quinta-feira, 2 de junho de 2011

quarenta e oito

São Paulo-Floripa


Cheguei à rodoviária em cima da hora e corri com mala, bolsa e violão, arrastando os tamancos, o som da madeira no piso, eu desvairada. Teria sido mais fácil se não tivesse passado a noite no bar com Régis e Tom. E se depois não tivesse dormido o dia inteiro, e não demorasse tanto para fazer a mala. Foi Chico, Chico me chamou! Não sei por que, foi de repente. Uma ligação, eu preciso de você, vem pra cá, me desculpa, a gente tem que conversar. Ansiedade, dele e minha, tudo caindo por terra.

Eu vou, me espera, vou conseguir um ônibus e chego antes do fim de semana.

Fila mais ou menos grande, era o que tinha conseguido em cima da hora. Sem poder fumar, comecei a roer a unha do dedão com o olhar fixo no sujeito mais à frente. Cara de sono, a barba por fazer, um sorriso cínico no canto da boca. Mas o que realmente me prendeu foi o estojo de guitarra que ele levava. Teria banda? Aqui ou lá? Reparei no pescoço, nas costas, imaginava do que ele seria capaz. Cantando ou... Ele falou com o amigo, não tinha certeza se eu era o assunto, mas gostaria que fosse. Estávamos nos encarando em sinal explícito de tesão. Sorrimos ao mesmo tempo, eu apontei meu violão, ele mostrou a guitarra sem sair do lugar. Passei a língua pelos lábios. Anda, pensa logo em alguma coisa! Uma saída, uma frase inteligente. Nem deu tempo, o motorista apareceu e todos foram se amontoando na porta do ônibus.

Na confusão de gente e malas acabei entrando na frente dele. Poltrona ao lado da mulher que falava sozinha na fila. Assim é castigo... Sentei e fiquei alerta, perturbada, pensando no que fazer em seguida. Ele passou no corredor e me tocou de leve no ombro. Boa viagem. Hã? Pra mim? E agora? Virei para espiá-lo, já estava sentando e eu só via uma ponta do cabelo loiro lá no fundo, fora do alcance. Eu que ficasse imaginando o que haveria por baixo do jeans apertado e fosse me masturbar feito uma alucinada no banheiro do ônibus. O banheiro! É isso!!

A mulher quis saber as horas, tentou puxar assunto e falar do tempo, do calor, do preço das passagens, o diabo. Dez horas, dona. A mulher falava sem parar como se o fim do mundo fosse amanhã e ela tivesse que despejar tudo no primeiro que aparecesse, e continuei fingindo que ouvia. Aproveitei que olhou para o lado para colocar os fones. Ela finalmente se calou, resmungando até cair no sono.

O ônibus estava na estrada, a maioria das luzes foi se apagando, mas eu queria fumar, olhava o relógio a cada cinco minutos. O cara da fila voltou a dominar meus pensamentos. Ali estava eu, voltando para casa sem juízo, de olho no sujeito da poltrona dos fundos. Era quase uma da manhã, e a viagem prosseguia. Antes que fosse tarde demais, tirei a calcinha com cuidado e caminhei descalça pelo corredor, tateando entre as poltronas, procurando-o. Torci para estar acordado. Estava, no banco reclinado. Larguei a calcinha em seu colo e fui para o banheiro como uma criança que acabou de fazer travessura, olhando para os lados toda desconfiada, o corpo fervendo por dentro. Só eu mesmo... Não tranquei a porta, tinha certeza de que ele viria. E veio, com a calcinha na mão e a calça desabotoada. O que significava...

No momento seguinte estávamos atracados no cubículo cheirando à desinfetante barato. A barba dele me espetava a boca, eu nem ligava, me esfregava por querer, para saber como era. Ele era minha despedida, eu devia senti-lo seja do jeito que fosse, até o fim, porque depois seria somente Chico. Para sempre Chico em algum lugar longe de todos.

O cara puxou minha saia até a cintura, eu já quase nua, pode me levar, vai! Me animei quando ele me tateou até encontrar os peitos por baixo da camiseta e endurecer os bicos entre os dedos. Era intenso, quase dolorido, eu quero mais, você me toca mais embaixo, aqui... Ele me ouviu sem que eu dissesse nada e invadiu meu corpo com as mãos. Era o que eu procurava quando entrei ali. Revidei tocando o pau ainda dentro da cueca, rijo, pronto, todo meu. É isso que você tem pra mim? Gostei do que vi, queria ter comentado, mas não tive chance. Antes ele se aproveitou do balanço macio do ônibus para me penetrar de uma vez e só teve tempo de dar algumas estocadas e aí veio uma curva e com a falta de equilíbrio ele saiu de mim quando eu começava a conhecê-lo.

