quarenta e sete
Sem drama
Saí da cama. Era cedo, devia ser, mas não havia um relógio por perto. Leoni dormia de braços abertos, saciado de mim. Era o segundo consecutivo que o via dormindo nu do meu lado. Vesti a calcinha e fui até a janela. Não chovia mais.
Achei que depois do fim de semana ir embora era o que eu tinha que fazer. Assim, recolhendo as coisas do chão e indo sem deixar rastro. Por algum tempo ia enfeitar as paredes do apartamento dele e excitá-lo com lembranças da sua boca beijando meu sexo, do meu sexo invadindo sua boca. Saber disso me deixava feliz. Também teria a impressão de que meu corpo ia ficar lá, aprisionado nas paredes da sala. Mas eu não era dele, não devia ser assim.
Eu ia deixar esse bilhete no criado-mudo. Escrevi olhando o corpo inerte na cama. Não tinha certeza se alguma vez ele quis saber meu telefone. Acho que não. A calcinha que usei aquele dia no museu ficou com ele em algum lugar, não vi mais. Vesti a camisa usada que seria minha lembrança dele e do museu. Cheirava a perfume e suor. Deitei sobre seu corpo para me despedir. Ele meio que dormia ainda, mas seu corpo respondeu rápido à pressão do meu.
- Você já vai?
Fiz que sim com a cabeça antes de oferecer meus lábios.
- Toma um café comigo. Daqui a pouco a Lola vai chegar.
Abri um p0uco a camisa e ofereci também o bico dos peitos. Ele provou.
- Quem é a Lola? Teu casinho?
- Uma amiga.
As mãos me seguravam por trás.
- Fotografou ela? Não mente!
Deitada sobre ele sentia-o excitado. Enfiei a mão entre nossos corpos para tocá-lo.
- É aquela da entrada.
Aquela de cabelos pretos, duas pequenas cerejas tatuadas sobre os seios, a pele muito branca, a carne rosada onde ninguém podia ver. Fiquei curiosa.
Lola veio e era como na foto. Eu ainda usava a camisa, Leoni estava nu. Tomávamos café, eu no colo dele. E Lola se aproximou, tomou um gole de café da caneca dele e o beijou na boca e me olhou e me provocou:
- Vamos ser nós três?
Não me assustei, sorri. Passei manteiga em uma fatia de pão e ofereci a ela. Lola lambeu toda a manteiga antes de colocar a massa branca na boca, e mastigou e ficou com o batom vermelho todo sujo de farelos de pão. E comeu mais duas fatias cheias de manteiga antes de me beijar. Eu sabia que ela faria isso, estava ansiosa. Ela não. Seus lábios carmim se apoderaram dos meus, deram-lhe a mesma cor dos seus e o gosto de café com pão e algo mais.
Ela conversava comigo enquanto abria cada botão da camisa de Leoni e ria do pau duro dele.
- Acho que você vai ficar para depois, baby.
Fiquei o tempo todo no colo dele. Lola se ajoelhou por mim. Leoni me segurou pelas coxas abertas, a mão provocadora nas virilhas, tão próxima de onde queria que fosse. Mas agora era a vez dela. Apoiada no peito dele, deixei que Lola sentisse que eu correspondia com meu sexo que se contraía e tremulava às carícias que me impunha. Nada parecia combinado, mas fazia sentido. Tinha que ter acontecido Lola pra mim, em mim. A boca grande de batom que continuava manchando por onde passava e me torturou por muito tempo antes de me permitir o gozo.
A manhã já ia longe quando fui para o quarto com Lola, querendo, ansiando prová-la de qualquer jeito. Leoni nos seguiu sorrateiramente, porque sabia que mais cedo ou mais tarde não resistiríamos ao apelo de sua excitação explícita de homem. Fomos três na cama que rangeu sob o mesmo desejo. Leoni dentro de mim, dentro dela, ela dentro de mim, eu dentro dela.
Quando fui embora, eles brincavam com a câmera. O bilhete ficou lá no criado-mudo, eu levei e usei a camisa, e não esqueci mais Leoni e Lola.