quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

trinta e um

BANDA NOVA

Foi tudo culpa de Régis, mesmo que ele não tenha tido intenção de aprontar o que aprontou. Quando cheguei ao apartamento, ele estava fritando batata na cozinha, Samuel e Caio conversavam na janela e Eric picava linguicinha e aipim na mesa da sala.

Eric e Samuel vieram me dar um beijo, Caio me abraçou calorosamente, eu sentia falta desse clima com ele, quase fraternal. Digo, até certo ponto.
- Estava com saudades da minha namorada. Por que você sumiu, hein?
- Acho que você ficou melhor sem mim, meu caco.
- Mas minha cama nunca mais foi a mesma. Eu ainda penso que a gente poderia fazer muita loucura juntos. Eu por cima, você por baixo, nuazinha, rebolando pra mim enquanto eu...
- Para! Eu não te aguento! Você é muito cachorro.
- Diz que não gosta que eu paro de querer me encaixar na sua bundinha pequena e gostosa.
- Você bebeu, né? E parece que tá no cio.
- Nem comecei ainda. Tá vendo como você me deixa?
- Vamos pra cozinha ajudar o Régis.
- Só se você me prometer...
- Cala a boca, vem comigo.

Caio veio, para ficar me bolinando à beira do fogão enquanto eu jogava batatas na frigideira.
- Eu quase amo você, sabia?
A mão me arranhando as costas, a voz oscilando no ouvido, tão musical, me dizendo besteiras sem parar, por querer, me excitando com a proximidade.
- O que você vai fazer hoje à noite?
- Vou pra casa dormir.
- Dorme comigo?
- Eu não quero.
- Não é que esse peitinho arrepiado diz.
- Tá. Então eu me corrijo: Eu não devo.
- Vem fazer um som comigo, Nina. Só eu e você. Estou com uma música na cabeça pra escrever no teu corpo. Ao redor do umbigo. Daquele jeito.
- De repente... ai! Mas dessa vez você se masturba pra eu ver.
- Faço TUDO que você quiser.
- Mas só goza dentro de mim.
- A-ham.
Rimos da batata quase queimada e do nosso atrevimento ao pé do ouvido, a poucos metros de Régis. Ele via e ouvia, mas se fingia de morto. Caio me segurava pelos quadris enquanto eu resgatava as batatas escuras do óleo queimado.

Quando acabamos no fogão, eu só tinha vontade de arrumar uma desculpa e ir embora para a cama de Caio. Não queria mais comer ou beber. Não pensava na chuva lá fora. Mas a campanhia tocou e Régis anunciou que era a surpresa da noite. Mal sabia...

Senti um bolo no estômago quando vi que era Tom. Já não tinha os cachos negros, parecia mais velho e sério de cabelo curto e barba por fazer. Antes eu teria corrido para me agarrar ao peito dele, mas agora não me mexia do lugar, ele não se mexia. Tom, o que fiz com você? Eu tinha vergonha de encará-lo. Vergonha de mim, da minha falta de pudor e de amor.

- Lembra daquele cara ali? Aquele que sumiu de repente e deixou a gente na mão? Agora ele resolveu voltar e quer reunir o pessoal de novo. O Eric e o Samuel estão fora, a gente teria que arrumar outro baterista e ficar com um guitarrista só. O que você acha?

Eu achava que Tom não tinha pensando em me incluir nessa reunião e melhor seria enfrentar a chuva lá fora com Caio

- A gente tem que conversar direito. Vamos ver.

Mil perguntas me passaram pela cabeça. Você quer que eu vá ou que eu fique? Você ainda me ama? Ainda tem raiva de mim? Me aceita de volta? Conseguiu parar de fumar? Quer montar uma empresa de animação de festas? Faz batata frita pra mim? Me leva com você pra sempre?

Era tarde demais. O abraço não foi sincero e mal nos olhamos. Mágoa, mágoa, era tudo que os olhos dele me transmitiam. Na rua me deixei encharcar enquanto as pessoas procuravam as marquises. Eu chorava por ter reencontrado meu parceiro e ao mesmo tempo por tê-lo perdido. Caio não sabia da história, mas respeitou meu silêncio e as lágrimas que se disfarçavam de chuva. Gostei mais dele por isso.

Mais adiante parei, olhei para todas as possibilidades que ficaram para trás. Quase não dava para enxergar nada, mas Caio me guiava. Subi na moto e fui.


5 comentários:

Eraldo Paulino disse...

Toda história boa tem uma parte ou muitas partes ruins...

Acho que a Nina é minha personagem predileta da blogsfera.

Bjs!

Os brejos ao redor de minha alma agreste... disse...

Concordo com o Eraldo...
me deu uma dorzinha no peito pela Nina...
bjos
Rita

Eder disse...

Eu tenho certeza que a Nina é minha personagem preferida, de toda a blogsfera!

Marco Henrique Strauss disse...

Curti. Menos picante, no entanto não menos atrativo. Faço uma pergunta...há algum rastro de autobiografia nisso? Não digo em 100%, mas me uso como exemplo. Há muita coisa que escrevo que não tem nada a ver com minha vida, embora pequenas experiências tidas, ilustram momentos das histórias ou reivindicações. Somente curiosidade. É 100% ficção ou há um rastro "Charles Bukowski" na área? Hahahahaha
Beijo, continue nessa inspiração de criar com a Nina.

Alline disse...

Eraldo:
Nem dava pra ela ficar saltitando a vida toda, né? Esse foi pra quebrar a sequência mesmo.

Beeijooooo!

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Rita:
Ela vai superar, não se preocupe.

Beijos pra ti!

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Eder:
Gostei de ouvir isso! ;)

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Marco:
Cem por cento ficção. Nada a ver comigo, não sei se graças a Deus ou infelizmente. rsrs
Talvez na impulsividade sejamos parecidas. De resto, é cada uma na sua. rs

Beeeeeeeijo