Quando me virei de frente para o espelho, perdi o chão de novo, ele me empurrou contra a parede de metal, foi um baque. Frio. Ele veio, a pressão, corpo retesado e quente, o metal gelado atiçando os peitos. Não fui avisada, pressenti, senti que haveria a invasão. Ele me segurou pelos cabelos, me untou de saliva e investiu. Quanto mais me apertava mais eu me soltava nas mãos dele e aproveitava a sensação desconhecida - por trás. Pensei em Dieter, e em Bernardo, eles quiseram tanto e eu não consegui, estava dando para outro, a bundinha tão desejada para o desconhecido com quem não teria nada, mas para quem dava com prazer justamente por isso. Ele aumentou o ritmo e fiquei imaginando se o ônibus todo tinha acordado com meus gemidos abafados. Tremi, até o ônibus tremeu. Ele me puxava contra o corpo dele e eu ia toda obediente. Outra curva, ele mais forte dentro de mim, apertado, quente, dolorido, eu ia gozar, eu vou gozar. Aguardei, estava vindo o gozo mais inesperado da minha vida. Um suspiro meu, e o som dos freios. Mas ele não parava. Ele não parou até cairmos um por cima do outro, arfando, amontoados no chão que virou parede, e rolamos, nos misturamos e eu o olhei de frente. Ele não sorria mais.

Aquilo tudo não era só um orgasmo.

Fechei os olhos para não ver mais. Meu corpo bateu no dele, me segurei ou tentei, em vão. Estávamos caindo, e eu não tinha medo do que podia acontecer comigo, nem de morrer tinha receio, mas não queria ficar mais tempo longe de Chico. Não, isso não. Por favor. Eu faço qualquer coisa, mas o Chico agora não! O que ele me deu homem nenhum vai poder dar. Eu não posso ficar longe dele, meu corpo pede, meu sexo, minhas entranhas. Chico!!!

A porta do banheiro destravou durante a queda e me acertou em cheio no rosto. Doeu, mas não me importei, a dor era o de menos. Abri os olhos devagar e vi tudo vermelho. Depois mais nada, tudo pesou, eu cansei e pensei que Chico poderia trazer um sonho para mim. Quis chorar, mas não pude. E o tempo e a dor e o gozo se foram de mim. E foi só.




16 comentários:

Alline disse...

Pois é, acabou a jornada da Nina.
Agradeço pelos que vieram, leram, curtiram... etc. rs

Valeu, né?

Mais tarde virá Lola. Depois eu conto direito. ;)

Beijobeijobeijo,
vou eu pra cama.

El Brujo - Rock disse...

É Nina se despedindo nessa viajem lúdica? Vai deixar saudade.
Ela viveu 48 aventuras? Não cinquenta, nem 49... Tinha que ser par porque ela é ímpar...
Quem acompanhou a caminhada de Nina, se emocionou, sentiu junto com ela e como ela cantou, dedilhou a cordas do violão e as suas...
Pra onde irá Nina, onde irá parar, em que mar tsunâmico ira se jogar!
Pra mim ela vai direto pros braços dos deuses, no mar se entregará a Netuno, nas festas Dionisíacas será de Baco, sereias e ninfas farão coro pra ela junto com 300 tanques de back vocal!
Ela irá narrar suas aventuras junto com Narciso a beira do Lago Eco, ecoando seus gemidos, irá compartilhar sua odisseia no mundo dos vivos com Eras, que se excitará com suas histórias e acabará com as forças de Zeus traçando-o no Olimpo, sem dó nem piedade, inspirada por Nina.
Nina desfilará para Eros todas as 300 posições do Kamasutra, com cada um dos 300 tanques guerreiros, mostrando que Afrodite e Psiquê são fichinhas perto dela.
Nina partiu, mas os deuses deixaram uma porta aberta pra que ela retornasse de vez em quando a terra, seja por uma ponte Ali no Olimpo, ou seja aqui no mar, numa das ondas mágicas de Netuno que desliza até a areia!
Até breve Nina se entregue aos braços de Morfeu, que com certeza será traçado por você no fio da navalha!

Alline disse...

Vibrei com tuas palavras, Rock!!! Tu, melhor que ninguém, sabes como colocá-las, como adorno brilhante, delicado e inesquecível. Brigada por estar aqui sempre, comentar e fazer parte dessa odisseia.

Um beijo!

Nanda disse...

Nossa... não tenho o que dizer! Fiquei até triste, mas parabéns por toda essa história tão real, absurda e envolvente Alline! Aguardo ansiosa por Lola! rs

Beijos e ótimo fim de semana!

