quinta-feira, 3 de março de 2011

trinta e cinco

EM CASA


Pulei de vez para a cama de Bernardo. Era verão, um calor quase impossível de suportar, Caio tinha ido morar no Rio e eu aproveitava a mordomia do ar-condicionado, não ia mais embora. Uma noite levei o violão e a escova de dentes, durante a semana algumas poucas coisas, ele foi deixando. Esqueci – de propósito – uma calcinha pendurada no box para ver o que acontecia. Nada. Ou ele sabia apagar muito bem meus vestígios pela casa ou não tinha realmente mais nada com aquela mulher.

Dez dias se passaram ao som do nosso gozo, a vida fora do apartamento seguia seu rumo e eu não estava minimamente interessada em participar dela. Até que Régis veio encerrar minha temporada de ócio.

No começo da tarde estávamos saindo da cidade para tocar em um festival obscuro em Santos e não me dei conta de que havia deixado o celular na mesa da cozinha e nenhum aviso para Bernardo. Entrei na van e dei de cara com Tom, Alice e dois sujeitos desconhecidos. Passado o susto, olhei para a frente e me senti incrivelmente feliz por estar indo para não sei onde tocar com Tom e Régis de novo.

Foi apenas um fim de semana.

Bernardo demorou a abrir a porta, achei que não estivesse em casa. O cigarro no canto da boca, uma toalha enrolada na cintura. Não vai me convidar pra entrar? Tirei o cigarro de sua boca e dei uma tragada. Eu viva tentando, mas não tinha força de vontade suficiente para largar de vez e Bernardo cheirava a nicotina, o que aumentava ainda mais o desejo. Talvez Tom tivesse razão em querer que eu parasse, mas ainda não era o momento.

Entrei, ele me olhou de lado. O que é que é? Aquele olhar gelado como se eu tivesse feito algo de muito errado. Eu mesma fechei a porta e o segui. Dois dias sem mim te deixaram contrariado desse jeito? Pobrezinho... Depois eu sou a adolescente aqui.

Ele sentou na poltrona e continuou em silêncio, fumando. Fiquei aos seus pés aspirando a fumaça com prazer. Não ia dar explicações para que ele ficasse bonzinho comigo como antes. O caminho da reconciliação era outro, bem mais simples. Coloquei a mão na toalha, ele me segurou. Não vai ser fácil. Muito melhor assim. Insisti e puxei a toalha sem que ele fizesse qualquer movimento para ajudar. Ele me olhou ao tragar, muito rapidamente. Bernardo queria me maltratar com aquela pose indiferente – as pernas abertas, os olhos frios, agora fixos na parede às minhas costas.

Esfreguei uma mão na outra e fui direta. Ele tentou me desprezar, por alguns minutos tenho que admitir que conseguiu, mas a flacidez em minhas mãos foi enrijecendo e senti que ele não seria capaz de controlar sua natureza. De pau duro ele não tinha como me negar nada. Seus músculos iriam se contrair e ele gozaria na minha boca se eu desejasse. Parei para olhá-lo. Agora ele era meu de novo.

E agora?

Tremi por dentro quando ele se levantou. Eu ainda vestida, ele completamente excitado e ainda com raiva de mim. Não deu tempo de dizer nada, eu nem queria, nos beijamos com uma fúria que eu já conhecia – nele e em mim quando estávamos juntos dessa forma. Esse homem rude me sugava os lábios e me puxava pelos quadris. Ele estava assim porque não avisei da viagem? Esfreguei as coxas, continuava bem lubrificada, então... Sussurrei seu nome com docilidade, ele puxou meus cabelos para trás e me olhou. No fundo ainda havia algum resquício de raiva nos olhos dele, não tinha certeza. Bati com a cabeça na prateleira, ele não parou. Um CD despencou, depois outros vieram em cascata. Que estrago! Senti uma dorzinha fina, não na cabeça, mas nos pés. Não olhei, sabia que eram as caixas espatifadas me espetando a pele.

Enquanto Bernardo achava que ia me fazer pagar pelo sumiço, eu festejava sua excitação. Ele segurou meu rosto entre as mãos com força. Vai me estrangular! Talvez ele também quisesse isso, mas me beijou e as mãos afrouxaram.
- Onde você estava?
Eu contra a estante, ele pronto para investir.
- Não interessa!
Eu gostava de brincar.
- Não vai dizer?
Me colocou de costas, colada à parede.
- Não.
E se ele viesse, se ele tentasse me pegar por trás? Recuei, ele me segurou. Não acreditei que ele teria coragem de fazer aquilo para se vingar. Senti que estava tão perto. Eu não tinha saída, quase pedi para ele acabar logo com a expectativa.
- O que você veio fazer aqui? Brincar comigo e ir embora?
Consegui me virar:
- Isso.
Toquei, peguei o pau de Bernardo. Ia explodir de tão duro na minha mão. O azul dos olhos dele estava mais escuro, a veia no pescoço pulsava, o pau pulsava entre meus dedos.

Ele ia falar, mas o impedi tapando seus lábios com os meus. Não havia mais nada que valesse a pena ser dito. Fomos, tropeçando, parando no corredor e nos tocando como se fosse a primeira vez. Como se ele já não me conhecesse há séculos, e eu a ele. O desejo cada vez mais feroz me guiava. Espasmos, eu latejava inteira sobre ele e não queria que terminasse. Mas ele me lambuzou as entranhas e me fez vibrar por alguns segundos e abandonou meu corpo inerte, suado, dolorido, acabado, satisfeito. Ali, na cama dele.

Dessa vez não precisei de um cigarro antes de dormir.





5 comentários:

Eder disse...

UOU! Não sei se era a saudade, mas esse capítulo...
Perfeição, Aline! Parabéns, mais um ves rs

Eraldo Paulino disse...

Senti muita falta da Nina. Aliás, acho que ela se daria muito bem com o meu Canalha rsrs

E adorei a imagem.

Bj!

Nanda disse...

Nossa, digo o mesmo que o Eder! Você caprichou nesse hein garota!rs
Parabéns Alline! Boa semana de carnavaaal! Beijos

Os brejos ao redor de minha alma agreste... disse...

caprichou demais!!!
amei!!!!!
parabéns querida
bom carnaval e melhoras.
bjos carinhosos
fique c Deus
Rita

Alline disse...

Eder:
Sabe que fiquei até triste de não postar naquela semana?

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Eraldo:
Um dia vamos promover um encontro, então. Que tal?

Beijo!

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Nanda:
Queria que tivesse saído semana passada, mas... ainda bem que deu tudo certo. Beeeijo

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Rita:
És sempre querida comigo, assim de graça. Brigada de montão! =DDD

Beijão