quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

vinte e três

“AMO VOCÊ, MEU LINDA”

O que eu fui fazer? Além de posar na escola, estava sendo requisitada pelo gringo para sessões privadas em seu apartamento. Joguei a roupa sobre a mesa:
- E agora?
O gringo teimoso mais conhecido como Dieter me colocou na cama com seriedade. Primeiro espalhou meus cabelos sobre uma almofada, olhou, arrumou mais um pouco, depois dobrou minha perna esquerda, me abriu os braços. Me senti excitada nas mãos àsperas dele. Bem que a gente poderia... Tentei beijá-lo, ele me pôs na posição de morta na cama e pediu para eu não me mexer. Que tipo de homem se manteria impassível diante de uma mulher nua e disposta ao sexo? O gringo.

Ficamos muito tempo naquilo, eu sem achar graça de estar de olhos fechados enquanto ele me riscava no papel.
- Vai demorar, Diti?
Ele negou com a cabeça sem perder a concentração.
- Tá calor, eu não aguento...
A previsão era de vinte e sete graus, lá fora. Naquele cubículo deveria estar mais de trinta e nem a ausência de roupa ajudava muito. Eu suava atrás da orelha, embaixo do braço, suava entre as pernas porque imaginava o gringo largando o maldito pedaço de carvão e vindo por cima de mim, trazendo seu suor para se misturar ao meu.

Muito tempo se passou até ele dizer que estava bom e me carregar nas costas para o banheiro. Só entendi quando começou a me ensaboar a bunda com uma animação diferente.
- Não, aí não! Só se for com o dedo...
Ele fez pressão. Apesar da voz mansa, senti que ele vinha com tudo e fiquei na defensiva.
- Para, Diti!
Parecia tão simples quando lia nas revistas de Karen. “Peça ao parceiro para usar lubrificante e penetrá-la devagar. Relaxe.” Como se fosse possível. Ele veio de novo, me empurrou contra o azulejo, assim eu sufoco! O que eu faço? Ele dá dois de mim!!! Me mordeu a nuca... Seria maravilhoso se ficasse nas mordidas pelo corpo e depois me levasse para a cama e fizesse um papai-e-mamãe caprichado. Não, o gringo queria ultrapassar fronteiras. Eu talvez quisesse, mas não desse jeito, esmagada contra a parede. Aproveitei o corpo molhado para me livrar do abraço por trás e escorreguei para o chão.
- Deu, gringo.
Ele ainda resmungou em alemão, tinha mania de fazer isso porque sabia que eu não entendia e ele podia falar o que bem entendesse. Foda-se, gringo! Eu não vou ceder, entendeu?

A expressão de menino contrariado só se desfez quando peguei o barbeador descartável e coloquei em suas mãos. Prêmio de consolação. Seria minha segunda vez, a primeira com ele, mas não passava de uma tática para ver se ele tirava meu backstage da cabeça de uma vez por todas.

Saímos pingando do box. Sentei na privada, Dieter se ajoelhou. O sabonete veio molhado para o meu colo, escorregadio. Fiz espuma e espalhei sobre os pelos. Karen iria gostar de ver que eu finalmente cuidava da depilação... ele não entendeu meu riso solto, nem precisava. Com uma bola de espuma branca entre as coxas, pronto, foi só abrir bem as pernas e prestar atenção para ver se ele fazia direito.
- Cuidado, hein!

Os movimentos suaves e cautelosos como se estivesse fazendo a barba me assanharam. Se ousasse me mexer poderia acabar com um corte feio, me segurei. E ele nem me olhava mais na cara. Passou a lâmina em mim, depois passou a mão para ver se o trabalho estava bem-feito, me enlouquecendo. E alisou a pele branca sem pelos.
- Ai, isso é bom, não para, não.
Apertou-a entre os dedos. A pele, todas as dobras, meu botaõzinho... Assim eu me desmancho, gringo. Ele falava “boceta” daquele jeito engraçado que me fazia engasgar de tanto rir.
- Me leva daqui, Diti!

Na cama, dois dedos para me alegrar, depois três. E então a razão do temor se diluiu nesse contato. Parecia não haver mais espaço entre nós, e ele conseguia ir fundo ao meu encontro, e eu, leve e receptiva, o prendia. E soltava, mas não muito. E o gringo sorria, só ali, comigo. Gozou sorrindo, sem estardalhaço. E me fez feliz quando demorou a sair de mim para fumar um baseado na janela.

