branca. Não era lindo, nem um pouco, não era meu tipo de homem, mas o jeito de olhar – sexy! – mudava tudo. Me encarava, grandes olhos azuis afogueados. Os olhares eram breves e intensos e qualquer um podia perceber. Não dá mais pra segurar, que merda, lá vou eu me ferrar de novo.


- Desculpa, Tom, eu tenho que ir.
Fui, sem enxergar mais nada, num impulso, sem pensar nas consequências, tudo nublado e desconexo. Não parei. Tive medo de que ele não tomasse uma atitude como no dia do cinema... Uma olhada antes de descer as escadas. Ele não pode fazer isso comigo agora... Hoje não, por favor... Bernardo me alcançou no corredor, tão alterado quanto eu. Segurou meu rosto entre as mãos e o que havia naquele salão ficou para trás de uma vez. Me perdoa, Tom!

Fomos somente até o carro, onde abri a blusa sem esperar por ele, nada de explicações. Bernardo aproveitou para abocanhar os mamilos, um de cada vez. São teus... A caminhonete era espaçosa e me senti em casa. Afoitos, nos livramos da roupa sem pensar que as vestiríamos de novo e quase nos rasgamos e avançamos com fúria em busca do que fora prometido pelos olhares de antes. Quando os vapores inundaram as janelas abri mais as pernas e me encaixei, sentei no colo dele e logo o percebi em mim. Em pouco tempo não dava mais para ver nada, apenas sentir. A caminhonete chacoalhava, Bernardo não me deixava escapar de seu ritmo, eu nem pensava em Tom, na outra ou na desculpa que daria a meu pai. Só escorregava... para cima, para baixo.... Aconteceu. Na escuridão do estacionamento, com um pouco de contorcionismo e alto teor alcoólico nas veias.


Manhã. Manhã?! Acordei na cama estranha sem saber exatamente como tinha ido parar ali... A última lembrança era de estar no carro batendo o joelho no câmbio, jogando os cabelos na cara dele, sentindo-me tonta e totalmente preenchida... Bernardo! Era na cama dele que eu estava! Ele dormia de barriga para baixo, os braços estendidos, tranquilo e indefeso. Não foi o que eu procurei desde o início? Dormir com o cara da vizinha, aquele que a fazia gemer do outro lado? Mas a dor de cabeça, a ressaca e a maldita culpa não me deixavam aproveitar o momento, apesar de me considerar livre. Ou nem tanto. Tom... Tom... martelava dentro de mim.


Juntei a roupa do chão, me vesti e procurei a porta, achei que ia sufocar se ficasse mais um minuto. Sem querer fiz o mesmo que ele. Saí sem me despedir.



domingo, 24 de outubro de 2010

MUDERNIDADES

O irmão teve a melhor das intenções me presenteando com o combo teclado + mouse sem fio, ou wireless, como queiram. Instalar não foi complicado e me senti quase com um notebook na mão quando pude digitar direto da cama, com o teclado no colo. Alívio pras pernocas tão cansadas de Allinete. Mas esse teclado foge do padrão dos seus parentes próximos. As teclas BACKSPACE, BARRA DE ESPAÇO e ENTER são bem, bem menores. A interrogação, o DEL, o End e as setas direcionais foram trocadas de lugar, não sei por que motivo. Poxa, e eu, que já sou catadora oficial de milho, agora estou perdida no meio das teclas pretas, olhando, olhando e errando e voltando e refazendo. Não disse que não vou tentar. Tô aqui, ó. Mas se não conseguir corro de novo pro mundo dos fios dependurados que nunca me deixou de cabelos em pé como agora.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SEÇÃO DE ACHADOS E PERDIDOS
a quem interessar possa

Não vamos perpetuar aquela ideia fixa de "vão-se os anéis, ficam os dedos", porque ninguém fica feliz de perder um objeto, tenha ele ou não valor. Vamos ajudar o próximo, pleeeease. Portanto, se você reconheceu uma das peças abaixo, não se acanhe, deixe um recado que faremos o possível para enviar o mimo a seu dono.

Não deixe para amanhã, lembre-se: isso poderia estar acontecendo com você.

[fotos minhas]

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

dezessete

IMPREVISTO


Aconteceu. Tom quis me levar para conhecer a família em Minas, e eu não pude concordar, simplesmente porque não me sentia à vontade com a ideia. Aí ele me olhou com tanta decepção que não aguentei e pedi para terminar. Ele ficou, eu saí do apartamento e andei duas quadras até o bar do Dino, onde a banda tocava. Sentei no canto preferido de Tom e chorei. Pedi uma garrafa de vodca e mandei colocar na conta.