Alline disse...

Fica assim não, Nanda. Imagina que é melhor acabar enquanto tá bom que esticar até ficar chato e repetitivo.

Depois do último ponto fica um vazio esquisito. O mesmo que sinto quando termino de ler um livro. Vou ficar com saudades da Nina, mas ela tinha que partir.

Vou ajeitar um espaço pra Lola... ;)

Beijos pra ti também, que o fim de semana seja dos bons =)

Eder disse...

Doeu em mim também. Mas, Aline, apesar de triste por não ter mais Nina às quintas, me encho de admiração, e até orgulho, por esse fim. Por essa história. Isso sim é alta literatura!!!
Nina pulsa... Vive sempre! Vou reler tudo de uma ver agora rs

Também aguardo Lola!

Beijo de um fã incondicional!

Alline disse...

Hummm, que legal ouvir essas palavras! Tentei uma história com sexo, e não sexo com nada de história.

Eu já fiz isso outra vez. Parece que faz mais sentido quando a gente lê assim, em sequência.

Lola deve chegar ainda neste mês.

Beeeeeeeeijo

Unknown disse...

E que venha Lola!
Beijos meus !!

Alline disse...

Virá, assim que eu tomar fôlego. ;)

Beeeeeijo!

Luna Sanchez disse...

A falta de culpa da Nina é o que mais me encanta, sabe, Li? E isso fica ainda mais claro na relação dela com o Chico. É um inconveniente gostoso, parece que faz cócegas nas convicções da gente, no que temos de mais íntimo, de mais proibido, negado.

Adoro a Nina, curti muito todos os posts e quero demais esse livro, com aquele autógrafo cheio de charme!

Agora espero pela Lola, já salivando! (Falou a tarada de plantão...ahahahahaha)

Beijos, querida!

Hope* disse...

Aff'Deus Cheguei no fim...
Vou esperar a Lola, nem vou me atrasar...
=)
Abç!

El Brujo - Rock disse...

A saudade antecipada da Nina, já bate forte, tanto quanto as ondas dos mares de Floripa nas praias espalhadas pela ilha!

Que Venha Lola em todo se esplendor e glamour.

Eraldo Paulino disse...

Nina é a mulher dos meus sonhos. A ousadia, a liberdade, a sensualiade, tudo fazem dela um modelo de mulher a ser amada. Possuída sim, mas nunca dominada.

Acompanhei como um adolescente punheteiro cada quinta dessa. E,agora que você anuncia o fim, percebo que ela tem mesmo um quê de pureza nas entrelinhas. Como se o mundo não fosse tão machista, tão cheio de pudores, como se, mesmo o mundo sendo escroto, nada disso importasse de fato.

Nina, eu não tenho ciumes do Chico. E saiba que eu também adoro aventuras em viagens. As dos barcos são as melhores ;)

Bjs, Alline!

Daiany Maia disse...

Eu gostava da Nina. Achava que ela errava pra caramba, mas isso é porque vivia, né? Só não erra quem não se mexe. A gente via a Nina só às quintas, mas tenho certeza que nos outros dias ela vivia como todo mundo. Quero dizer, se jogar numa aventura, ter uma vida sexual ativa não a tornava uma exceção, a tornava humana e só.

vou sentir falta e esperar a Lola!


=*

Alline disse...

Luna:
A gente tinha falado nisso, era o que mais gostava nela também. Esse descompromisso com as regras. Não era querer quebrá-las, ela nem olhava pra isso.

Ai, será que um dia sai? Ia ser engraçado... rs

Lola tá quase lá. Não sei, tô com a impressão de que vai ficar legal. O blog tá pronto, o primeiro post, quase.

Que expectativa!

Beijobeijo!
e que bom te ver or aqui de novo =DD

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por Hope*:
Nina deu o último suspiro pra Lola chegar. Deve ser logo.

Abraço pra ti =)

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Rock:
Gostei dessa visão - saudades, ondas, ilha...

Não irás te decepcionar. ;)

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Eraldo:
Nada disso importava pra ela. Ela amava Chico, ela gostava de fumar, ela às vezes não se depilava... ela me divertia! rs

Hummm... barco? Tás me dando ideia? De repente...

Beijosss!

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Dai:
A imperfeição era o que eu mais gostava e cultivava nela. Estava mais pra vilã que pra mocinha da novela das nove, graças a Deus.

Já, já, Lola está aí.
Aliás, lá, porque vai ter blog só pra ela, a metida. rsrs

Beijão!

Ingrid disse...

obrigada Alline..
gostei do teu blog..
beijoss