vinte e cinco
E QUANTO MAIS EU DESEJO
Chico estava de costas, trabalhando a massa na cozinha e não me viu entrar. Abracei-o por trás, agarrei-me ao corpo, ao cheiro, às saudades que só eu conhecia. Ele levou um susto e me abraçou timidamente, era o jeito dele. Não ficamos muito tempo, mas foi o bastante para eu senti-lo perto de mim de novo.
- Achei que você vinha mais tarde. Vou fazer um bolo. O pai vai trazer salgadinhos mais tarde.
- Vim te ver, não vim comer, seu bobo.
Ele se afastou e limpou as mãos:
- Tô te sujando com a farinha. Como estão as coisas por lá?
- Tudo certo. A Karen sempre pergunta de você. Ela só não veio porque tem que terminar umas roupas.
Cheguei perto de novo.
- Ela está bem?
Eles quase tinham namorado uma vez, mas Chico era muito pacato para os padrões dela.
- Acho que sim. Por que você não vai visitar a gente uma hora dessas?
- Pode ser. Eu vejo com o pai uma folga.
Passei o dedo na massa. Chico ficava bravo quando eu fazia isso, mas nunca liguei.
- Nina!
- O que é, Chico?
- Não faz isso, não.
Sentei na pia, ao lado dele e fiquei vendo-o trabalhar. Chico não era complicado, nem um pouco. Era assim que eu gostava dele, sem subterfúgios.
- Tem uma bebida aí?
- Tem um vinho aberto no balcão da sala. É do pai, mas pode pegar. Não vai sair com teus amigos?
- Hoje não. Quero ficar com você. Me conta o que você tem feito além de cuidar da padaria.
Fui pegar o vinho. Bebemos na caneca dele, a amarela. O bolo foi para o forno. Só depois ele contou, meio sem querer, que estava saindo com a filha do seu Adão, vizinho da frente. Tive vontade de furar os olhos dela, mas bebi um grande gole e me ofereci para lavar a louça. Chico não me deixou fazer nada, queria que eu descansasse.
Meia garrafa depois estávamos tagarelando e rindo enquanto o forno esquentava a cozinha e o bolo não ficava pronto. Seu Érico chegou com um pacote de empadinhas para mim, me beijou a cabeça. Reclamou que eu não ligava nunca e foi dormir. Ele também tinha bebido.
Chico tirou o bolo do forno com cuidado e enfeitou-o com chocolate e morangos. Só pra mim!
- Vem, vamos dormir.
- Na minha cama ou na sua?
- Não começa, Nina.
- Vamos conversar, não tô com sono.
- Tá bebinha, né?
- Pouquinho. Você também tá diferente, mais alegre.
- Me deixa quieto, tenho que acordar cedo amanhã.
- Ah, até no dia do meu aniversário?
- Não é feriado.
- Mas devia.
Ele seguiu para o quarto, fui atrás antes que fechasse a porta na minha cara e pulei na cama.
- Sai, Nina. Olha como fica apertado.
- Ai, Chico, você tá muito chato. Mas não vou achar ruim, porque você bebeu.
- Tá, fica aí e não me incomoda.
A cada tentativa de aproximação, Chico se encolhia mais. Meu irmão realmente não queria saber de brincadeira. Depois de me acariciar o rosto caiu no sono assim de repente. Coitadinho, estava cansado mesmo. E eu, o que eu faço? Gostaria de me aninhar ao peito dele e adormecer docemente, mas Chico me agitava por dentro, e eu tinha bebido. Precisava me esforçar. Fechei os olhos, pensei na música que ele cantava para mim, pensei em ir à praia se desse sol, pensei em levantar e lamber a cobertura do bolo, e talvez comer um pedaço com café. Apaguei a luz, estava tudo tão silencioso que me deu vontade de cantar. Eu poderia dormir, se quisesse. Eu quero, eu vou ficar quietinha e dormir aqui com o Chico. Os olhos pesaram, e dessa vez achei que daria certo. Eu ia conseguir permanecer inerte, silenciosa, obediente, ia deixá-lo em paz. Ia deixá-lo... mas um carinho entre irmãos não seria nada de mais.
