quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quatorze

BAILARINA CLOWN


Arrumei trabalho no shopping para não ter que pedir mais dinheiro ao seu Érico. Vendedora em loja de departamento, sempre entediada e sorridente. O que a senhora deseja? A roupa não ficou boa? Claro que você não está gorda! Era o dia inteiro sem ver o sol e louca pela hora de ir ao banheiro fumar. Até que numa tarde Tom apareceu na loja com um suco verde na mão e usando o nariz de palhaço. Me entregou o copo plástico:

- Toma que vai te fazer bem.
- O que é isso?

Nem falava de ele estar usando aquele nariz, estava acostumada, mas do líquido verde e espumante. Meio nojento, parecia grama batida no liquidificador. Só se eu fosse louca para tomar aquilo. Grama líquida com um dedo de espuma clara. Argh!

- Suco de clorofila. A moça disse que dá energia.
- Eu não posso tomar nada agora. Tô trabalhando!

Queria me pendurar no pescoço dele, mas a supervisora me olhava. Bruxa! Escondi o suco atrás do balcão. Eu não podia perder o emprego assim, por causa de Tom-do-nariz-de-palhaço e seu suco verde. Tirei três camisetas da arara e joguei sobre ele:

- Espero que fiquem bem. Se precisar de um número maior é só me avisar.
A mulher se acalmou, achando que Tom era mais um cliente maluco.
- Shhh!!! Depois a gente conversa. E tira esse nariz antes que eu perca o emprego.

Vendi uma camiseta para Tom, que esquentou a bunda num banquinho até a hora de eu sair.
- Você podia ter ligado, né?
- Eu tive doente...
- Doente?
- Doente de saudades!
- Fala sério, seu chato!
- Tô vendo uns contatos pra gente voltar a tocar, Nininha. Mas por enquanto ainda tem palhaçada. Lembra da dona Célia? Ela chamou a gente pra festinha da neta.
- Oba!

Naquela noite, com a ajuda de Karen, costurei várias camadas de tule colorido num corpete, especialmente para o aniversário da menina. Na verdade era surpresa para Tom, o único a quem eu queria agradar. E funcionou.

- Cê tá muito linda, Nininha!

Tom fez o show com o riso frouxo. Dessa vez a dupla Limonada e Canudinho agradou tanto que eu não tinha vontade de abandonar o encantamento - Tom me olhando como se eu fosse uma fada, uma boneca ou um princesa, tanto fazia. Eram olhares cheios de intensidade, e lá no fundo havia também uma malícia disfarçada. Ou era assim que eu queria que fosse? Isso eu ainda iria descobrir.

Fomos atrás de um esconderijo para trocar de roupa, já que os banheiros estavam ocupados. Tem gente! Alguém indicou o quarto da menina, à direita no corredor.

- Não queria tirar essa roupa nunca mais.
- Cê tá parecendo aquelas bailarinas de caixinha de música.

Consegui encará-lo de frente, de baixo pra cima – ele tinha pelo menos uns dez centímetros a mais que eu.

- Me abraça!

Nos aproximamos na penumbra. Ele me beijou na ponta do nariz – de palhaço – e me apertou mais:

- De perto cê fica ainda mais bonita, moça. Tô tonto só de olhar.
- Para com isso...
- Cê sabe, né não?
- Não, me diz.
Eu queria ouvir mais.
- É que eu... eu... eu penso muito em... você, Nininha. Isso é muito... muito...surreal, eu não sei o que fazer. Cê é minha amiga, minha companheira de bar. Não queria que fosse diferente. Mas não consigo parar de pensar.
- Eu também tô assim, Tom.

Foi esquisito quando Tom veio ao meu encontro. Eu esperei apenas, entreabri os lábios com os braços caídos ao lado do corpo. Ele não tinha pressa de chegar e me envolver, sua maquiagem foi se misturando com a minha, o branco o vermelho e o preto, a língua, o gosto, o cheiro, uma mistura lenta que me acendeu.

Tom se afastou, hesitante:

- O que cê acha?

- Eu acho que você deve continuar me beijando, uai...