Meia garrafa depois, um homem de jeito desleixado, os cabelos caindo nos olhos, sentou na minha frente:
- Você tem um rosto interessante e canta direito, só precisa de uma polida.
- O quê?
Ele explicou que tinha me visto algumas vezes, se apresentou. Valverde. Era dono de uma gravadora pequena e adiantou que gostaria de conversar.
- Se você tiver interesse podemos ver alguma coisa.
- É mesmo?

Duvidei de tudo que me contou, ouvi por ouvir. Valverde me ofereceu outra bebida. Hã? Olhei ao redor, não havia nada demais, então peguei o copo e molhei de leve os lábios. Ele me fez perguntas, tantas que me senti zonza e bebi mais alguns goles, e achei normal ele se aproximar e apertar meus ombros.
- Você cheira bem - cheirou meus cabelos.
- Que é que tem? Você tem cada uma!
- Você não me conhece.
- Nem quero.
- Acho que você já bebeu sua cota por hoje. Eu te levo.

Valverde - se é que esse era mesmo seu nome - me levou, mas para um quarto mal-iluminado que não era o meu.
- O que você quer? Quer me comer? Se aproveitar de mim?
- Queria ouvir você cantar, mas parece que hoje vai ser difícil.
- Yesss, baby. Hoje estamos fechados para manutenção!
- Para quieta, menina.
- Se você quiser, pode vir. Eu não tenho mais ninguém mesmo.
- Eu não quero você bêbada.
- Você me quer! Não me quer? Diz que me quer, vai...

Para minha decepção ele jogou um lençol sobre meu corpo, se jogou no sofá e ficou me olhando. Apaguei com seus olhos sobre mim e quando acordei ele continuava na mesma posição, me observando atentamente.
- Fica comigo hoje?

Passamos o dia juntos. Valverde me levou para conhecer seu escritório. Ele era atencioso sem parecer de fato interessado. Homem estranho. Andei pela sala pequena, cantei, ri das fotos antigas que me mostrou. Tomamos café olhando a cidade do alto.
- É muito bonito aqui. Eu gosto.
- Pode vir sempre que tiver vontade.
- O que você quer de mim? De verdade.
- Que você cante.
- Só?
- ...
- Não entendo você. Você me leva do bar prum quarto de hotel, depois fica a noite inteira me espiando, me traz pro seu trabalho. Eu não entendo.
- Eu sou casado.
- E daí? Não estou falando disso. Você não quer me beijar agora?
- Quero, mas não devo.
- O que te impede?
- Você ia me destruir.
- Eu não disse? Você tem cada uma...
Pausa. Por um longo tempo. Olhamos para a frente, na mesma direção. O silêncio poderia significar muitas coisas, para mim o fim daquele encontro.
- A gente se vê por aí - me virei para ir embora.

Valverde me segurou.
- Eu não posso ficar sem seu cheiro.
Nosso hálito de café preto era o mesmo. Quente, amargo. Senti as pernas pesadas, o estômago ardendo, quase caí. Ele me colocou contra a parede. Me cheirou, me beijou inteira. E eu ali, agarrada às vezes à parede, às vezes ao corpo dele, instável, querendo, não querendo, vibrando com cada toque, meu sexo se abrindo para ele sem que eu fizesse qualquer esforço. Me vi sem roupa, enlaçando a cintura dele pelas pernas, agarrando-o por dentro, cada vez mais para dentro de mim, na confusão de sensações, fluidos, no abandono do corpo. Eu quis cantar uma música para que ele lembrasse de mim para sempre, mas gozei. Apenas.




segunda-feira, 18 de outubro de 2010

de tanta vontade

Ela olhou para ele da outra ponta do balcão. Não quis sorrir imediatamente, para não demonstrar suas reais intenções. Baixou os olhos, depois tornou a observá-lo. Ele não disfarçava, não parava de olhá-la. Ele a queria também! Ela ajeitou o decote, roçou os lábios em expectativa. E se ele a convidasse para sair dali? E se fosse um depravado? E se quisesse fazer coisas doidas com ela, como seria? O coração bateu tão forte que teve medo de que todos pudessem ouvir. Ele estava vindo, sorria para ela. Ela não queria ter medo, queria aproveitar a vida, e deixar seu coração pular para fora do peito por alguma emoção forte provocada pelo estranho. Abriu seu melhor sorriso, quase abriu os braços para recebê-lo. Ele chegou em seu ouvido:


- Você não é a mãe da Marcinha? Faz tempo que eu tô querendo falar com ela.