Toquei sua boca bem de leve com a ponta dos dedos, ele não se mexeu. Tinha medo de que a porta se abrisse e seu Érico viesse com a cinta na mão, mas não parei, usando a desculpa de que tinha bebido e não tinha mais freios. Encostei a língua, forcei um pouco, me afastei para ter certeza de que ele dormia. Ele dormia, a respiração longa e baixa no meu nariz. Levantei a camiseta e levei meu peito até o peito dele, meu mamilo enrijeceu, levei até sua boca. Não, eu não tinha ficado louca, nem um pouco, queria experimentar a proximidade que ele evitava. Ele fechou os lábios ao redor do bico, senti a língua molhar rapidamente a pele, depois se recolher. Susto. Baixei a camiseta e me virei, apavorada com o desejo de ir adiante apesar do medo de Chico acordar. Só impressão, porque ele continuou imóvel. Eu não aguentei, eu não pude, eu esqueci de quem eu era, dos laços, do que havia além do quarto. Eu beijei, confesso que beijei meu irmão! E ele correspondeu, no início, com um beijo terno. E eu me aproveitei desse entorpecimento para tirar a minha roupa, a roupa dele, e deitar sobre seu corpo e ali ficar, esperando a fusão, a mistura, o fim da distância e das proibições.
Mas Chico acordou e me bateu, me jogou contra a parede. Ser recusada por ele daquele jeito doeu tanto que me recolhi na beira da cama e chorei.
- Por que toda vez você faz isso?
- Porque eu amo você... tanto.
- Isso não é certo, será que você não vê? Não dá pra ser assim, não pode ser assim.
- Eu sei.
- Eu não queria bater em você.
- Mas bateu.
- Quero que você fique bem, só isso.
- Tenho medo de não ficar bem sem você.
- Vai ficar.
Outra vez Chico me consolou. Vestiu minha roupa e me botou na cama. A dor que eu sentia se desfez com os carinhos dele, e não insisti para ele ficar. Ele cantou para mim, e eu parei de pedir e querer, eu apenas dormi.
8 comentários:
Eu já fico aqui, nas madrugadas de quinta, atualizando o blog toda hora, pra ler logo o próximo capitulo.
A história da Nin é linda demais, Nina é uma mulher nua de muito mais que roupa.
Beijo Aline!
oi princesa.
Desculpe por minha ausencia indesculpável...
nossa q texto!
lembrou-me um livro do João ubaldo, mas o seu texto ñ é nada vulgar mas dá mta vontade de ler e refletir sobre tudo.
bjos
feliz natal
fique c Deus
Rita de Cássia
lindo.terno.gostei demais
Eu posso dizer, EDER, que é por comentários como o teu que escrevo. Não é pra ganhar dinheiro, é pra entreter, divertir, dividir.
Brigada por vi. ;)
Beeeeeeijo!
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Ô RITA, Não se desculpe, estamos todos nesse movimento insano da vida, pra lá e pra cá.
Esse de que estás falando será "A casa dos budas ditosos"? Li, mas há tanto tempo os detalhes da história se perderam na memória.
Boa lembrança a do João Ubaldo! =D
Beijão, querida, e que o Natal seja de paz.
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Brigada, RAGI! Estou tentando falar de sexo com alguma leveza. Na maioria das vezes, pelo menos. ;)
Beeeeijo
mel dels... Amei... Imaginei tudo e fiquei aki pensando como seria... rs... Muito bom te ler nessa noite entediante de sabado. Beijo.
Que bom, NINI, porque essa história vai muito mais adiante.
Beijo pra ti! ;)
Bom texto. Parabéns!
Ah, Chico, por que tu não é sonâmbulo?
Sem mais, Li. Não posso me estender muito neste comentário...ehehehe
(Amei, como sempre!)
Beijo, beijo.
ℓυηα
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