Tomei iniciativa de outro beijo sem medo de parecer afoita, achei que Tom precisava de um empurrãzinho para ir em frente, e continuei. Desci a mão pelo peito dele até o umbigo e tudo mudou. Ele passou a abrir os colchetes na parte de baixo do corpete me olhando nos olhos. Fiquei com a saia de tule colorido torcida na cintura, ele perdeu a cartola e deixou a calça ir parar nos pés. E eu que pensava que conhecia Tom... Nunca tinha visto esse estado de excitação antes e não estava disposta a perder tempo analisando a situação, queria que acontecesse e pronto. Ponto.

Se dona Célia nos visse! Deitamos na cama de Talita, sobre a colcha de cetim rosa cheia de babadinhos. Em silêncio, estávamos em horário de trabalho! Senti quando Tom se acomodou com pressa dentro de mim. Ele entrava e saía inteiro, suava, me encarava em busca de palavras. Eu não tinha o que dizer, gemia baixinho com os pés em suas costas. Me segurei na colcha, nos braços dele, aos poucos fui sentindo a cama tremer, a boca tremer, o corpo quente, uma contração forte, mais uma. Aí vem! Tremores que quase me fizeram rasgar a colcha rosa de cetim da menina... Já pensou?

Levantei molhada, meio sem jeito, ele me seguiu. Não havia lido nenhuma revista que explicasse o que dizer a um amigo depois do sexo, nem sabia onde colocar as mãos! Tom foi mais rápido:

- Vamos tirar esses borrões da cara e tomar uma cerveja com a dona Célia, Nininha?
Tom amigo e pacificador de volta.
- OK, Tom – coloquei uma calcinha limpa. O corpete branco e a saia de tule foram para a mochila com outros sonhos.



9 comentários:

Luna Sanchez disse...

A gente sempre busca algum encantamento para usar de p(l)ano de fundo para o tesão doido, né, Li? Não acho que isso seja exclusivo dos românticos assumidos, e sim de todo mundo que dá valor aos momentos de intimidade, inclusive aos mais breves e inusitados. A Nina também buscou e por isso caprichou no figurino.

Achei bonito. Quente, excitante como todas as passagens do teu livro, mas com ternura e maquiagem de palhaço misturadas.

Adorei! Simples assim.

Beijocona Master!

ℓυηα

Daiany Maia disse...

Por que será que a gente já fica feito retardada torcendo pros dois ficar juntos?

0.o

Acho que tenho síndrome de novela de Manuel Carlos.

beijo

Marco Henrique Strauss disse...

Teus textos como sempre, bons. Essa série ai então...
Parabéns e vê se não acaba com ela tão cedo. HAHAHAHAHAHA
;D

Eraldo Paulino disse...

Nina, Nina...

Eu sei que vocÊ existe!

Bjs!

Alline disse...

Luna:
Esse foi o cara mais fofo que eu consegui pra Nina, e a parte deles é uma das minhas favoritas.

Eu adoro palhaço, e quis que o Tom fosse por esse caminho - da simplicidade, do bom humor e do carinho.

Adorei que tu adorou!

Beijos faceiros... =D

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Dai:
Eu adoro o Tom, sabe? Ele é o par ideal da Nina, mas muita água ainda vai rolar debaixo da ponte. ;)

Eu sei que a vida nem sempre nos brinda com finais felizes, mas nos filmes de amor eu gosto de beijos, abraços e sorrisos antes dos letreiros. Nada de Pontes de Madison, pelamorde. rsrs

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Marco:
Estamos quase na metade, então Nina ainda vai incomodar bastante.
Valeu, viu? =)))

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Eraldo:
Nina existe, sim, na minha, na tua, na nossa imaginação.

Beijooo!

Flávia Fayet disse...

To aquiiii! Hehehe Desculpa, ando sumida mesmo! Tenho postado no blog sempre correndo, mal da tempo de ler os outros, comentar entaoooo nem se fala! Mas sempre do uma espiadinha por aqui, vc tb anda sumida ne? Beijaooo tudo de bom pra vc!!!

dade amorim disse...

Gostei daqui à vera.
Você escreve que é uma beleza.

Beijo!

Alline disse...

Flávia, somos duas! Pior que dá uma cuuulpa, porque vontade não falta.
Vou ver se corro menos. ;)

Beeeeeijo!

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Dade, Dade, muito obrigada. Fique sempre à vontade se quiser voltar.

Beijo!

Ricardo Rayol disse...

Isso nunca rolou com minhas amigas... :(