terça-feira, 25 de novembro de 2008

canção

No muro verde de limo,
o galo canta.
Manhã.
O cachorro olha com curiosidade
os meninos jogarem bola.
Curiosidade canina,
com o pescoço torto,
os olhos brilhando,
ansiosos,
pelo movimento e pela gritaria.
As mulheres estendem a roupa sem pressa.
Colorido desbotado
de roupas surradas para secar ao sol.
As roupas dançam no varal, esperando
todas as gotas caírem mansamente.
O dia é quente.
Sempre.
Os homens saem cedo para trabalhar.
A ladeira continua íngreme e os homens
caminham a passos lentos,
ainda meio adormecidos
no rumo de todos os dias.
As meninas correm pela rua aos pulos,
farfalhando as saias floridas.
Algazarra.
Algumas meninas espiam pela janela.
Clausura.
As mães cuidam destas meninas,
e cuidam da casa
e cuidam do seu homem.
As mães vigiam, se esticam,
espreitam, se contorcem e tudo sabem.
A panela requenta o feijão com arroz.
Os sentimentos nem sempre são os mesmos.
A rua é quase infinita e traz todos de volta,
e os leva no dia seguinte.
O suor escorre pelas rugas
que o tempo suavemente depositou.
Um dia, a vida.

3 comentários:

Pepper Popps disse...

Essa letra me lembrou algumas músicas de Chico Buarque. Adoro músicas que retratem o cotidiano.
Beijos querida! Tomara que seu dia seja mais seco amanhã ;)

Paulo César Nascimento disse...

Belo poema. A poesia é sempre melhor que a vida que representa, não? Bjs

Alline disse...

Pepper:
Se te fiz lembrar alguma música do Chico já tô no lucro. ;)
Valeuuuu!
O dia tá seco, depois molhado, e seco de novo... uma doideira. Vamos pedir pro São Pedro intervir nessa questão. rsrs
Beeeeeijo

Paulinho:
Essa saiu do baú mesmo. A gente é que vê poesia nas coisas mundanas.
Beijo grande