Ela não era mãe de Marcinha nenhuma, aliás não era mãe de ninguém. Ela achava que não tinha idade para ser mãe, o sujeito estava precisando de óculos, isso sim! Mas, por via das dúvidas, resolveu marcar uma consulta com o dermatologista no dia seguinte e providenciar umas injeções de botox e de ânimo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

dezesseis

É SÓ FECHAR OS OLHOS

Eu já não me considerava mais a amiga de mesa de bar, mas não podia afirmar que havia virado a namorada convencional, do tipo que usa anel de compromisso e liga para dizer que está com saudades. Ai, Tom, o que gente foi fazer? Éramos acima de tudo dois palhaços sem amarras, sem destino e sem juízo, ligados por uma mágica inexplicável.

Mas Tom não se contentou com isso, quis mais do que eu podia dar. Que necessidade maluca essa de usar palavras para mostrar o que eu já sabia. Para quê? Por quê? Baixei os olhos quando disse que me amava e continuei escovando os dentes, depois prendi o cabelo. Deixei a toalha cair para provocá-lo e corri para debaixo dos lençóis. Fiz de conta que nada foi dito, era melhor para nós dois, e Tom parou de falar de amor e veio se aninhar em meus cabelos e procurar meu beijo, meu corpo, o que eu tinha para lhe oferecer.

Karen me chamava de imatura e aproveitadora.
- Como é que você transa com o cara que é teu amigo? Até ontem ele ficava aturando tua choradeira por causa de outros caras.

- Qual é o problema? Só porque eu ainda não fiz uma declaração de amor?
- É por aí mesmo.

- Que papo, Karen! Isso parece coisa do Chico. Deixa comigo, tá?


Achei que sabia. Estava na fila do cinema me virando para entregar a pipoca a Tom, tentava equilibrar o troco e a latinha de refrigerante. Eu sorria enquanto procurava Tom e dei de cara com Bernardo e a peituda, que o segurava como naquele dia no elevador. O sorriso murchou. Ainda bem que Tom não o conhecia. Assim era menos uma explicação para dar antes de apagar as luzes.
Foram apenas poucos segundos de susto e eu estava indo na direção de Tom para que ficasse claro de quem eu estava atrás. Bernardo não fez nenhum gesto que pudesse ser entendido como desejo de se aproximar e nem por isso me saiu da cabeça. Merda! Por que eu não consigo me desligar? Talvez ele estivesse atrás, ou um pouco mais adiante. Pensaria em mim enquanto amassava as coxas da peituda por baixo da saia? Lembraria de mim enquanto a beijava no pescoço?

Tom pegou minha mão algumas vezes, tentou se aproximar na escuridão e ser carinhoso, mas não correspondi, não conseguia. Olhei para os lados. Não, ele devia fazer o tipo que prefere sentar lá no fundo para fazer sacanagem. E eu aqui no meio... Tom cochichou alguma coisa sobre a fotografia, inventei de ir ao banheiro, única desculpa razoável para sair de cena. Só um instante.


- O que é que cê tem, Nininha? Tá inquieta.
- Nada. Vou fazer xixi e já volto.

Fiquei do lado de fora roendo os tocos de unha e esperando o impensável: que Bernardo largasse a peituda no escuro para me procurar. Será que me viu sair? Nem disfarcei que ia ao banheiro. Comprei balas e fiquei andando de um lado para o outro, acendi um cigarro. A menina da bombonière olhou desconfiada porque eu não voltava para ver o filme. Acha que ele vem mesmo? Esquece! Bernardo não apareceu... Pra que voltar lá dentro? Me obriguei, Tom merecia ao menos minha consideração. Mas continuei aérea e fui chupando as balas de caramelo até acabar o pacote.

Fim da sessão. Levantei assim que começaram a passar os créditos e tentei justificar a pressa de correr para casa com uma dor de cabeça. Tom percebeu minha alteração, qualquer um perceberia. Evitei um interrogatório como pude: muitos beijos no caminho, uma cerveja logo depois... Haveria sexo. Sim, haveria. E vai ser como eu quero. Entendi perfeitamente por que puxei Tom para o chão duro e frio. Culpa de Bernardo, daquela noite que nunca ficava para trás, apesar de eu ter certeza de que era passado para ele. O passado de volta para mim...

Tom não entendeu, mas se deixou guiar por meu impulso. De olhos fechados me senti com Bernardo. Me entreguei. E tive a melhor sexo dos últimos meses. Faz assim. Não, é aqui, eu te mostro... Vai, passa a língua devagar... é tão bom... lambe mais... agora com o dedo... mais pra cima.... assim, assim, que gostoso! Espera, mais um pouco pra esquerda... Me chupa, vai. Aí, bem aí... isso! Assim eu vou... gozar, Ber... Tom! Eu vou gozar!!!