Desprovida de pentelhos e de vergonha. Foi assim a última vez com Dieter. Ao acordar ele fez as malas para ver a família e resolver algo sobre o visto. Estava saindo com os cabelos desgrenhados e grandes olheiras, corri para ele e fui abraçada, tão forte que doeu.
- Posso ajudar em alguma coisa?
Descemos juntos. Ele levava um envelope pardo nas mãos. Me levava pela mão cheio de mistério, de silêncio. Pela última vez a voz dele, meu rosto entre suas mãos, o beijo que eu não queria que tivesse fim, as palavras mal-pronunciadas na calçada:
- Amo você, meu linda. Tchau.

Voltei a viver, voltei para a escola, os pentelhos cresceram e coçaram, mas não tive mais notícias de Dieter, o meu gringo...



[Mais Nina aqui.]

8 comentários:

Marco Henrique Strauss disse...

"Meu linda" é brabo. Hahahahaha. Gostei do texto; essa tua série é muito boa. Acho que compraria um livro com "as aventuras da Nina". Esse tipo de história me lembra as histórias do Bukowski, não por completo, mas em algumas partes. Fui-me.

Luna Sanchez disse...

Ow, que capítulo delicinha! Pelo que lembro é a primeira vez que a Nina tem um romance com princípio, meio e fim. Gostei de viver essa experiência com ela.

A coisa da depilação sinceramente não me excita. Talvez uma tara por pés (coisa que eu não aprecio nadinha) me animasse mais, sei lá. No entanto foi uma bela tática para tirar o Marquês de Rabicó da reta...ahahahahaha

Um dia ainda descubro porque alguns homens gostam de cobrir as folgas das nossas depiladoras.

Beijo, beijo.

ℓυηα

Luna Sanchez disse...

Opa, esqueci de desejar um fds lindão pra ti, Li. Então lá vai : um fds lindão pra ti!

=D

Muaaahhh!!!

ℓυηα

Eraldo Paulino disse...

Nossa, se já era apaixonado por ela agora que fiquei mesmo.

Concordo com a Luna... nesse capítulo deu pra se envolver diretamente com ela num clímax quase sexual, quissá transcendental. rs

Bjs!

Alline disse...

Marco:
Ahhh, releva essa, vai... o moço era alemão... rsrs
Acho que se fosse publicar mudaria tudo de novo. Estou agora na primeira rodada de mudanças depois que terminei.
Pô, legal essa comparação! Eu leio esse cara, adoro. Texto cru, sacana, às vezes incômodo.
Já valeu. ;)

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Luna, Luninha:
Sentes isso? Achei que foi assim com João, Caio e Tom. Em aberto - Gabriel e Bernardo... acho que são só eles. É muito homem pra minha cabeça! hehehe

Eu queria que o gringo voltasse, mas nem sempre o que quero vira história.

Eu acho interessante (depilação), mas um tremendo desconforto depois. Ai! Me entendes, né?

Sem pelos/pentelhos facilita a vida deles... imagino. ;)

Beeeeeeeeeeeeeijos, Linda! Que o amanhã e o depois sejam como você - co raios de sol.

Alline disse...

Eraldo:
Tudo isso? Tô surpresa. Achava que o gringo não ia render muita coisa. Eu gosto dele com ela, sabia? Será que ele volta?

Beijuuu!!!

Luna Sanchez disse...

Sinto sim, Li. Talvez porque o gringo, para mim, tenha sido aquele tipo de cara, na vida da Nina, com prazo de validade, sabe? Uma relação legal mas rasa, que acaba quando deve acabar e só deixa poucas mas boas lembranças. E também, claro, porque foi pra sua terra e possivelmente nunca volte. Já os outros podem reaparecer a qualquer momento e sendo a Nina assim, livre e leve, sabe como é, néam?

:p

Adoro aqui e adoro tu.

Beijo, beijo.

ℓυηα

Alline disse...

Luna:
O gringo não era pra durar muito, só pra marcar o início de uma situação que começará a se repetir - os moços querem ir por caminhos que a Nina não está interessada em conhecer. Aquelas coisas, sabe?

Alguns voltarão daqui a pouquinho, pra acabar com o pouco sossego dela. E, como disseste, ela é livre e leve para aproveitar.

Que fique bem claro: adoro tu too. =P

Beijuuuuuuuuu!