quinta-feira, 14 de outubro de 2010

dezesseis

É SÓ FECHAR OS OLHOS

Eu já não me considerava mais a amiga de mesa de bar, mas não podia afirmar que havia virado a namorada convencional, do tipo que usa anel de compromisso e liga para dizer que está com saudades. Ai, Tom, o que gente foi fazer? Éramos acima de tudo dois palhaços sem amarras, sem destino e sem juízo, ligados por uma mágica inexplicável.

Mas Tom não se contentou com isso, quis mais do que eu podia dar. Que necessidade maluca essa de usar palavras para mostrar o que eu já sabia. Para quê? Por quê? Baixei os olhos quando disse que me amava e continuei escovando os dentes, depois prendi o cabelo. Deixei a toalha cair para provocá-lo e corri para debaixo dos lençóis. Fiz de conta que nada foi dito, era melhor para nós dois, e Tom parou de falar de amor e veio se aninhar em meus cabelos e procurar meu beijo, meu corpo, o que eu tinha para lhe oferecer.

Karen me chamava de imatura e aproveitadora.
- Como é que você transa com o cara que é teu amigo? Até ontem ele ficava aturando tua choradeira por causa de outros caras.

- Qual é o problema? Só porque eu ainda não fiz uma declaração de amor?
- É por aí mesmo.

- Que papo, Karen! Isso parece coisa do Chico. Deixa comigo, tá?


Achei que sabia. Estava na fila do cinema me virando para entregar a pipoca a Tom, tentava equilibrar o troco e a latinha de refrigerante. Eu sorria enquanto procurava Tom e dei de cara com Bernardo e a peituda, que o segurava como naquele dia no elevador. O sorriso murchou. Ainda bem que Tom não o conhecia. Assim era menos uma explicação para dar antes de apagar as luzes.
Foram apenas poucos segundos de susto e eu estava indo na direção de Tom para que ficasse claro de quem eu estava atrás. Bernardo não fez nenhum gesto que pudesse ser entendido como desejo de se aproximar e nem por isso me saiu da cabeça. Merda! Por que eu não consigo me desligar? Talvez ele estivesse atrás, ou um pouco mais adiante. Pensaria em mim enquanto amassava as coxas da peituda por baixo da saia? Lembraria de mim enquanto a beijava no pescoço?

Tom pegou minha mão algumas vezes, tentou se aproximar na escuridão e ser carinhoso, mas não correspondi, não conseguia. Olhei para os lados. Não, ele devia fazer o tipo que prefere sentar lá no fundo para fazer sacanagem. E eu aqui no meio... Tom cochichou alguma coisa sobre a fotografia, inventei de ir ao banheiro, única desculpa razoável para sair de cena. Só um instante.


- O que é que cê tem, Nininha? Tá inquieta.
- Nada. Vou fazer xixi e já volto.

Fiquei do lado de fora roendo os tocos de unha e esperando o impensável: que Bernardo largasse a peituda no escuro para me procurar. Será que me viu sair? Nem disfarcei que ia ao banheiro. Comprei balas e fiquei andando de um lado para o outro, acendi um cigarro. A menina da bombonière olhou desconfiada porque eu não voltava para ver o filme. Acha que ele vem mesmo? Esquece! Bernardo não apareceu... Pra que voltar lá dentro? Me obriguei, Tom merecia ao menos minha consideração. Mas continuei aérea e fui chupando as balas de caramelo até acabar o pacote.

Fim da sessão. Levantei assim que começaram a passar os créditos e tentei justificar a pressa de correr para casa com uma dor de cabeça. Tom percebeu minha alteração, qualquer um perceberia. Evitei um interrogatório como pude: muitos beijos no caminho, uma cerveja logo depois... Haveria sexo. Sim, haveria. E vai ser como eu quero. Entendi perfeitamente por que puxei Tom para o chão duro e frio. Culpa de Bernardo, daquela noite que nunca ficava para trás, apesar de eu ter certeza de que era passado para ele. O passado de volta para mim...

Tom não entendeu, mas se deixou guiar por meu impulso. De olhos fechados me senti com Bernardo. Me entreguei. E tive a melhor sexo dos últimos meses. Faz assim. Não, é aqui, eu te mostro... Vai, passa a língua devagar... é tão bom... lambe mais... agora com o dedo... mais pra cima.... assim, assim, que gostoso! Espera, mais um pouco pra esquerda... Me chupa, vai. Aí, bem aí... isso! Assim eu vou... gozar, Ber... Tom! Eu vou gozar!!!

Por pouco não falo o que não devia – o nome Bernardo. Assim já era perseguição.


- Nininha, o que cê tinha?

- Nada.

- Cê tava tão cheia de fogo. Nunca te vi assim.
- É que a dor de cabeça passou.


Mas não o desejo por Bernardo. É só fechar os olhos...


8 comentários:

Eraldo Paulino disse...

rsrrs

Tá valendo! A dor de cabeça inocenta as pessoas BOAS!

bJS!

Eder disse...

HAHAHA'
Po... a Nina tem fogo pra três, hãn? O melhor é que não se consegue pensar nela como uma libertina, por assim, dizer, ela é mais, é livre, é FODA HAHA'

Adoro essa história, Aline.
Beijo!

Daiany Maia disse...

A gente pode ficar aqui torcendo ou é síndrome de novela? Não quero que el fique com esse Bernardo folgado não, viu?!

:P

beijo

Daiany Maia disse...

A gente pode ficar aqui torcendo ou é síndrome de novela? Não quero que el fique com esse Bernardo folgado não, viu?!

:P

beijo

Michele Pupo disse...

Alline

Te enviei por e-mail um endereço de um concurso literário. É hora de você publicar este livro moça!

Luna Sanchez disse...

Hummmm...o Bernardo ainda povoa os pensamentos da Nina ou foi o súbito encontro que deu o start? Às vezes já nem lembramos mais do vivente mas basta ver que tudo se bagunça dentro da gente, né?

Seria bom se ela trepasse mais uma vez com ele, só pra tirar a prova dos nove...rs

Beijão, Li!

ℓυηα

Daniel Costa disse...

Alline querida, adoro os seus textos, e sou muito fã da Nina, rsrs

Também acho que é hora de publicar isso de forma impressa, porque é excelente.

Sei que não venho muito por aqui comentar, mas sempre leio as novidades hein

Beijos e parabéns!! =D

Alline disse...

Eraldo:
Acho que não é muito o caso dela, não, mas... tá valendo. ;)

Beijo!

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Eder:
Essa era minha intenção, sabia? Livre, mas também um tanto inconsequente, imatura, irresponsável... rsrs

Beijo!

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Dai:
A cada hora eu torço por um diferente. São tipos diferentes, emoções diferentes, situações bem distintas. E ainda surgirão outros personagens. Ai, ai, ai. rs

Beeeeeijo

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Michele:
E eu respondi. ;)
Bem que eu tentei. Essa história já tá aqui. Só se um dia virar meu "melhor na internet".

Valeu mesmo, viu?

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Luna:
Ele povoa o pensamento e outras partes também. rsrs

Esses viventes são pessoas perigosas, mas somos nós quem damos esse poder a eles, não?

Ai, será que eu dou pista? Melhor não, né? =P

Beijo, beijo, beijo!

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Dani:
Tô vendo que as aventuras da Nina estão fazendo sucesso por aqui... ainda devemos tê-las por aqui até o fim do ano.

Bom, não achei muitas editoras que recebessem originais, e a versão anterior era mais, digamos, heavy. hehehe

Beeeeeeeijo, e parabéns pra ti, que escreves bem - e em quantidade. Também quero. =P