Por pouco não falo o que não devia – o nome Bernardo. Assim já era perseguição.


- Nininha, o que cê tinha?

- Nada.

- Cê tava tão cheia de fogo. Nunca te vi assim.
- É que a dor de cabeça passou.


Mas não o desejo por Bernardo. É só fechar os olhos...


terça-feira, 12 de outubro de 2010

relax, don't do it

Libertador é você deixar de fazer aquilo que você acha que está fazendo por vontade, mas é só obrigação misturada com hábito, tudo no piloto automático.

sábado, 9 de outubro de 2010

"tipo"... desnecessário

Você já cruzou com "tipo" por aí? "Tipo" é um sujeito grudento que, sem ser chamado, está sempre se metendo nas rodinhas de amigos. Quando você menos espera lá vem o "tipo" meio disfarçado entre um substantivo ou um adjetivo, sem função, sem-vergonha total. Ele pode se aproximar sem que você perceba e tomar conta da sua língua. Não tema. Desdenhe, afaste-se e siga em frente, pois "tipo" não irá desfalcar seu vocabulário ou deixar saudades.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

quinze

simplesmente

Eu teria demorado mais a aparecer, mas Tom me chamou. Era uma música nova que queria me mostrar. Era? Esperei ele abrir a porta.
- Nininha! - me beijou na ponta do nariz antes de me abraçar.
Estávamos sozinhos no apartamento e eu não sabia se era algum tipo de armação. Não toquei no assunto, sentei ao lado dele.
- Cê tá bem?
Perguntas como essa me deixavam sem rumo. Tudo bem, eu só não sei onde colocar as mãos ou como dizer que aquela noite não dormi pensando no que fizemos. Será que você me entende?
- Tá tudo muito estranho.
- Por quê? Cê acha que a gente não devia ter feito?
- Não! Não é isso, é que agora é diferente.
- Eu sei.
- Me mostra a música, vai. É pra isso que eu vim aqui.
Ouvi em silêncio, encolhida no sofá. Tinha certeza de que era para mim. Por que Tom fazia isso?
- É linda.
- É tua.
- Sério, Tom?
- Quero que cê cante ela e lembre de mim - largou o violão.
- Vou lembrar de você sempre, e não preciso de música pra isso.
- Ô, Nininha...
- Deita aqui.
Tom deitou em meu colo.
- O que você quer fazer?
- Ficar com você.
- Seu bobo, pensei em fazer um miojo pra gente.
- Vem tomar banho comigo.
- Eu?
- Eu esfrego as tuas costas e cê esfrega as minhas.
Com Tom eu não conseguia dizer não, porque ele sabia como me desarmar.
- Então deixa eu tirar tua camiseta, e você tira a minha.
- Cê manda, Nininha.
Tiramos a roupa ali mesmo, nos olhamos. Não procuramos a nudez, mas respostas nos olhos um do outro.
- Me beija, Tom. Me beija de verdade.
Tom me beijou os olhos, um de cada vez. Me beijou as bochechas, o nariz, a testa, o canto dos lábios com uma suavidade comovente.


- Nininha...
- Não diz nada, Tom. Agora não.
Tom calou em meu corpo, em carícias que seus lábios ofereceram languidamente à minha pele, ao meu sexo. Ali, os beijos foram mais intensos, a ponto de sentir que o beijava também, e latejava à medida que lábios e língua cumpriam uma trajetória torturante para me fazer gozar. Obedeci. Mansamente, voluptuosamente, para depois procurá-lo também, estar sobre seu corpo, me movimentando em busca do encaixe, e de novo o olho no olho, o gozo arrebatador que afastou de vez o pensamento de que poderíamos ser apenas amigos como antes.





terça-feira, 5 de outubro de 2010

COISAS E COISAS

Coisa libertadora - passar embaixo de uma escada e desafiar as superstições familiares. Oi, tô aqui. Nada me aconteceu depois disso.

Coisa estúpida - tentar tirar em dois minutos um laço muito bem costurado na blusa nova. Deu no quê? Furo na roupa, lógico.

Coisa doida - trocar de esmalte três dias seguidos, para experimentar as belezuras que mamã trouxe da Alemanha. São 28 ao todo...

Coisa delicinha - provar, gostar e levar, pela primeira vez na vida, um jeans 36.

Coisa chata - estar gripada há mais de uma semana, tossindo, pigarreando e assoando o nariz. Afff...


É por isso que eu digo: uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010